23- Penélope Somers

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Quando entro na galeria vejo a assistente do tio Justin sentada, e ela sorri ao me ver e sorrio de volta, ela é uma senhora de quase sessenta anos, como o tio Justin ainda a deixa trabalhar? Coitada.

— A tia Samanta está lá encima?

— Sim minha Flor, acabou de subir.

Agradeço e subo as escadas segurando minha bolsa e molho os lábios observando os quadros nas paredes.

A maioria de artistas famosos, mas oque mais eu admirava era fotos da tia Samanta quando era mais nova, tio Justin sempre os deixou estampados pela galeria. Isso é fofo.

— Tia — digo batendo na porta e abro antes dela responder e sorrio ao ver ela sair do colo do tio Justin.

— Penélope, que surpresa — ela diz ajeitando sua saia longa e eu quase que dou risada disso, mas me controlo.

— Tio Justin — o comprimento.

— Princesa — ele diz e sorrio fechando a porta.

— Veio me ver? — Tia Samanta pergunta meio confusa, eu quase não vinha na galeria, mas liguei pra casa dela e Julie me disse que ela estava aqui.

E oque eu quero é importante, e eu não queria pedir isso pra Louise. Sei que ela é mais ocupada que todos.

— Posso falar com a senhora? — pergunto e ela nota que é sério, e assente olhando para o tio Justin.

— Vou ver se a Rosário terminou com a papelada da encomenda pra Nova Jersey.

Tio Justin diz e eu sorrio fraco e ele se levanta saindo, bagunçando meu cabelo antes de sair de sua sala e me aproximo da Tia Samanta que se senta e eu me sento na cadeira de frente para ela.

— O Drew fez alguma coisa? É isso?

— Não tia — digo molhando os lábios — é que eu preciso de um favor.

— Oque posso fazer? — ela sorri segurando minha mão.

— Eu preciso ir em um ginecologista — digo e ela franze o cenho — pode ir comigo?

— Claro. Mas você está bem? É alguma coisa que está sentindo?

— Não — digo molhando os lábios — eu estou bem, eu só quero fazer alguns exames que provem que eu não tenho doença nenhuma.

— Oque? Como assim?

— Tia, eu não quero falar disso — digo respirando fundo — não estou doente, e quero provar isso pra algumas pessoas. Você me acompanha?

— Sim. Mas, Penélope. Por que não chamou a sua mãe ou a Louise para te acompanhar?

— A última vez que fui em um ginecologista foi no mês retrasado, e eu não queria pedir pra elas e as preocuparem. Você sabe como elas são, com certeza iriam surtar achando que estou doente ou grávida.

— Entendo, quer ir hoje?

— Pode ser agora? — peço e ela sorri assentindo.

E é por isso que eu amo a tia Samanta, ela sempre está aqui quando eu preciso dela.

[...]

A ginecologista era a que eu consultava, e também as das minhas mães, e eu esperava que ela não contasse nada a minha mãe, isso é lei né? Algo sigiloso, espero que seja. Não quero que minhas mães saibam que fiz um exames para ver se está tudo bem comigo. Minha mãe já me acha uma perdida, imagina se descobre isso. Vai pensar mil besteiras.

— É os seus colegas? — minha tia pergunta quando me sento na poltrona depois de fazer os exames.

— Sim, mas não me importo com eles.

Ela franze o cenho e eu mordo meu lábio sabendo que ela me perguntaria.

— E por que quer provar isso? Não tem que provar nada a ninguém Pene.

— O Drew, eu me importo com oque ele pensa sobre mim. Dessa vez não é só ser chamada de vadia pelos quatro cantos da escola, estão fazendo ele pensar que eu... tenho DST.

— Que absurdo — ela se irrita.

— Tudo bem tia, eu só quero mostrar esse exame pra ele e acabar com isso.

Ela respira fundo e segura minha mão enquanto nega, eu sabia que ela bateria no Drew se ele estivesse aqui agora.

[...]

— O exame sai amanhã cedo — ela diz quando estaciona o carro enfrente minha casa — vão enviar por email.

— Obrigada tia — digo beijando seu rosto.

— Penélope — ela diz antes que eu desça — não quero que se importe com oque os garotos pensam de você, muito menos o Drew. Sua verdade já vale, pra si mesma. Me ouviu? Garoto nenhum merece sua preocupação em relação a isso. Em mentiras inventadas.

— Eu sei tia.

— Não abaixe a cabeça pra nenhum deles, nem para o Drew, não é por que ele é meu filho que vou te pedir para entendê-lo. Ele está errado em pensar que...

— Tia, eu estou bem tá? — sorrio e ela nega irritada — Amo você, e obrigada.

Ela me beija e eu saio do carro acenando um tchau antes que ela saia e mordo meu lábio respirando fundo, ao menos amanhã eu acabaria com os boatos de que eu passei DST para o Ted.

Entro em casa e franzo o cenho ao ouvir a voz da minha mãe na sala junto com a do meu pai.

— Não acho que a Penélope mereça uma festa — minha mãe diz e eu continuo parada na entrada da casa.

— Daniela, ela já pensa que eu não me importo com ela. Se tirarmos uma festa de dezesseis anos, ela vai me culpar por isso também.

— Eu converso com ela — mamãe diz e eu nego.

Qual o problema dela? Já não basta tudo que eu passo? Agora não poderei dar uma festa? Eu vou fazer dezesseis anos.

Entro na sala e eles me olham e eu molho meus lábios e passo direto, subindo a escada sem falar com ninguém e ignoro minha mãe me chamando e bato a porta negando.

Droga de vida.

Tiro meu celular da bolsa e ligo para a Marie, queria assistir um filme, fazer uma hidratação de pele, ficar com alguém, não aguento mais ficar nesse tédio absurdo.

Oi Pene.

Marie, que tal dormir aqui hoje? Podemos pedir sushi — sorrio me jogando em minha cama.

Hoje não dá miga, minha mãe quer jantar no restaurante tailandês, e já sabe né? Amo aquele restaurante.

Af, ok Marie.

Reviro os olhos e ela se despede e eu desligo deixando meu celular sobre a cama e mordo meu lábio olhando ao lado o porta retrato, que era uma foto minha e do Drew. Nos nossos 13 há 14 anos. Ele como sempre sério demais e eu sorrindo com bochechas rosadas e areia nos joelhos, com a praia linda atrás de nós.

Confesso, sempre fui obssecada por Jeremy Bieber. E com oito anos de idade eu já jurava que seríamos namorados na adolescência e nos casaríamos aos dezoito anos. Moraríamos em um apartamento no centro de Atlanta e eu teria nossa primeira filha com um ano de casamento.


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Notas finais:

Pobre Penélope. Sonhar pode, não pode?

• Heirs Of Love / Herdeiros do amor •Where stories live. Discover now