CAPÍTULO 36

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BÔNUS: CLARISSE BETTENCOURT

1 semana antes

Vejo Amare sair pela porta, me deixando à sós com Granada, que já conheço muito bem. Ele suspirou, voltando seu olhar para mim.

— Você sumiu por anos... — Balbuciou, o que me fez engolir em seco, cruzando as pernas e deixando a minha bolsa em meu colo.

— Tive meus motivos. E você sabe muito bem quais são! — Rebato, vendo ele ri sem humor.

— Eu fui um idiota, mas você nem quis me ouvir.

— Eu não vim aqui para falar sobre isso, Granada! — Exclamo, vendo ele suspirar, me olhando seriamente.

— Mas já que está aqui por que não falar?! Eu procurei você por todo lugar, até saber que você estava se envolvendo com aquele projeto de policial! — Ralhou, e eu o encarei seriamente, querendo agredi-lo, mas me segurei.

— Sim. Porque você engravidou outra enquanto estava comigo! — Exclamo, magoada. Ele rapidamente veio até mim, se ajoelhando e pegando minhas mãos.

— Eu era um moleque, Clarisse. Não sabia diferenciar amor e sexo. Só quando você foi embora, eu percebi a mulher incrível que eu havia deixado escapar. Por raiva, ciúmes... eu casei com Felicia. Mas não fui feliz no casamento. Tanto que... inventamos de abrir a relação. Talvez seja uma desculpa para nós suportamos... — Declarou, o que me fez suspirar, tentando não desabar ao ouví-lo.

— Hm... eu vim falar sobre a menina. Por favor, só isso. — Falo, vendo ele suspirar, forçando um sorriso e voltando para seu lugar.

— Mel era minha filha... só tinha 8 anos quando os policiais invadiram o morro. Disseram que o alvo era eu, mas eu estava à uns dois metros de distância da minha filha. Eles atiraram nela. Por algum motivo... aquele desgraçado preferiu matar minha filha do que a mim. — Explicou, e pude notar a dor e o ódio sair junto com seu tom. — Depois disso, eu abandonei o morro e meus outros filhos. Eu fiquei com medo, Clarisse. Com muito medo de que Kael, que estava na barriga da mãe ainda, ou um dos meus outros filhos fossem o próximo alvo por minha causa. — Explicou e eu suspirei, ficando com nojo ao imaginar que Eduard foi capaz de fazer uma atrocidade dessas.

— Você tem provas? Testemunhas? — Questiono e ele deu de ombros.

— Muitas pessoas viram. Mas quem vai escutar a voz de um favelado contra a de um policial renomado? — Me levanto, ajeitando minha bolsa.

— Eu vou. Seu filho não é nenhum santo, mas eu não quero ele preso. Eduard merece muito mais estar no lugar dele. Vou garantir a liberdade de Matthew, e providenciar a prisão de Eduard. — Falo e ele rapidamente se levanta, me olhando com espanto.

— Vai mesmo fazer isso? Por que iria prender seu próprio marido? Não se importa com a mídia? — Eu sorri, respirando fundo.

— O que vão falar de mim? Que agora sou mulher divorciada e mãe de dois filhos? Eu teria orgulho se dissessem isso. Muito melhor do que a manchete escrita "Clarisse Bettencourt apoia o marido racista e assassino". Eu sei quando devo sair e entrar de cena, Granada. — Falo e ele sorri.

— Eu nunca vou cansar de admirar você. De amar você... — Declarou, se aproximando, mas rapidamente me afasto, tentando não perder o foco da minha vinda aqui.

— Eu... preciso ir... Preciso resolver esse assunto.

— Eu vou reunir todo mundo que presenciou a cena. — Granada falou e eu assenti, sorrindo fracamente. — Clarisse... — ele se aproximou, pegando minhas mãos rapidamente, o que me fez engolir em seco. — Por favor, me diga que vamos nos vermos de novo...

Olho por cima do seu ombro, vendo Felicia entrar na sala, me olhando com certa raiva. Puxo minhas mãos das suas, suspirando e passando a mão em meus cabelos nervosamente.

— Hm... você sabe onde está o Jonas? — Questiono, ao lembrar do meu menino.

— Ele vive andando pela comunidade, não é difícil de encontrar ele. — Granada falou, se afastando ao notar a presença da sua mulher.

— Certo. Então... até logo. — Falo, saindo da casa dele e respirando fundo. Nunca pensei que isso fosse ser tão difícil.

Vejo Amare conversando com algumas crianças, e elas riam de alguma coisa que ele dizia. Sempre admirei esse lado doce do meu filho. Ele sempre se preocupou com o próximo, não importa se tinha mais ou menos que ele. Não importa se era bom ou ruim. Ele só ficava em paz se visse aquela pessoa bem. Algo nessa vida eu fiz certo, foi ensinar a gentileza e empatia para o meu filho. Infelizmente não tive essa oportunidade a longo prazo com Jonas, que logo avisto em um barzinho, bebendo com alguns amigos.

Me aproximo de Amare, tocando seu ombro.

— Oi, mamãe! Como foi?

— Bem. Eu... preciso ir ali. Essa proibição acabou hoje. — Falo, vendo Amare olhar na direção de Jonas, me olhando em seguida.

— Mas o papai disse que...

— Seu pai não será mais um problema, amor. Fique aqui. Eu preciso falar com ele. — Amare assentiu, entristecido.

Eduard também me traiu com outra mulher, e teve Jonas. Ele trouxe o garoto para viver com a gente. Cuidava dele, dizia que o amava, mas muitas vezes o flagrei xingando o menino sozinho, as vezes irritado sempre que via Amare junto com ele e arrumava uma desculpa para separá-los. Eu devia ter percebido isso. Eu buscava entender, questionar o porquê ele estava agindo assim, mas sempre acabava em briga e ele nunca me dizia o motivo.

Bem, agora eu sei.

Quando Jonas foi embora, eu simplesmente enlouqueci. Por mais que não fosse do meu sangue, foi eu quem o criou, quem o amamentou, que deu banho, que colocava ele para dormir. Eu o amava como se fosse meu filho, e ele é meu filho! Mas Eduard... foi um inferno e disse que o melhor para todo mundo era deixar Jonas aqui, no morro.

— Jonas... — Chamo, vendo ele me olhar, parando de sorri, surpreso.

— Mãe...? Quer dizer... Clarisse... — Se corrigiu, em choque. Sorri fracamente, me aproximando, vendo os amigos dele se levantarem, notando que o assunto era sério.

— Eu sinto muito por ver ter saído de casa. Não devia ter deixado aquilo acontecer. — Falo e ele suspira.

— Não foi o melhor para você? Só vivia discutindo com Eduard. Provavelmente por minha causa. Sei qee fui um intruso por ser filho de outra mulher. — O encaro, horrorizada. De onde ele tirou essa conversa?!

— Meu amor, é claro que não! Como você pensa assim? Eu sempre te amei. Você sempre vai ser o meu filho. Sempre!

— Então por que me colocaram para fora? — Engulo em seco, notando seus olhos marejados. Acaricio seu rosto, notando minha mão tremendo.

— Seu pai mentiu para todos nós. Ele é um racista nojento e que vai ser condenado por isso. Estou recorrendo a tudo que posso para 6 acontecer. Meu amor, eu nunca te odiei. Você é meu menino, meu filho. Amare sofreu muito com sua ida, mas eu vou resolver isso. Eu vou te explicar, filho. Mas agora eu preciso ir. — Falo, depositando um beijo em seu rosto, notando ele me olhar duvidoso. Volto até Amare, que olhava para Jonas com lágrimas nos olhos.

— Ele me odeia? — Amare questionou, baixinho.

— Não, meu amor. Claro que não. Vamos, precisamos resolver isso logo. — Falo, seguindo para fora do morro.

Eduard iria me ouvir!

TENTACION - O dono do Morro (ROMANCE GAY) Onde histórias criam vida. Descubra agora