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Estava a um passo de sair, a um passo de ir embora para sempre. Cealena chorava inconsolável atrás de mim, o único som que eu ouvia e, ao parar perto do corpo de Jena, por um segundo apenas um segundo, eu o ouvi. Ele estava uivando cheio de dor e não pude dar o próximo passo. Por algum motivo eu tive que parar ali.

Sem emoção alguma eu me virei, eu só estava ali, uma caixa vazia. Ele já estava voltando a sua forma humana, sua expressão de desespero me fez tombar a cabeça para o lado, ele tinha me feito parar. Seu rosto me trazia algo, me remetia uma lembrança e quando ele começou a chorar o meu peito se apertou.

Percebendo a brecha que havia ali ele caminhou até mim, um passo atrás do outro e passou por meus escudos mentais sem permissão. Por algum motivo eu não reagia e ele estava cada vez mais próximo, de mim, da Lena chorosa ao fundo da minha mente. E eu percebi que, não existia a Lena boa e o monstro, era tudo uma coisa só.

- Entre. – eu entendi o que ele queria.

Escorreguei para sua mente e ele me mostrou tudo. Eu me vi na porta da casa de Esther, olhando fixamente para ele. Depois me vi sentada ao seu lado assistindo a filmes, me vi lhe desejando feliz aniversário. Vi o momento em que ele me beijou pela primeira vez, quando ele apareceu para me pedir uma chance e quando comecei a me aproximar dele e, tinha felicidade naquelas lembranças, amor. Quando as imagens onde eu me entregava a ele chegaram até mim, eu já não era mais um buraco desprovido de sentimentos ou uma sádica maluca.

- Você disse que não ia me deixar. – suas palavras ecoavam em minha mente enquanto ele estava vindo até mim – Volta para mim, amor.

Lágrimas banharam meus olhos e uma escorreu, estava voltando, estava saindo do modo crueldade e voltando para Aron. Um soluço me chamou a atenção, ele parecia quebrado e ao olhar para o emissor dele, qualquer mal que tinha ficado se esvaiu e meu corpo estremeceu com o soluço desolado que eu dei.

Mamãe já estava vindo até mim e seus braços me apertaram forte. Ela estava ali e estava me abraçando, seu calor me recebendo e me acalmando como sempre me acalmou. Minha mãe estava viva, mas lembrar disso me fez perceber que tia Jena não estava e eu me despedacei.

Minha mãe chorou comigo, me apertando e me consolando até que ambas estivéssemos mais calmas. Quando ela se separou e segurou meu rosto entre as mãos toda a calma se foi e eu chorei mais ainda.

- Minha menininha. – ela estava sorrindo enquanto algumas lágrimas caiam por seu rosto e suas mãos secavam as minhas.

- Mamãe. – eu disse sorrindo e mal podendo ver, os olhos embaçados.

Ela me abraçou mais uma vez, bem apertado e meu pai veio assim que ela me soltou. Foi apenas nesse momento que eu percebi que ele estava chorando e ai notei que eu matei o seu irmão, seu irmão gêmeo, bem na sua frente.

- E...eu sinto muito. – disse soluçando e ele me apertou a seu corpo.

- Está tudo bem querida. Está tudo bem. – mas nada estava bem, tudo estava péssimo.

Eu matei uma pessoa e depois torturei outra antes de matar, mas eu não me sentia mal por  nenhuma das duas coisas. A única coisa que me afetava era a perca e o fato de ter magoado meu pai, nem que fosse só um pouquinho.

Papai deu um beijo em meus cabelos e fez sons para me acalmar enquanto minha cabeça estava em seu peito e lágrimas insistentes desciam pelo meu rosto. Assim que eu olhasse para Jena eu estaria no limite.

Depois de alguns minutos sai da proteção de meu pai e quando ele se afastou meu olhar se prendeu ao de Aron e eu solucei alto antes de fechar toda a distância entre nós. Ele me recebeu de braços abertos, uma lágrima ainda escorria por seus olhos enquanto ele me apertava como se eu fosse sumir de seus braços. Meu rosto ficou escondido da dobra do seu pescoço e uma de suas mãos segurou minha cabeça e acariciou devagar.

SalemWhere stories live. Discover now