C.P 62

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Piscicopata

Enquanto caminhava pela floresta, ouvia o canto dos pássaros, e isso o deixava um pouco atordoado. Odiava o canto dos pássaros.

Seus pensamentos vagavam na pequena conversa que teve com Benna. Ele queria mas ao mesmo tempo não queria revelar seu nome para ela. O motivo era simples, descrição.

Mas ao pensar por outro lado, o lado em que mostrou até mesmo seu rosto para ela, se sentiu um idiota. Se mostrou o rosto, que é o mais essencial para a descrição que o rodeia, por que não o nome? Que qualquer um pode ter?!

Ao pensar muito, chegou a uma conclusão. Falaria seu nome para a garota, afinal e acima de tudo, à amava. Como nunca havia amado ninguém em toda a sua vida.

Demorou mais algumas horas até finalmente estar certo do que fazer, e decidido, caminhou até a sua casa. Estava longe portanto, a caminhada durou mais de meia hora. Seus ombros estavam relaxados quando ele abriu a porta. As luzes apagadas. Nenhum sinal de Benna.

Sem acender qualquer luz, ele caminhou sem pressa até o quarto da garota, disposto a se redimir pela ignorância que à tratou mais cedo. E se redimir da forma mais suja o possível.

Seus dedos contornaram o trinco da porta e ele empurrou a madeira com o ombro. Seus olhos percorreram todo o quarto, mas Benna não estava ali. Então ele à procurou no banheiro, onde não estava também. E ao procurar até mesmo em seu próprio quarto e não vê-la, ele começou a se sentir nervoso.

não pode ser...

Seus pensamentos o levaram para onde ele não queria ir.

ela não pode ter fugido.

não pode ter feito isso comigo.

Pensou em procurar no porão, mas Benna odiava aquele lugar, de fato seria o último lugar que ela iria estar.

Então o Piscicopata pescou a chave de seu carro, colocou a máscara no rosto e saiu em disparada na direção da cidade. Sua mandíbula estava travada quando ele finalmente chegou onde queria chegar. A casa amarela, onde Benna havia estado a última vez que fugiu dele.

Ele encarou as janelas e a porta durante muito, muito tempo. Mas nada aconteceu. As cortinas estavam fechadas e não tinha nenhum carro em frente ou na garagem da casa. O Piscicopata começou a ficar cada vez mais tenso, seus dedos batucavam freneticamente no volante.

Então ele saiu do carro, batendo a porta com força. Seus passos até a casa amarela foram rápidos e densos. Sem dificuldade, ele pulou a pequena cerca e entrou no quintal. Rondou a casa mais de duas vezes e tentou espiar pela janela, mas nada via, nada achava. E num gesto de desespero e raiva, ele socou o vidro da janela, que depois de dois socos, espatifou-se. Sua mão sangrava quando ele pulou a janela, entrando na casa.

Tudo estava escuro. Não havia ninguém. Ele subiu as escadas, à procura de sua garota. Seus pensamentos já estavam o deixando atordoado. Sua mão deixava caminhos de sangue por toda a casa. Ele apertou os cabelos, olhando de um lado para o outro. Seu coração batia com força dentro do peito.

Depois que procurou pela casa toda, até mesmo no sótão, se viu por vencido. A raiva consumindo o seu ser, expandindo cada vez mais a sua ira. E com a mão que sangrava, ele socou uma outra janela, sem se importar com os ferimentos que aquele ato lhe causaria. 

Precisava descontar a raiva em algo. Os vidros voaram para todos os lado e o Piscicopata soltou um  murmúrio pela boca. Sua respiração estava ofegante quando ele pulou a janela e saiu da casa.

Assim que entrou em seu carro, pisou no acelerador e procurou Benna pela cidade inteira.

Você a perdeu.

A voz sussurrou em seu ouvido e o fez se assustar de imediato.

- Não! Vai embora, porra! Sai! - ele bradou, as mãos apertando o volante.

Ela vai morrer.

Ela vai morrer!

Por um momento, ele sentiu suas pernas bambas. Só de imaginar Benna morta, seu coração apertou. Não conseguiu entender o por que daquele sentimento, daquela dor que o invadia, e nem parou para pensar, apenas acelerou ainda mais e percorreu todos os cantos da cidade com os olhos. Descia do carro para procurar no becos e vielas, nos amontoados de lixo. Mas nada. Nem sinal dela.

Você não vai achar... Eles pegaram ela e vão à matar.

A voz retornou a dizer, mais alto e mais fixo na cabeça dele.

Eles.

não...

Rapidamente, ele deu meia volta e saiu derrapando pelas ruas de concreto. Estava a mais de 100 quilômetros por hora quando dirigia até a floresta. Freiou bruscamente e arrombou a porta de sua casa. Ele podia ouvir seu coração batendo quando entrou no porão. Seu peito subia e descia em uma velocidade intensa.

Quando pisou no primeiro degrau da escada, ouviu um gemido. Rouco, baixo e abafado. E quando ele percebeu, já havia descido todos os degraus. Seu coração vacilou uma batida quando seus olhos capitaram a imagem da garota amarrada em uma cadeira.

Benna tinha um pano amarrado na boca e as mãos para trás, provavelmente também amarradas. Seu rosto estava molhado de suor e lágrimas e vários fios negros grudavam em suas bochechas. A garota chorava desesperadamente.

A primeira reação que ele teve foi correr na direção dela. Seu coração apertava cada vez mais quando ele olhava para ela, a sua garota, naquela situação. E ele não conseguiu entender como havia tido coragem de ter torturado ela.

Um som alto explodiu quando ele já estava perto da cadeira. Inesperadamente, seu corpo foi ao chão , totalmente desengonçado. Ele grunhiu.

- Mas que porra... - sua voz saiu baixa. Ele olhou para baixo e viu que uma poça de sangue se formava ao redor de suas pernas. Benna se agitou. Ele olhou para ela e viu medo nos olhos cor de mel. A garota chorava cada vez mais.

- Ora ora ora... veja quem está aqui, capitão. - uma voz masculina se fez ouvir de repente. Quando o Piscicopata olhou, dois homens saíam das sombras, um deles segurava um revólver na mão direita. Ele assoprou a ponta da arma e sorriu debochado para o Piscicopata.

A dor veio. Seu rosto se contorceu quando ele sentiu uma dor aguda na perna esquerda. Seus olhos foram rapidamente até o ferimento, o líquido vermelho que ele tanto amava, pela primeira vez não o satisfez.

- Boa noite, agente 003. - um dos agentes da Cia lhe cumprimentou, um sorriso sacana no rosto.

Ele olhou para o outro homem e nem soube o que pensar ao ver o rosto de Rutherford. E então seu ex capitão soltou:

- Ou melhor, Axel Blackwaters.

Um Piscicopata Apaixonado 2 Where stories live. Discover now