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O táxi me deixa no aeroporto e eu suspiro pesadamente enquanto caminho para dentro do local. Depois de sete anos sem colocar o pé em Salem é para lá que estou me mudando.

A verdade é que eu nunca fui próxima de meu pai, sei que ele e minha mãe se amaram e também sei que se separam por conta do trabalho de minha mãe. Quando ainda estavam juntos ela passava muito tempo viajando e até meus dois anos eles conseguiram manter um bom relacionamento, mas então tudo se complicou e eu e minha mãe passamos a nos mudar de cidade para cidade.

Nunca gostei da mudança constante, mas adorava minha mãe o suficiente para suportar isso tudo. Agora que ela se foi eu sinto que perdi tudo o que tinha nessa vida.

A viagem foi calma e eu dormi a maior parte do tempo e, depois de algumas horas de vôo, finalmente chego ao meu destino e vejo meu pai parado segurando uma plaquinha com meu nome. Vi ele cinco vezes ao longo desses sete anos, ele continua a mesma pessoa, já eu...

- Oi pai. – digo quando me aproximo dele e nos abraçamos de maneira desajeitada.

- Oi Lena. – diz e eu solto um suspiro.

O caminho até meu novo lar é silencioso e eu observo a cidade aconchegante e esquisita na qual eu morarei daqui para frente. Paramos em frente a uma casa muito parecida com todas as outras da rua. É suficientemente grande, um pequeno gramado está ao lado de uma garagem e uma varanda que passa um clima interiorano tem uma cadeira solitária como decoração.

Está do mesmo jeito que me lembro, mas o quarto que eu ocupava agora está mudado. As paredes que costumavam ser rosa agora são brancas e neutras, a cama de casal foi colocada no lugar da antiga e uma escrivaninha ocupa a parede em baixo de uma janela. O pequeno closet guarda um brinquedo antigo e, graças aos céus, eu tenho um banheiro só para mim.

Cheguei por volta das 16:00, mas só comecei a me organizar às 18:00. Pretendia me sentar por cinco minutos, mas fiquei presa em meus pensamentos, triste demais para fazer algo, porém, não o suficiente para chorar.

Algumas de minhas coisas já haviam sido mandadas para cá, eu tiro elas de suas caixas e organizo de maneira que o que guarda lembranças mais dolorosas fique escondido. Coloco as roupas no pequeno espaço que há para elas e termino colocando algumas coisas no banheiro.

Meu pai me chama para o jantar um pouco depois que termino tudo, se não fosse pela ocasião eu acho que ele estaria feliz em me ter por perto. Ele parece feliz com a minha presença, mas nunca entendi a máscara fria que está no olhar que eu acabei herdando dele.

- Eu já organizei tudo com a escola e amanhã vou buscar o seu carro. – o macarrão que eu estava engolindo quase faz o caminho errado.

- O meu carro? – estou confusa e incrédula.

- É melhor do que ter que pegar o ônibus, melhor ainda do que ser levada por mim. – diz sereno.

- Não sei o que falar. – um sorrisinho cresce no meu rosto – Obrigado pai.

Ele me dirige a sua versão de sorriso, o melhor que pode. Não falamos muito depois disso, ele me informa que vou para a escola a partir de segunda e o silêncio reina.

Subo novamente para o meu quarto e tomo um banho quente e demorado, saio do chuveiro com um pouco de frio e coloco um moletom antes de pegar o notebook e ir para a cama. Eu poderia procurar algo para ler no lugar de assistir, mas as minhas opções ficaram reduzidas desde que não trouxe mais do que 5 livros para cá.

Faço uma nota mental para procurar uma livraria assim que pegar o carro e aperto o play. Nos primeiros instantes do filme eu acabo dormindo, mais cansada da viagem do que eu imaginei.

SalemWhere stories live. Discover now