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O dia seguinte segue o mesmo esquema do anterior, saio de casa depois de meu pai e faço meu caminho para a escola. As pessoas direcionam olhares curiosos na minha direção e eu finjo que não vi, sei que devem estar pensando que eu sou uma grande vadia, afinal estou ignorando todo mundo, mas já passei demais por esse processo e agora simplesmente não ligo mais.

A aula de química é uma merda, a de matemática é igualmente ruim. Na hora do almoço eu sento na mesa isolada e observo o local, as mesmas pessoas ocupam os mesmos lugares. Observo por um tempo, mas logo os olhares são direcionados para mim e eu permaneço  focada no meu almoço depois disso. Quando termino resolvo usar o resto do tempo indo na biblioteca para pegar um livro emprestado.

No final do dia eu caminho vagarosamente para o estacionamento e ao chegar perto do meu carro noto alguém na entrada da escola, é um garoto que já saiu, há pouco tempo imagino. O cabelo é de um castanho bem escuro, o corpo alto é bem musculoso e eu não tenho muita chance de ver seus traços já que está de costas.

Paro de encarar antes que fique estranho e afundo no banco do meu carro, ligo o som e saio da instituição. Procuro no GPS uma livraria e me encaminho para o centro quando encontro.

Depois de alguns minutos estou estacionando o carro em frente ao local, saio com o dinheiro na mão e me encaminho para dentro. Passo uns vinte minutos procurando e zanzando por ali e depois compro três livros. Aproveito que já estou fora de casa e resolvo matar tempo em uma sorveteria, como tem uma do outro lado da rua eu não tenho que dirigir.

Entro e me deparo com alguns rostos que já vi na escola, sigo para o balcão e peço uma bola de flocos, uma de baunilha e água, sei que está frio, mas eu estou afim de sorvete. Acho uma mesa vaga e me atiro na cadeira para esperar o pedido. Percebo que devo parecer muito bizarra por estar aqui sozinha e sem nenhum amigo, mas eu nunca me adequei em lugar nenhum, seria mais bem colocado dizer que nunca tive tempo para isso. Estou acostumada a ficar sozinha.

O resto dos dias se passam da mesma forma, quando vejo já alcançei a segunda-feira seguinte. Tudo parece um looping infinito da mesma coisa, já consegui terminar os três livros que comprei e o que peguei emprestado, preciso de mais.

Entrego alguns trabalhos e tarefas na escola enquanto procuro ocupar minha mente, no terceiro período minha cabeça desiste de prestar atenção e no almoço quase invento uma desculpa para ir pra casa.

Na aula de história, no entanto, as coisas se complicam um pouco a partir do momento em que o professor resolve passar um trabalho em dupla.

- Vai valer grande parte da nota final e deve ser feito com toda a atenção possível. – o Sr. Stevens caminha pela sala – O assunto já está passado então eu acredito que será mais fácil para todos vocês. – ele faz uma pausa na espera de perguntas e depois acrescenta – Será em dupla e por meio de sorteio.

Depois disso os gemidos insatisfeitos começam e ele volta para sua cadeira, pegando sua chamada e uma caneta. Com os olhos fechados ele vai descendo a caneta nome por nome e falando em voz alta as duplas.

- Lena Becker. – meu coração quase para ao ouvir meu nome – Você está com Esther Cage.

Como obviamente não sei de quem se trata eu procuro com o olhar pela sala, e quando meus olhos encontram a pessoa é uma das meninas da cantina. O cabelo castanho chega até sua cintura e os olhos são da cor do mel, está com uma calça creme e uma jaqueta que eu imagino ser capaz de esquenta-la. Aparentemente não é muito alta.

Ela me dirige um sorrisinho que eu retribuo saindo do meu transe, acho que estava encarando. O professor termina de formar as duplas e depois passa mais detalhes sobre o trabalho e o que ele gostaria de ver.

A aula termina um pouco depois, junto os meus matérias e saio da sala. Estou na metade do caminho do meu armário quando percebo alguém do meu lado.

- Lena não é? Sou Esther. – diz a pessoa me dando um pequeno susto.

- Isso mesmo. – coloco uma mecha do meu atrás da orelha meio envergonhada.

- Bem, é um prazer te conhecer. – ela diz sorrindo e eu demoro alguns segundos a mais para responder fazendo com que ela continue – Você não fala com muita gente não é?

- Desculpe. – digo sem jeito – O prazer é meu.

Ela me acompanha até a aula seguinte tagarelando sobre várias coisas e quando não tem mais jeito ela pede meu número. É sem sombra de dúvidas a pessoa mais simpática desse lugar, o que não tem de altura tem de vontade para conversar.

Quando o oitavo período acaba eu já estou praticamente dentro do carro, completamente desesperada pra voltar pra casa, não tenho nada para fazer lá, mas é melhor do que presa aqui.

O caminho é tranquilo, a música é sossegada e minha mente está estranhamente calma. Depois de entrar eu deixo as chaves ao lado da porta e já tiro o tênis ali mesmo junto com o casaco, subo apenas para deixar minha mochila e volto indo em direção a cozinha.

Já deixo grande parte do jantar encaminhado e faço um pudim, estou louca por um doce. Enquanto o meu pudim gela, eu vou fazer meu dever de casa, e aproveito para dar uma olhada no meu celular encontrando mensagens de um número desconhecido.

Esther realmente me mandou mensagem e amanhã vamos combinar de nos encontrar para fazer o trabalho. Por volta das oito eu e meu pai jantamos e comemos do meu pudim, como estou desocupada eu me prontifico a lavar a sujeira e ele vai para a sala.

***

Depois de uma semana completa nesse lugar alguma coisa muda na minha rotina, não almoço sozinha já que Esther me encontra no corredor e me arrasta para comer com ela. Ao chegarmos a sua mesa habitual uma menina loira já nos espera lá.

- Hey Luna, essa é minha mais nova amiga Lena. – me apresenta e eu me sinto corando.

- Ela praticamente te puxou pelos cabelos né? – a menina diz e então sorri – Bem, é um prazer Lena.

Sorrio de volta e me sento. São muito simpáticas e parecem se entender bem.

- Então Lena, - Luna fala antes de fazer uma pausa e tomar um pouco de refrigerante – como veio parar em Salem?

Acho que o desconforto fica nítido em meu rosto já que ela automaticamente emenda falando que se eu não quiser não preciso falar sobre.

- Não, tudo bem. – suspiro e desvio o olhar por um minuto antes de continuar – Eu nasci aqui, mas meus pais acabaram se separando e eu me mudei com a minha mãe de cidade para cidade por conta do emprego dela. Só voltei porque há um mês ela sofreu um acidente e acho que já podem deduzir o resto.

- Sinto muito. – diz Esther de maneira sensível.

- Não sei o que faria sem minha mãe. – Luna se pronuncia – Sinto muito Lena.

- Uma hora eu vou ficar bem. – dou de ombros voltando o olhar para outra coisa.

- Que bom que Esther te encontrou, ao menos agora vai se adaptar melhor. – Luna abre um sorriso enorme que eu retribuo de bom grado.

- Eu nem me importo mais, já me mudei mais vezes do que posso contar e nunca cheguei a verdadeiramente me adaptar. – tomo um pouco do meu suco.

- Já se mudou tanto assim? Para onde? – Esther questiona.

Faço uma lista de cidades nas quais morei e conversamos mais um pouco antes do fim do intervalo. Esther vai comigo para a aula e combinamos de nos encontrar na sorveteria na sexta e já começar a resolver os detalhes do trabalho.

 Esther vai comigo para a aula e combinamos de nos encontrar na sorveteria na sexta e já começar a resolver os detalhes do trabalho

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