CAPÍTULO 07

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MATTHEW ANDRADE

Sou acordado com alguém tocando a porra da campainha. Resmungo mil palavrões, me levantando da cama e planejando matar quem quer que fosse o abusado a me acordar às 6 da manhã. Busco por uma bermuda qualquer, já que eu sempre dormia pelado, e a vesti, indo atender a porcaria da porta.

Acabo ficando surpreso ao ver a miniatura em forma de gente, sorrindo para mim e me estendendo um pacote, que imagino ser o tal hambúrguer.

— Espero que esteja melhor. Eu tenho que ir para a aula, mas depois você pode me dizer se está bom ou não. Tchau! — Falou tudo rapidamente, indo embora correndo.

Suspiro, fechando a porta e abrindo o pacote, vendo o tal hambúrguer e um cartão com número de telefone. Sorri, desacreditado. Fico pensativo, tentando entender a personalidade daquele garoto. Mesmo sabendo quem sou, ele continua agindo como se eu fosse a melhor pessoa do mundo. Ou talvez fosse ingênuo demais para ter noção do que sou capaz.

Dou uma mordida no hambúrguer, tendo consciência de que o garoto era ótimo na cozinha, mas eu é que não diria isso e perder a chance de receber comida gratuita.

Me jogo no sofá, comendo o hambúrguer e colocando o número dele nos meus contatos, rindo ao salvar o nome dele como "Miniatura".

Matt:
Faltou tempero. Gosto quando é bem recheado.

Mando a mensagem, vendo ele visualizar em pouco tempo.

Miniatura:
Você é muito exigente! Passei a noite fazendo vários hambúrgueres e escolhendo o melhor.

Ri ao ler sua mensagem. Garoto bobo, por que estava se importando tanto com o que eu vou pensar dele?

Matt:
Não se torna um chefe de cozinha em apenas uma noite.

Respondo. Ele apenas me mandou uma figurinha de um gato mostrando a língua, o que me fez ri, resolvendo ignorar e terminar de comer o hambúrguer.

— Bom dia, e até mais tarde! — Michelle exclamou, já toda arrumada e pegando a bolsa.

— Ei! Aonde vai?! — Questiono, notando sua pressa.

— Para meu novo emprego. E... o papai ligou. Ele está vindo para cá. — Rapidamente me levanto, a encarando com espanto.

— Como é?! Está brincando, né?!

— Bem que eu queria. Boa sorte, maninho. — Falou, mandando beijinhos e saindo de casa rapidamente.

Ótimo! O senhor Granada está à caminho!

. . . .

— Ainda não casou, Matthew?! Quer morrer sozinho? — Meu pai questionou, pela décima quadragésima vez.

— Antes só do que mal acompanhado. — Rebato, com tédio, vendo ele avaliar minha casa como se buscasse qualquer defeito aparente.

— Quando vai se assumir? — Questionou, me fazendo revirar os olhos. Meu pai tem demência, certeza.

— Não vou assumir o que eu não sou! — Exclamo, impaciente.

— Filho, eu te amo de qualquer jeito, pode me dizer, não vou ficar bravo. — Falou e eu suspiro, irritado.

— Pai, eu não sou gay. Relaxa, beleza?

— Mas adorava usar os saltos da sua mãe quando criança. — Ouço ele resmungar, o que me fez revirar os olhos.

— Exatamente! Eu era uma criança. E vê se para de falar essas coisas. Alguém pode ouvir. Quer acabar com minha imagem?!! — Exclamo, irritado. Ele suspirou, me olhando.

— Comprei um apartamento na cidade. Vou passar alguns dias por perto. Onde está a Michelle e o Kael? — Questionou, o que me fez lembrar que a desgraçada me fez segurar essa barra sozinho. Meu pai era muito exigente, em todos os sentidos: relacionamento, organização, poder... enfim. Eu o amava, mas ele não se cansava de encher minha orelha pedindo casamento e netos, coisa que não vai acontecer nem tão cedo.

— Trabalhando, eu acho. E Kael está brincando com os moleques lá fora. — Falo, dando de ombros. Michelle, por sinal, passava mais tempo na biblioteca do asfalto do que em casa.

— Ah, é? Michelle está trabalhando? Em quê?

— Não sei direito. Quando ela chegar, você pergunta a ela. Onde está a mamãe? — Questiono, tentando mudar o assunto.

— Fazendo compras na cidade. — Eu ri, imaginando o quanto meus pais eram diferentes de mim. Eu nasci e vivi no morro, por escolha mesmo. Depois que já tinha idade suficiente para cuidar do meu próprio nariz, meus pais foram embora para viverem em Paris. E só me visitam para fazerem as mesmas perguntas de sempre, e principalmente avaliar minha vida do início até o final.

Ouço a campainha tocar, e para fugir do questionário do meu pai, corro para atender, até que me decepciono ao ver Jaqueline. Mesmo eu dizendo que ela não entraria na minha casa, ela continua insistindo.

— Oi, amor. — Jaqueline falou. Puxo seu braço, a afastando da minha porta.

— Ficou maluca?! O que quer aqui?!

— Eu vim te visitar, amor. Já que ontem fomos interrompidos... — Balbuciou, tocando meu peito e descendo suas mãos. Seguro seus pulsos antes que ela tocasse outra coisa e a afasto.

— Jaqueline, não é uma boa hora. Vaza daqui, morena! — Ordeno, e ela suspira, chateada.

— Por acaso tem alguma outra com você?

— Se tivesse, você não tinha nada que reclamar. Anda, vaza! — Ela bufou, irritada, saindo às pressas. Suspiro, me virando e vendo meu pai na porta da minha casa, de braços cruzados.

— Agora resolveu se envolver com projeto de puta? — Meu pai questionou, o que me fez revirar os olhos.

— Seja como for, é minha puta. — Rebato, impaciente.

— Lidar com outro homem é muito mais fácil, não acha, filho? — Questionou, insinuando.

— Estou achando que você tem mais experiência do que eu nesse quesito. — Comento e ele suspira.

— Não tenho dúvidas da minha orientação sexual, mas como pai estou aqui para te apoiar.

— Ótimo! Então me apoie parando de encher meu saco!

— Olha a boca, moleque!

— Faz tempo que deixei de ser moleque, pai. — Falo e ele suspira.

— Que seja! Vou para a cidade, preciso resolver umas coisas. Mas para de se meter com essas vadias interesseiras, filho. Sei que o seu casamento vai ser com o meu futuro genro que ainda não conheço. — Falou e eu revirei os olhos.

— Qualquer pai ficaria feliz ao ver o filho com uma mulher, já você fica resmungando no meu ouvido! Não podia pensar igual a eles? — Questiono e meu pai sorri.

— Sou um homem à frente do meu tempo. E não estou resmungando nada. Apenas estou querendo que saiba que sou todo ouvidos para você se assumir.

— Pai, você não precisava resolver umas coisas? — Mudo o assunto e ele me encara com tédio.

— Continua fugindo, mas eu nunca me esqueci do que você disse quando tinha 4 anos. — Falou, saindo da minha casa. Fecho a porta, podendo finalmente respirar em paz.

Quando eu era criança, eu lembro vagamente que tinha um amigo de escola. E tive a burrice de falar para meu pai que iria casar com ele. Meu pai riu e disse que eu poderia casar com ele, que ele iria respeitar.

Mas foi uma coisa de momento. Eu falava que iria casar com todo mundo que fosse meu amigo, então isso não faz de mim gay, ao menos não que eu saiba, já que nunca me envolvi com homem. E olhando para as criaturas que vivem aqui no morro, eu prefiro continuar pegando mulher.

Mas eu até abriria uma exceção para...

TENTACION - O dono do Morro (ROMANCE GAY) Where stories live. Discover now