C.P 52

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Piscicopata

Seus cabelos molhados caíam sobre seus olhos negros e sua tentativa de ignorar o maldito e estranho aperto no peito não estava funcionando. O que havia dito para Benna há três dias atrás fez o clima entre os dois se tornar tenso à cada vez que se esbarravam na grande casa escura.

Ela estava estranha. Parecia haver se fechado. Nas poucas vezes que ele olhava para seu rosto, seu semblante era sério. Sem qualquer resquício de bom humor.

Ele havia penetrado fundo em seu ego, deixando-a sem escolhas à não ser simplesmente ignorar a existência dele e abrir a boca apenas quando realmente necessário. Quando achasse necessário,  por que diversas vezes que ele comentava, falava ou perguntava algo, era como se ela não tivesse ouvido.

E isso estava deixando-o puto.

Nunca havia sido ignorado daquela maneira. Por ninguém.

Nem mesmo quando queria ser ignorado. Quando andava na rua (apenas quando era necessário) ele queria muito ser ignorado, mas seu capuz preto e sua máscara diferente chamavam atenção. E isso era uma droga.

Mas agora... Agora não queria, de forma alguma, ser ignorado, ainda mais por ela. Mas também não entendia por que diabos se importava tanto com isso. Era insignificante para ele. Não fazia diferença. Pelo menos não deveria fazer.

Mas a frustração estava corroendo o minúsculo fiapo de paciência que possuía. Depois do que disse, eles simplesmente não se falaram mais. Ele não ouviu mais a voz dela.

Achava que precisava fazer algo. Fazê-la falar, pelo menos. Sabia que não seria difícil, tinha plena certeza disso. Mas para ficar ainda mais irritado, também não queria força-lá a nada.  E isso era outro fator que não deveria se importar. Mas para sua infelicidade e decepção, se importava. Por incrível que pareça, se importava.

Suas saídas atrás de pessoas para matar eram a única solução que via pertinente para parar de pensar naquela situação. Pelo menos durante a tortura.

Mas afinal, por que estava pensando tanto naquela mera situação? Não havia se arrependido do que havia falado para ela, pois estava falando sério. Não é por que eles haviam se beijado, que ela imediatamente iria ter o direito de tirar a máscara dele e ouvi-lo falar sobre sua vida. Não, definitivamente não.

Então ele ignorou a frustração que o consumia e o estranho e maldito aperto do peito -que achava ser o peso de ser ignorado- e saiu do banheiro.

Quando se vestiu, colocou um cigarro entre os lábios e encostou as costas na parede de seu quarto, sua cabeça doía e sabia exatamente o que fazer para aquela dor desaparecer. Mas estava cansado, olheras profundas apareceram embaixo de seus olhos negros e seus músculos não deixaram de ficar tensos desde que aquela merda de ser ignorado começou.

Tendo em vista que, ele poderia ir até ela e obrigá-la a falar com ele. Por que ele simplesmente podia.

Mas não queria fazer isso.

Não queria cometer esse ato ridículo e vergonhoso. Afinal, por que diabos se importava tanto com aquilo!? Por que aquela situação generalizada na sua mente não se dissipava de uma vez?

Não estava entendendo nem a si mesmo.

Sabia exatamente como fazer e o que fazer para parar de pensar naquilo. Mas não queria.

Um Piscicopata Apaixonado 2 Where stories live. Discover now