46°

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[...]

Duas semanas se passaram, eu tentava esconder a dor, de todos, até de mim mesma... Eu não aguento ouvir meus pêsames de gente que nunca vi na vida, eu não quero isso.
Se adaptar é a parte mais difícil, conviver com o fato, as vozes na minha cabeça, a cada segundo me faziam pensar em um possível suicídio, mas do que isso adiantaria? Essa não é a solução, não acabaria com a dor, eu só, escolheria a opção mais fácil.
- Já pensou em como ele reagiria se contasse à ele? Tivemos um filho, mas eu o matei...

- Ele ainda vai te amar depois disso?

- Você o matou!

- A culpa é sua, só sua.

- Porque não acaba com essa tortura? Você sabe onde Negan esconde uma arma...

As vozes, as lembranças, isso era uma tortura. Talvez eu devesse pegar a arma, talvez, talvez eu devesse pegar o pedaço de madeira que tenho escondido embaixo da cama... Qual seria mais doloroso? Uma bala enfiada na cabeça? É, seria uma boa história, e o lugar? Ao ar livre ou no quarto, isolado de todos, mas, que assim que eu disparar todos vão ouvir... É, parece um final trágico, o final, que eu mereço.

- Brook, você está bem? - a garota de cabelos negros me perguntava, minha mente estava focada nesse plano, eu observava com cautela Dwight deixar o caminhão bem em frente a saída, eu tenho que entrar naquele caminhão.
- Brook? Devo chamar o Emmett?

- Não! - digo seco, Eleanor quase se assusta, mas eu não ligava, afinal, foi ela quem disse que eu não precisaria me preocupar com a dor, que era só o bebê crescendo, mas a culpa não é só dela, eu não devia confiar em alguém que mal conheço. Eu precisava me livrar dela, e distrair Dwight, talvez, eu possa matar dois coelhos com uma cajadada só.
- Olha, o seu príncipe está solitário, tá aí uma boa oportunidade de conversar com ele. - digo apontando discretamente para o loiro que se deliciava com um cigarro entre os dedos.

- O que? Nada disso. E aliás, não tenho assunto para conversar com ele. - ela responde baixinho, envergonhada, ridículo.

- Porque não pergunta pra ele onde Negan está, e depois, pergunte porque Sherry foi junto. - sussurro baixinho, com o passar dos dias, você descobre coisas que surpreendentemente, não te surpreende, porque você já esperava, apesar do jeito galanteador de Negan, ele esconde alguns segredos. Mas isso é outros quinhentos. Eleanor franziu a testa, deve estar se perguntando o que é tudo isso, mas, eu vejo o jeito que ela olha pro loiro, e se tivesse oportunidade, conversaria até sobre os caminhantes.

- Tem certeza? Você vai ficar bem? - ela pergunta pegando em minha mão e sorrindo, sorri forçado de volta assentindo, ela pulou da cadeira e caminhou em direção ao loiro, terminei de tomar meu copo de bourbon esperando a festa começar. Eu sabia que ela não se importaria com o que mandei ela dizer, por que, ela só se preocupava em, pelo menos, ter uma troca de olhares com o loiro.
Limpo o copo vendo a reação dele após a pergunta de Eleanor, ele franzia a testa tentando entender o que a jovem moça acabou de jogar em sua cara.
Até que, em segundos, ele largou Eleanor e correu para as escadas, ela o seguiu logo depois, bom, chegou a cena em que entro.

Me levanto e caminho rapidamente, mas sem levantar suspeitas, costumo pensar que na verdade, o santuário é um banco, e Negan é o diamante, cercado de guardas armados dos pés à cabeça. Chego até o caminhão, vou até a porta do passageiro, e olho para os dois lados vendo se à alguém, olho até para cima, vai que tem alguém nas janelas.
Parecia tudo limpo. Abri a porta rapidamente e levo a minha mão até o porta-luvas, abro ele e pego a belezinha, viro meu corpo para dentro do caminhão e enfio a mesma na calça cobrindo com a blusa logo em seguida, em dois toques, fecho a porta e volto para dentro como se nada tivesse acontecido.

Subo as escadas, uma insegurança me perseguia, mas volto a focar no que eu faria, não tem como voltar atrás agora.
Abro a porta do meu quarto que a tempos não via, ultimamente eu tenho dormido com Eleanor, não queria ter que olhar o berço...

Ignoro tudo à minha volta, meu corpo se enchia com o meu arrependimento e tristeza, e as vozes ficavam ainda mais altas, e mais altas, eu só queria acabar com essa tortura, eu não queria que nada disso tivesse acontecido... Não queria ter sido deixada pra trás, ou era isso o que eu pensava.
- Anda Brooklyn, você não vai sentir dor minha querida, vai acabar com toda essa tristeza e ainda mais, vai eliminar mais um fardo nas costas de Negan...

- Essa não era a minha intenção, eu não queria que isso tivesse acontecido...

- De boas intenções o inferno está cheio Brooklyn, acha mesmo que Daryl vai acreditar nessa história?

- É só um disparo para acabar com os seus problemas, o que tem demais? Daryl já deve pensar que está morta mesmo.

- Pare de ser medrosa, pense pelo lado bom, ops... Não tem lado bom. Tem só o lado ruim, o que você conseguiu estragar.

Sentada na cama, com a arma em minhas mãos, as lágrimas caíam, eu me desculpava com Daryl, Ellie, Rick... Mas eu tinha que fazer isso, de algum jeito eu iria morrer, era torturante respirar sabendo o que eu fiz. E então, eu respiro fundo, tentando sentir todo aroma do ar, por uma última vez.

Destravo a pistola e miro na minha cabeça.

Fecho os olhos tentando lembrar das boas lembranças, tentando, fazer com que eu morra com sentimentos felizes.

A primeira vez que o conheci, o nosso primeiro toque, nosso primeiro beijo, nossa primeira vez, a segunda a terceira... Meu irmão, Carl, Ellie, onde quer que estejam, espero que me perdoem...


Eu sinto muito...







- Não faça isso...

Psɪᴄᴏᴅᴇ́ʟɪᴄᴀ | 𝐓𝐡𝐞 𝐖𝐚𝐥𝐤𝐢𝐧𝐠 𝐃𝐞𝐚𝐝 Where stories live. Discover now