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[...]

- Não faça isso...

A voz era tão serena que parecia a voz de um anjo, talvez, um anjo suicida.

- Brooklyn. Para!

Novamente, eu não reconhecia a voz nem se eu buscasse no fundo das memórias, mas eu a obedeci. Soltei a arma deixando a cair em meu colo, me viro para a porta buscando quem falou isso.

- Stella...

Era a loira, ela estava assustada, mas se mantinha calma, ela entrou devagarzinho e fechou a porta, tudo isso sem tirar os olhos de mim, como se eu fosse, me matar a qualquer instante.

- Eu vi você no caminhão, por favor, me dê a arma. - ela suplicou estendendo a mão, eu ri alto, justo ela, ela seria a minha salvadora? Ela me mataria se pudesse, porque está fazendo isso agora? Um truque?

- Você? Não era você quem me queria morta? - digo com a voz áspera, ela negou mordendo os lábios, ela conseguia disfarçar bem, mas dava pra ver que ela estava com medo, do que? De mim, armada?

- Olha, se fosse em outra época, eu nem viria atrás de você, deixaria você morrer do jeito que quisesse. - ela disse vindo mais perto de mim. - Mas, acredite, essa não é a solução Brook.

- E como você sabe? Já passou por isso? Já se culpou todos os dias por não ter feito mais? Já desejou morrer para acabar com a dor? - despejo acompanhado de lágrimas, acho que eu precisava por isso pra fora, eu quase conseguia respirar novamente.

- Eu sei... Porque também perdi um bebê.

Ela resmungou, mesmo não encarando seus olhos azuis, eu podia ver tristeza em sua voz.
Levanto meus olhos para a loira, ela tinha água nos olhos, mas diferentemente de mim, Stella não demonstrava fraqueza.

- Daryl?...

- Não! - ela responde baixando a cabeça. - Não era dele...

- Eu sinto muito... - era tudo o que conseguia dizer.

- Eu sinto muito também... - ela respondeu baixinho sem me encarar.
- Se matar não é a solução Brook, é burrice. Você tem que superar. - sua voz era ríspida, sem empatia, fria, como se eu tivesse perdido um cachorro, não um filho.

- Pra você é fácil falar... - digo me arrependendo logo em seguida, ela mordeu o lábio e deu um passo pra frente.

- Olha, eu sei que é difícil, mas pegar uma arma e atirar na própria cabeça não vai resolver o problema, ele vai morrer com você. Acredite você não vai querer isso. - Stella suplica ainda calma, eu tentava entender o que ela dizia mas tudo o que eu pensava era que eu deixei isso acontecer, eu devia ter impedido.
- Brook. A culpa não foi sua! Você não sabia o que poderia acontecer. - sua voz era doce, no fundo eu fiquei aliviada por pelo menos uma pessoa pensar isso, talvez ela tenha razão, mas isso não diminui o meu fardo, todos temos sua parcela de culpa.

Um silêncio percorreu o quarto e enquanto isso, eu pensava, a essas horas eu já estaria morta, talvez, com Negan e os outros carregando meu corpo e jogando em algum local, talvez eu mereça isso.

- Você não merece morrer. - Stella parecia ler meus pensamentos, dizê-lo em voz alta parecia tão ridículo. - Você tem que viver, para fazer melhor. - a loira suplica olhando firmemente para mim, me emociono com isso, Stella tem seus defeitos e ainda à uma rivalidade entre nós, mas o que ela fez no dia de hoje, eu jamais esquecerei, não é sobre o fato de ter me impedido de cometer um suicídio, mas sim, de me escutar, e saber o que responder, ela sabe a dor ela já passou por isso. Me impressiona o quão forte ela é pra ter aguentado os primeiros meses.
- Tenho certeza que ele não iria querer isso. - ela resmungou me olhando fixamente, eu voltei a chorar, porque ela tinha que me lembrar dele...
Ela estendeu a mão supostamente para pegar a arma, ainda com receio de que eu me mate, mas, começo a pensar que se Daryl estivesse vivo, ele não me deixaria cometer um suicídio, no fundo eu sei que Stella está certa, parte do meu corpo está morto, mas a outra parte, quer sentir o gosto de continuar vivendo.

Entrego a arma depois de alguns segundos pensando se realmente vale a pena, ela sorriu de lado aliviada por isso, Stella escondeu a arma na parte de trás e cobriu com a blusa. Eu nem me preocupei com o que ela faria com aquilo.
Logo após suas mãos descerem até a coxa, a minha porta foi aberta, por alguém um pouco desesperado.
- O que tá acontecendo? - Negan, ele pergunta se acalmando, olhando para mim e para Stella, era nítido a minha cara de choro, sorte nossa Stella ter escondido a arma bem a tempo.

- Vou deixar vocês sozinho. - Stella diz, antes de caminhar até a porta, ela subiu seus olhos para mim, eu nem tive a chance de agradecê-la, ela passou por Negan, ele a observava, ela nem ligou pra isso, passou por ele como se fosse uma pessoa qualquer, talvez fosse.

Tenho receio do que Negan perguntará, e se Eleanor contou alguma coisa? Talvez o melhor a se fazer, é ficar em silêncio.
Negan caminhou pelo quarto, me olhando as vezes, eu tentava parecer convincente e secar um pouco das lágrimas sem que ele note, era um pouco difícil, suas olhadas me davam pressão, não dava pra saber o que ele pensava e isso era assustador, mas ele ficar em silêncio é mais assustador ainda.
- Quer me contar alguma coisa? - ele perguntou me observando de longe, encaro seus olhos por dois segundos e depois desvio o olhar.

- O que quer saber? - perguntei de volta.

- Não sei, o que acha de começar com Eleanor e Dwight? - entendi, minhas teorias estavam certas então, achei que Negan seria mais altruísta sobre pegar a mulher dos seus homens.

- O que tem eles? - normalmente, eu iria direto ao ponto com Negan, mas, algo dentro de mim estava, querendo jogar, talvez até desperta ira pra cima dele, e afinal, o que mais eu tenho a perder?
Sem uma resposta de Negan, apenas um sorrisinho sem graça, me levanto indo em direção a cômoda, pensando no que faria com tanta roupinha de bebê, e aquele berço, era estranho mas, olhar para aquele berço, antes, me dava vontade de chorar, mas agora, eu só consigo pensar, onde eu vou botar isso.

Algo dentro de mim desligou, talvez as emoções.

- Você sabe o que tem eles, não me faça perder tempo. - ele suplica com a voz um pouco grossa, levantei as sobrancelhas tirando uma peça de roupa e o encarando.

- Eu não sei de nada. - digo seriamente, ele não teve reação, então voltei a minha faxina.

- Porque Stella estava aqui? Não eram vocês que se odiavam? - ele proferiu dando uma risadinha no final. Suspirei alto, céus, ele não vai embora nunca?

- Eu ia me matar, Negan. - digo encarando o homem, ele franziu a testa desacreditado.
- Stella me impediu, era por isso que ela estava aqui. - Negan baixou a cabeça, de certo, pensando, ele ficou mudo por uns três segundos.

- Eu sinto muito. Você está bem então? - foi tudo o que ele disse, apenas assenti enquanto encarava as roupinhas em minhas mãos, eu não estaria bem pelo resto da minha vida. Ele ficou me encarando por mais dois segundos e depois se virou, caminhando em direção a porta, e então ele para.
- Só por curiosidade. - ele diz ainda virado de costas, e então ele se vira lentamente. - Ia se matar com o que? - ele pergunta com a testa franzida, meu coração quase saiu pela boca.

- Com isso... - resmungo deixando a roupinha na cômoda e indo até minha cama.
Levantei a mesma e tirei o pedaço de madeira de lá, mostro à ele, eu poderia até contar que eu peguei uma arma e dei a Stella, mas, meu cérebro não me deixou falar isso, talvez fosse melhor mesmo.

- O que acha de me dar? - ele pergunta gentilmente, assenti, bom eu tinha que reforçar o seu ego, e ultimamente, o que não me falta e pedaços de madeira.

Dei minha única arma à ele, confiei que não precisava usar isso enquanto estiver aqui. Ele saiu e deixou a porta aberta, ele nunca faz isso, fui até lá e a fechei, giro a chave trancando a mesma, deslizo até cair no chão, pensando e repensando, quanta coisa aconteceu em menos de vinte minutos, eu quase morri, quase fui pega, perdi uma arma, e talvez, ganhei a confiança de Stella. Mas algo em mim mudou depois disso, eu só não sabia o que era.

(...)

Psɪᴄᴏᴅᴇ́ʟɪᴄᴀ | 𝐓𝐡𝐞 𝐖𝐚𝐥𝐤𝐢𝐧𝐠 𝐃𝐞𝐚𝐝 Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt