34°

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{…}

Acordo cedo, olho para a janela e ainda estava escuro, eu não conseguia dormir bem sabendo o que eu perdi do lado de fora.

Me arrumei na cama tentando sentar, eu já me sentia mais forte e minha visão estava 90%. Eu cheirava a sangue e já não suportava mais esse cheiro, preciso tomar um banho urgente.
Tiro a agulha do pulso e deixo na cama, eu precisaria trocar esse curativo, abro algumas gavetas tentando encontrar esparadrapos ou qualquer coisa do tipo...

Eu procurava não pensar no meu filho, não no momento, ele está seguro aqui dentro agora preciso garantir a sua segurança quando ele sair...

Nada. Não tinha nada nas gavetas, somente poeira, vou até a porta onde eu suspeitava ser o banheiro e a abro.
Me deparo com realmente, um banheiro, limpo e com uma banheira de mármore branco, tinha uma toalha vermelha pendurada no box, apenas me aguardando. Procuro nas gavetas até que encontro um gaze e uma garrafa que parecia ser soro fisiológico, deixo as coisas em cima da pia e ligo o chuveiro.

Voltei para a pia, eu nem tinha visto mas, tinha um espelho alí, e foi a primeira vez que eu me vi assim, eu estava horrível.
Eu estava cheia de olheiras, minha pele estava mais branca do que nunca, meu rosto estava inchado, suspeito ser conta da gravidez.
Eu não tinha visto muito menos sentido, mas eu tinha um arranhão no pescoço, bem próximo a orelha esquerda, devo ter ganhado quando caí após levar o tiro.

Desligo o chuveiro e tiro minhas roupas, com o maior cuidado, eu estava com a mesma roupa, suja e coberta de sangue, é, vou ter que ficar com elas por um bom tempo se necessário. A água estava fria, perfeita eu diria, antes de entrar na banheira, me certifiquei que a porta do banheiro estava trancada. Todo cuidado é pouco, e eu não estou apenas protegendo a mim agora...

Deito na banheira sem nem sentir a friagem, encaro a luz bem em cima de mim, meu coração estava acelerado, respirei fundo e afundei a cabeça na água fria, foi libertador, até a dor voltar. Volto para a superfície e vejo o sangue na água, estava sangrando muito.
Saio da banheira e me seco rapidamente, vou para perto da pia e jogo o soro fisiológico no lugar do tiro, ardeu, mas foi necessário. Coloco o gaze e o esparadrapo logo em seguida, até que o curativo não ficou tão ruim assim.

Visto a mesma roupa e seco um pouco o cabelo saíndo do banheiro, deixo a toalha estendida numa cadeira alí perto e vou para a janela, o sol estava subindo, encarei aquele nascer imaginando onde eles estão, espero que estejam bem...

Eu pensei no que Negan falou, que eu e o meu bebê somos fortes, bom, eu posso dizer que meu filho sim é forte, mas eu, não sei se vou aguentar viver sem eles.

Mas você precisa Brook, precisa se manter segura se quiser manter ele seguro.
Não é que lado pesa mais, desconhecidos ou a família, é questão de sobrevivencia, empatia, e segurança.

É como Merle disse, imaginar que eles estão todos mortos é bem menos dolorido do que achar que eles estão por aí.

Toda essa melancolia me fez chorar, soluçar de tanto chorar, mas foi libertador está na hora de encarar a realidade custe o que custar.

- Você está esperando alguém... - Escuto uma voz rouca vindo da porta, enxugo as lágrimas rapidamente e me viro, era Negan.

- O quê? - Pergunto sem entender.

- Você está esperando alguém, ou fugindo de alguém?! - Negan disse calmamente se aproximando de mim na janela, seus olhos não saíam de mim, era até assustador.

- Acho que nenhum dos dois... - Resmungo voltando a olhar o sol.

- Certo. Está procurando então? - Ele não desiste. Não é mais fácil perguntar o que aconteceu antes dele me encontrar?

- Ainda não. Mas vou. - Digo encarando ele no final, Negan franziu a testa.
- Preciso voltar ao lugar que me encontrou. - Digo me virando e procurando por algo para ser minha arma, droga, não devia ter jogado o meu arco...

ᴅᴀʀʏʟ|

Sigo as setas nas árvores e procuro pelo chão também, alguma pegada qualquer coisa.

As setas acabaram na nona árvore, olho as árvores envolta procurando pelo resto. Nada.
As setas acabaram, então procuro pelo chão, estava quase impossível de ver, estava um lamaçal.

Já tinha perdido as contas de quantas árvores passei, de quantos caminhantes mortos eu vi, e nenhum era ela, não sei se fico feliz ou triste com isso...

De longe, vi manchas vermelhas em meio a lama, corro para aquilo, parecia ser sangue, de Brook? De um caminhante? De quem?

O sangue estava por todo lugar, era até inacreditável de se ver, tinha mais sangue do que lama; caminhei pelo lugar analisando o chão, até que encontro uma bala, coberta de sangue e lama, era calibre 22, pode ter sido de um rifle de caça, igual com Carl, mas essa é mais potente, faria um belo estrago no corpo.
- Ela está morta...

Me assusto com a voz vindo atrás de mim, me viro com a besta apontada para a pessoa, mas, não tinha ninguém.

Eu tô louco?

Procuro por alguém, talvez esteja se escondendo, vejo um pé perto de uma árvore, me aproximo devagar com a besta na mira.

Não, eu não estava louco, mas alguém aqui estava...
Um homem, jovem, estava amarrado pela cintura na árvore, ria enquanto me olhava.
- Está procurando a garota... - ele disse sorrindo e gargalhando, como se tivesse contado a porra de uma piada.

- Onde ela tá? - digo já com raiva, o homem novamente sorriu de orelha a orelha.

- Eu já disse, está morta... - ele diz novamente, quem confiaria nesse lunático, meus nervos já estavam explodindo, sem mais nem menos, soquei a cara do sorridente, o cara cuspiu sangue e sorriu.

- Está mentindo.

- Não, não estou. - o homem diz pela primeira vez sério.

- Então prova. - digo entre dentes.

- Fácil. Fui eu que atirei, uma espingarda, calibre 22, moça morena, alta, bonita... - o cara sorriu me olhando, minha cara expressava o que eu sentia, raiva. - estava perdida, achei que era um walker e atirei sem dó...

Estão esse era o nosso fim... Com ela me deixando, ela prometeu que nunca faria isso e agora estou sozinho nesse inferno... Como fui tão estúpido...

- VOCÊ À MATOU VIVA? - gritei com os olhos em chamas, o cara assentiu sorrindo.

Pela primeira vez em tempos, coloquei pra fora toda dor, eu nem me importa com o homem me olhando, rindo da minha cara, eu perdi outra pessoa, e o único culpado sou eu...

Eu andava pra lá e pra cá com a mão na cabeça sem acreditar, minhas lágrimas caiam mais e mais, quanto mais eu chorava mais o cara ria, era uma tortura, então está na hora de acabar...
Miro a besta na sua cara, eu me via em seus olhos cheios de lágrimas me implorando para não fazer isso, mas ele não teve piedade quando atirou nela, não posso baixar a guarda agora.

Minhas mãos tremiam, de raiva, ódio e todas as coisas ruins, eu sabia que o matar não traria ela de volta, mas o prazer de fazer isso era bem maior.

Então eu atirei.

A flecha atravessou sua cabeça ficando presa na árvore, era minha culpa, tenho que arcar com as consequências...

Coloquei a bala no meu bolso e voltei pelo mesmo caminho, pensava em como eu diria a Rick que ele estava certo, ele pode me culpar, ele tem toda a razão...
Subo na moto e antes de dar a partida, vejo algo no chão, desço e vou até o mesmo.

Era o arco dela... A corda arrebentou, derrubei algumas lágrimas e fui embora.

{…}

Psɪᴄᴏᴅᴇ́ʟɪᴄᴀ | 𝐓𝐡𝐞 𝐖𝐚𝐥𝐤𝐢𝐧𝐠 𝐃𝐞𝐚𝐝 Where stories live. Discover now