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No dia seguinte a conversa com Aron se repete na minha cabeça por um bom tempo, assim como o sonho que tive com minha mãe. Já passou da hora do almoço e agora estou estirada na cama do quarto que estou ocupando na casa dos Cage, um romance de época está aberto na minha mão, mas eu não consigo focar a minha atenção e ler.

Sinto que estou sendo observada e meus olhos saem das páginas assim como meus pensamentos são interrompidos quando encontro ele parado na minha porta. Está bonito como sempre, uma calça jeans preta, uma blusa branca e uma jaqueta de couro.

- Você estava mesmo lendo? Ficar olhando para um mesmo ponto de uma página não deve ser muito saudável. – ele se pronuncia depois que meus olhos voltam para o seu rosto. Pela primeira vez vejo um sorriso ali, o sorriso mais arrogante de todos.

- Estava apenas pensando na realidade. A intenção era ler, mas a cabeça está cheia. – devo estar corada.

- Falei com sua tia, mesmo que você já tenha falado. Vou te levar na sorveteria agora. – eu me levanto rapidamente e por alguns segundo o mundo gira.

Recomponho-me e olho para a figura na minha porta, os olhos verdes seguem frios como sempre e ele não fala nada, apenas continua ali. Eu pego minha bolsa e calço o meu sapato antes de andar em sua direção.

O caminho até a sorveteria é silencioso, Aron dirige e não há outro som além da nossa respiração. Ele estaciona na vaga mais próxima e descemos, caminho na frente para dentro do estabelecimento e ele segue em meu encalço.

Ao abrir a porta o sininho faz um barulhinho anunciando um novo cliente, pessoas conversam e varro o local com os olhos até encontrar tia Jen. Ela também me encontra e um sorriso sem dentes aparece em seu rosto, dou alguns passos para dentro e vou em sua direção, sei que Aaron está logo atrás.

Sento-me em sua frente enquanto ele se senta ao meu lado, antes que possamos falar algo a garçonete chega e faço o pedido. Não vou sair novamente tão cedo para tomar um sorvete, não quando eu sou uma bomba relógio emocional, então tenho que aproveitar a minha chance.

- Como tem estado querida? – ela é a primeira a falar.

- Tirando o fato de que não sou normal, estou cercada de gente me escondendo coisas e tenho uma mãe caçada e assassinada... – fui mais dura do que pretendia.

- Eu não queria que as coisas fossem assim. Também está um inferno para mim Le, estou tendo que tomar cuidado com os recém chegados. Não posso ir embora ou levantaria suspeitas.

- Lamento por isso, você não deveria ter vindo. – é tudo o que posso oferecer.

- Claro que deveria ter vindo. Graças a Deus eu vim. – ela abaixa a cabeça e a balança negativamente – Tenho erguido proteções ao nosso redor ou eles já poderiam ter te achado.

A garçonete chega com o meu sorvete e com o de Aron que está ao meu lado, completamente imperturbado e com a mesma expressão fria e bonita de sempre.

- Preciso te fazer uma pergunta. – a garçonete da às costas e volta para o seu trabalho.

- Pode fazer.                                                      

- Tenho tido sonhos, desde que mamãe morreu na verdade. – eu suspiro enquanto Jen apenas espera que eu termine – Sei que já sabe que os tenho tido, o pai te trouxe por isso. Porém você não sabe do que se trata.

Eu me obrigo a parar, falar sobre aquilo é íntimo, íntimo demais. Por algum motivo aquela coisa na minha cabeça me é importante, não gostaria de compartilhar assim, mas não tenho escolha.

SalemOnde histórias criam vida. Descubra agora