C.P 40

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Benna

Parecia novo.

Benna conseguia ver seu reflexo abatido no pequeno objeto circular. Era particularmente bonito.

Ele era misterioso. Muito misterioso. Benna não sabia absolutamente nada daquele homem. Só sabia que ele matava pessoas. À sangue frio.

Sempre tão neutro. Com a postura ereta e a pose de assassino durão.

Era, definitivamente, misterioso.

Misterioso como Plutão.

Desde que foi descoberto em 1930, plutão foi considerado um grande mistério. E ele era como Plutão, desde que Benna havia sido sequestrada por ele, ele era um grande mistério.  Pois já estava ali à cinco meses, quase seis. E até agora, não sabia praticamente nada dele.

Mistério, segundo o dicionário, é tudo que tem causa oculta, incompreensível ou desconhecida, inexplicável, enigma. Mas à mistérios que não são tão misteriosos assim, e ele poderia fazer parte desses mistério não tão misteriosos. Pois além da aliança na caixa, havia também um envelope.

E Benna acreditava que naquele envelope havia coisas que explicariam todas as suas dúvidas sobre ele.

Ela não soube quanto tempo ficou analisando o anel, mas soube que era hora de sair dali.

Benna colocou o anel na caixinha cinza e colocou-a no mesmo lugar, em um canto da grande caixa azul escuro. Pegou o envelope com pressa.

Não deixaria essa chance se esvair por entre seus dedos.

O envelope estava completamente lacrado. Enrolado por fitas transparentes que o contornavam diversas vezes. Benna soltou um murmúrio de descontentamento e respirou fundo.

Se abrisse aquele envelope, certa e obviamente ele saberia. Não havia modo de abri-lo e deixa-lo parecendo intacto.

- QUE PORRA VOCÊ ESTA FAZENDO AQUI??? - Benna sentiu seus pelos dos braços e da nuca arrepiarem e um frio agonizante no estômago. Seus olhos se arregalaram automaticamente e seu corpo paralisou.

A única coisa que conseguiam ouvir naquele momento, era a respiração descompassada dele. Talvez pela raiva. 

Ele não disse ou gritou mais nada. Ela não ousou olhar para trás. E com o corpo completamente paralisado, era ainda mais perceptível suas mãos trêmulas.

Um buraco negro. O buraco negro se forma com uma quantidade tão grande de massa que nada escapa da atração de sua força  de gravidade. Naquele momento,  foi como se um imenso buraco negro estivesse no quarto escuro, engolindo a fala das duas almas que ali habitavam.

Torturantes minutos depois, ela ouviu passos dele se aproximando rapidamente. Seus músculos enrijeceram e sua voz estava fraca quando conseguiu dizer:

- Eu... Não foi minha intenção mexer... nas suas... coisas quando entrei aqui...

Ele puxou o envelope branco de sua mão com força, quase o rasgando ao meio. Benna o encarou perplexa pela quantidade de fúria que havia em seus olhos negros.

- Que porra você veio fazer aqui, afinal? - ele falou alto, colocando o envelope dentro da caixa azul e a tapando com a tampa preta.

- Eu vim... É... uma camisa! Eu precisava de uma camisa e... a caixa... eu peguei a caixa do fundo do guarda roupa por que achei que não... achei que tinha camisas dentro dela.... E...

- Você é uma péssima mentirosa! - ele gritou, interrompendo-a e pegando em seu braço fino. Levantou Benna num impulso para cima e saiu praticamente arrastando-a do quarto.

- Você vai aprender a nunca mais meter as suas mãos nas minhas coisas! - ele gritava enquanto a arrastava à força para o porão.

- Não! De novo não!!! - Benna gritou quando ele abriu a grande porta de madeira velha, seu coração batia com força e lágrimas começaram a brotar na borda de seus olhos claros.

- Para!! Eu não vi nada naquele envelope, eu não vi nada!!! - ela gritava enquanto ele à arrastava escada abaixo, apertando cada vez mais seu braço.

- Você viu mais do que deveria! - ele gritou ainda mais alto. Em seguida jogou Benna com força no chão, fazendo seu corpo miúdo arrastar até relar na parede suja e sua cabeça bater com força no concreto.

- Você vai ficar aqui sem comer e muito menos beber algo até quando eu permitir! - ele gritou e sua voz saiu carregada de raiva.

Benna mantinha a mão na cabeça quando olhou para ele. Sua respiração estava descompassada e lágrimas molhavam seu rosto pequeno. Seu olhar transmitia puro desespero.

E raiva.

- Eu odeio você!! - ela gritou com força e sua cabeça doeu ainda mais.

Ele lhe deu as costas e caminhou para fora do porão. Seus passos foram apressados. Suas mãos estavam fechadas em punho e sua mandíbula tensa, assim como seus ombros largos.

E ele saiu do porão, trancando a porta do lado de fora e deixando Benna sozinha, em uma completa escuridão. Mas não sem antes dizer:

- Foda-se.

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Ficou pequeno, mas eu não queria que acabasse de outra maneira. E vou entregar o próximo maior que o 'normal'.



Um Piscicopata Apaixonado 2 Where stories live. Discover now