Killer wish

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Faziam dois dias que Anna havia despertado e ela lembrava-se de tudo, nos mínimos detalhes. Esteve consciente boa parte do tempo em que o veneno corria por suas veias até seu coração. Ela sentiu cada osso quebrado sendo deslocado para o lugar certo, sentiu cada pedacinho do seu corpo se curando dos hematomas causados pela luta com a vampira e acima de tudo, sentia muita, muita raiva. Raiva por não ter conseguido proteger Harry, raiva por saber o que estava acontecendo consigo e raiva porque, dentre todos os sanguessugas que poderiam ter feito isso, não fora Jasper quem a transformou para ficarem juntos. Ela nunca quis tanto morrer quanto queria naquele momento. A dor era insuportável e seus gritos só secaram devido a sua teimosia. Ela recusava-se a deixar sua irmã ouvi-la sentir dor, ou sua prima, ou qualquer outra pessoa. Não queria causar mais tristeza do que já estava causando. Ela sabia que aquele inferno estava perto de acabar; sua audição ficou mais aguçada, o cheiro de comida que alguém fazia no andar de baixo adentrava suas narinas, mas ela não conseguiu sentir fome. Muito pelo contrário. O cheiro era enjoativo e nojento e ela não pode deixar de sentir mais raiva por saber que jamais sentiria vontade de comer suas coisas favoritas novamente. 

Anna mantinha-se parada como uma pedra para controlar a vontade de gritar, sentiu-se sendo retirada da casa de Emily e levada para a antiga residência dos Cullen, onde havia uma distância maior de qualquer pessoa. Ela odiou, é óbvio, mas Triz conversava com ela o tempo inteiro, tentava a reconfortar e explicar tudo que acontecia ao redor. Sentiu sua irmã trocando suas roupas e lhe arrumando, provavelmente tirando a aparência de selvagem que ela tinha quando foi encontrada na floresta. Seu coração que outrora batia rapidamente e com força agora não passava de pequenos movimentos por segundo. Até que finalmente parou. A primeira coisa que a Major viu ao abrir os olhos foi um teto de gesso. Ela conseguia ver cada minúscula rachadura, teia de aranha, ou inseto presente ali. Seus olhos se desviaram para o redor, vendo a luz emanando das janelas, a poeira no ar... Ali era o quarto de Alice. Já estivera no local muitas vezes para reconhecê-lo e não pode evitar sentir uma dor aguda no peito. Anna inspirou, pela primeira vez desde que morrera para passar o resto de seus dias sem nunca ter um fim definitivo. Sentiu um cheiro doce e, de certa forma, familiar. Virou-se na direção dele vendo Charlotte como realmente era. A vampira sempre foi linda ao seu ver mas agora estava simplesmente perfeita. Com sua super visão, Anna conseguia ver as marcas de batalha da tia-avó e algumas mordidas em seus braços, mas nada que a deixasse feia. 

- Lotte!

Uma felicidade imensa tomou conta do – agora estático – coração da garota. Em um piscar de olhos a vampira encontrava-se em seus braços, mas não fora Charlotte quem se mexeu. A garota percebeu o quão rápido andou e vacilou nos braços da tia, recuperando-se rapidamente.

- Eu não tenho nem palavras para expressar o quão linda você está, Anna. Mas cuidado, você é mais forte que eu agora, não precisa me esmagar.

- Desculpe.- ela a soltou, lentamente. O sorriso da Major foi sumindo aos poucos e Lotte a abraçou mais uma vez.

- Eu sinto muito, querida. Muito mesmo.

- Eu também. 

Anna soltou-se e rodeou o quarto com os olhos, vendo um espelho de corpo inteiro no meio do cômodo. Era novo e foi colocado ali justamente para ela.

- Pode ir.

Sua tia incentivou e relutante, a recém-criada deu dois passos em câmera lenta, tentando acostumar-se com sua nova velocidade. Fechou os olhos antes de chegar em frente ao espelho e tomou coragem para abri-los novamente. Ela quase não reconheceu a si mesma. Seu corpo estava perfeito. Suas proporções não mudaram, mas todas as cicatrizes – tanto a dos tiros, quando os machucados recentes e até mesmo os do passado, com exceção da mordida – não estavam mais lá. Por um momento, achou que sua minúscula tatuagem também tivesse desaparecido e ao olhar para o recorde do vestido em suas costelas, percebeu que não. Ela ainda estava lá. Intacta. Pelo menos algo de sua antiga vida não havia sumido. Mas seus olhos azuis, sim. Agora, suas feições eram marcadas por um par de íris escarlate. Estava mais pálida, mas não como os Cullen. Apenas parecia que ela havia perdido um pouco do bronzeado e seu cabelo ficara mais escuro em contraste com a pele. Ela levou as duas mãos ao rosto involuntariamente e negou com a cabeça, sem deixar de encarar o seu reflexo.

The Twilight SagaWhere stories live. Discover now