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Cheguei à conclusão de que ele não iria parar de tentar falar comigo e também não iria sair dali ou me deixar fazer isso. Encarei seu rosto por algum tempo antes de lhe dar as costas e caminhar até minha cama a fim de me deitar. O plano inicial era fingir que não estava ouvindo nada do que ele tinha para falar, mas eu desisti dele rapidamente quando Aron abriu a boca e eu percebi que não seria capaz.

- Queria deixar bem claro que as coisas não estavam no meu controle e não estão. – o que não está no controle dele? Eu me sentei.

- Primeiro tenho que te explicar o que eu sou, o que minha família é. – acenei em concordância – Somos filhos da lua, descendentes de uma das primeiras famílias. Não se sabe ao certo como surgimos, mas é o que é.

- Defina melhor o termo "filho da lua". – não seria possível, seria?

- Os mortais têm historias. Usam o termo "lobisomem", mas preferimos lobos. – ele ficou estático e avaliou minha reação, acho que esperava que eu tivesse medo, mas eu estava apenas chocada – Pelo amor de deus não se desespere e saia correndo.

- Estou apenas impressionada e não com medo. – Aron relaxou.

- Bem, a nossa natureza nos impele a muitas coisas e não existe muita explicação para isso que não o lado animal. – ele abaixou a cabeça – Quando um lobo tem sorte ele encontra algo que denominamos parceria. A pessoa em questão encontra a sua alma gêmea em termos práticos, mas é mais como se a sua vida passasse a depender daquele laço, daquele outro alguém. Não é mais a gravidade que te segura na terra, você passa a ter uma conexão tão forte com alguém que eu não posso por em palavras...

Ele fez uma pausa e a emoção surgiu em seu rosto, era intensa e eu não sabia identificar exatamente o que. Eu realmente não era capaz de entender o que estava acontecendo ali e um olhar para o meu rosto o fez perceber.

- Quando você tomou a decisão de vir pra cá as coisas mudaram. Naquele dia em que você me viu eu estava desatento, como fui lerdo, e no momento que fui buscar Esther na sua casa eu percebi. Os sonhos já eram um forte indicativo de que você estava por perto e...

- Espera aí, sonhos? – será que... Não poderia.

Então a percepção me atingiu com força. A força que parecia um imã me atraindo pra ele, o jeito que ele sempre sabia como me ajudar, o beijo e a tristeza sem explicação agora tinha uma explicação...

- Está brincando com minha cara? Você só pode estar mentindo para mim! – sim, ele é um maldito. Escondeu isso de mim, me viu triste e ainda sim... Espera! Os meus sonhos!

- Eu nunca quis ferir você de alguma forma...

- Você estava manipulando os meus sonhos! Quando eu pensei que era Jena e vocês trocaram aquele olhar. – lágrimas encheram meus olhos – Passei meses sonhando e me frustrando por não saber o que tinha, mas era você! Era você o tempo todo e é por isso que você é um maldito imã e por isso eu chorei por ter escutado toda aquela merda com aquela garota!

Ele fez menção de falar, mas eu simplesmente levantei a mão e levantei da cama. Não podia começar a chorar agora, não podia!

- É isso, sou sua parceira? Sou e você me escondeu essa merda!

- Não sabia o que fazer. Eu não queria isso Lena, eu nunca quis. – eu sabia daquilo, bem no fundo, mas ouvir aquilo me quebrou de novo e eu odiava aquilo.

- Cale a boca! – meus esforços para não chorar foram inúteis – Cale a boca e saia daqui!

- Lena...

- NÃO! Eu não quero te escutar. – um soluço me escapou, porque ele deixar claro que não queria aquela merda me machucava. Eu duvidava que eu quisesse, mas me machucava – Saia, por favor. – peço baixinho e ouço quando ele sai.

Chorar. É isso que eu faço pelo resto da tarde. Como ele pôde me esconder isso tudo? Como ele foi capaz? Eu fui tomada pela tristeza de ouvir ele admitido que não queria aquela merda entre nós até a percepção de que eu não queria aquela merda entre nós.

A raiva me tomou. Raiva pura. Sequei minhas lágrimas e me sentei com meus pensamentos até que meu telefone tocou, eu ignorei a ligação, mas já passava das sete da noite. A conversa demorou, o meu choro durou mais do que eu achei e eu simplesmente me deitei.

Na manhã seguinte eu acordei com o rosto inchado, sai da cama e escorreguei para o corredor indo direto para o banheiro. Fiz minha higiene matinal antes de voltar para o quarto, meu telefone tocava e ao olhar de quem era eu me surpreendi.

Meu pai não me ligava, tudo que eu sabia era que aqueles filhos da puta ainda estavam aqui e que ele não podia. Então quando a surpresa passou veio a esperança, se ele estava me ligando eles deveriam ter ido e eu poderia voltar para lá!

- Alô. – atendo controlando a ansiedade.

- Lena? – ele pergunta com aquela voz nada emotiva.

- Sim pai. – ele tinha que me dar boas notícias.

- Como tem passado? – para que ele estava alongando assunto?

- Bem pai. – era uma mentira – E você?

  - Bem Le. – um suspiro e eu aguardo – Estou ligando para dizer que se foram, pode voltar.

Eu poderia chorar de felicidade, depois dos acontecimentos recentes eu só preciso sair daqui. Preciso do meu espaço e de distância entre ele e eu.

- Isso é ótimo! – estava nítida a minha alegria com aquilo – Pode vir até aqui em uma hora? Vou arrumar minhas coisas.

- Estarei aí.

Desliguei o celular e corri para a mala que eu havia arrastado para lá. Coloquei uma roupa e tirei o pijama que foi a primeira coisa que arremessei na mala. Joguei todas as minhas coisas ali e chequei antes de fechar. Depois disso eu fui para o quarto de Esther, ainda não era nem nove da manhã, mas eu iria avisá-la.

Bati em sua porta por cinco minutos até ser recebida por uma cara fechada, o quarto atrás de si estava um breu e eu suspirei enquanto ela me olhava feio.

- Bom dia flor do dia! – ela revirou os olhos – Vim avisar que estou voltando para casa. – agora os olhos estavam arregalados.

- É sério? – ela ainda não sabia dos acontecimentos.

- Sim. Papai está vindo e sim eu tenho que ir. – respondi sua pergunta antes de ser feita – Amanhã podemos sair e tomar um sorvete. Vou te contar tudo. Prometo.

Ela me abraçou apertado e não me questionou. Ainda de pijama ela me ajudou a levar minhas coisa até a porta e minutos depois eu estava entrando no carro de papai e suspirando aliviada.

 Ainda de pijama ela me ajudou a levar minhas coisa até a porta e minutos depois eu estava entrando no carro de papai e suspirando aliviada

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SalemWhere stories live. Discover now