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Como eu gostaria que me cérebro diminuísse um pouco a frequência com que ele pensa em certas coisas! Tenho certeza absoluta que isso me renderia menos complicações e menos sonhos.

Passei o domingo com aquele beijo na minha cabeça, desde a hora em que acordei até o momento em que me deitei na cama. Falar que pensei apenas nisso seria mentira, mas em grande parte foi, e nesse momento o beijo viaja por minha mente outra vez.

Uma da manhã, duas, três e nada de sono. Por um momento me preocupo com ter que ir para a escola pela manhã, mas então me lembro que isso acabou o que me lembra de outras coisas... Minha cabeça não para, agora vem o fato de que minha normalidade forjada realmente se foi.

Não faço ideia da hora que meus pensamentos desaceleram e meus olhos finalmente se fecham, e quando isso finalmente acontece eu acabo em um sono tranquilo.

Acordo depois das duas da tarde, o sol quente entra por minha cortina e eu abro os olhos devagar. Espreguiço-me antes de sentar na cama e suspirar esfregando os olhos, embora tenha dormido bastante ainda não quero sair da cama.

Faço o meu caminho para o banheiro e escovo os dentes lenta e preguiçosamente antes de descer ainda de pijama, a alguns dias eu parei de preocupar se trombaria com Aron pela casa. Ele quase nunca está aqui e quando está perto de mim geralmente é calado.

Preparo um sanduíche para mim antes de subir novamente com ele e um grande copo de coca, já acordei com fome. Deixo a comida na escrivaninha e ligo o notebook na cama antes de pegar a minha refeição e me acomodar ali enquanto assisto a uma série.

Depois que termino de comer assisto a mais três episódios e então desço com a minha pequena bagunça e lavo a louça cantarolando baixinho. Enquanto canto acabo me lembrando de que devo ligar para dia Jen e combinar o dia em que iremos nos ver para começar com todo o "treinamento", mas acabo resolvendo que ela que terá que vir me procurar.

Seco a mão em um pano de prato e ouço o barulho dos meus pés descalços batendo no piso enquanto vou rumo a escada. Volto para o meu quarto a passos lentos, não tem nem três dias que as aulas acabaram e eu já estou com mais tempo ocioso do que gostaria.

Queria poder sair daqui, dar uma volta por ai, tomar um sorvete e quem sabe comprar um livro novo. Porém, graças a presença da família porca de meu pai eu não poderei fazer nenhuma das coisas.

Sinto raiva deles, raiva por fazerem parte de algo que tirou a vida da minha mãe e agora está acabando com a minha. A verdade é que eu não penso muito neles, perco o fio das minhas emoções e enquanto desejo que algumas pessoas sofram nada de bom sai disso.

Mando uma mensagem para Esther querendo saber onde foi que essa garota se enfiou. Ela demora uma vida para responder, quando finalmente aparece eu já tomei um banho e estou prestes a iniciar o meu segundo filme do dia. Se minha vida se basear nisso, eu vou acabar doida em pouco tempo.

Antes de dormir eu converso um pouco com minha amiga que vem pro meu quarto reclamar sobre a família. Imagino que deva estar acabando com ela, não costumamos falar sobre tal coisa. Quando ela termina de desabafar diz que precisa de um banho e do mesmo jeito que veio se vai, acabo achando isso ótimo já que desta forma eu não tive chance de pensar em contar a ela ou não o que aconteceu naquela festa.

Meus sonhos são incoerentes, mais incoerentes do que já foram em toda a minha vida. Vejo minha mãe, meu pai e minha tia em alguns deles, nos outros vejo pessoas sendo perseguidas, enforcadas e queimadas. E é claro, a cereja do bolo, o maldito sonho que nunca termina.

No dia seguinte eu desço as escadas de mau humor, a noite mal dormida acabou com toda minha paciência. Eu poderia continuar na cama, não tenho nada melhor para fazer, mas me conheço o bastante para saber que não vou dormir de novo e se conseguir pregar os olhos eu acabarei tendo mais sonhos.

SalemWhere stories live. Discover now