Capítulo 4

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Gizelly teve a brilhante ideia de ficar até mais tarde na livraria, e se repreendeu por voltar andando no meio da madrugada para casa, mas aproveitou o fato de que estava de calça jeans e moletom para não chamar atenção indesejada. Havia recusado mais um convite de Eusébio e Caon para o Nero, precisava de um tempo para se recuperar. Precisava respirar.

O problema foi ouvir uma movimentação estranha seguida de um grito muito feminino. Não era um grito feliz; sua primeira reação foi correr em direção de onde tinha vindo a voz. E ela chegou perto o suficiente; no beco entre dois prédios, viu uma das piores cenas do mundo; um grupo de caras estavam segurando uma menina. Ou seria uma mulher? Iriam roubá-la? Abusá-la?

Nenhum dos dois, ela pensou; ela não deixaria.

Deveria chamar a polícia, mas poderia ser tarde demais se ela esperasse; os homens não pareciam nem um pouco pacientes, e pelo jeito que a mulher se rebelava, a coisa poderia ficar muito feia.

- Não não, por favor. Me deixem em paz. Eu fiz tudo o que tinha que fazer, por favor. Eu só quero paz.

- Sinto muito, muñeca. Sabe que temos ordens a cumprir.

- Não, por favor. Por favor!

Aquela voz de choro partiu seu coração. Parecia carregada de lágrimas e dor, e parecia muito com alguém que ela conhecia. Mas estava difícil de reconhecer com todos os barulhos em volta.

- Por favor, me escutem. Eu não quero mais. Mandem o recado, eu estou farta.

Gizelly demorou apenas alguns instantes para reconhecer aqueles olhos verdes, e foi o impacto em seu peito que a fez ficar ainda mais desesperada. A mulher que eles seguravam era Rafaella. Não, aquilo não podia continuar.

- Por favor.

E ela chorava tanto, Gizelly sentiu o ódio crescer em suas veias. Ficou cega por ele. Enquanto Rafaella parecia trêmula demais, com a boca sendo tampada pela mão grande e fedida para que não gritasse; não pode perceber a aproximação de uma quarta pessoa. E nenhum deles percebeu.

Afinal, aquele beco estava escuro demais; maldita hora que havia resolvido que conseguiria ir para casa sozinha em plena madrugada. Agora estava ali, presa nas mãos de homens idiotas, à mercê do que eles quisessem.

- Será que podemos tirar uma casquinha antes? Ninguém vai perceber, Alex. – Um dos homens pediu. – Eu estou louco nesta belezinha desde a última vez.

Rafaella tentou gritar. Estava em pânico, viu o homem abrir o zíper da calça e quis morrer. Mas antes que o homem pudesse terminar sua fala, ou fazer qualquer coisa, tomou uma pancada tão forte na cabeça que soltou a mulher em seus braços. O grito foi grave e se perdeu na madrugada. Rafaella caiu no chão e rolou para o lado, tentando escapar.

O segundo homem virou para descobrir do que se tratava e se surpreendeu ao descobrir um par de olhos castanhos furiosos.

- Que merda é essa?

- Fiquem longe da garota. – A voz saiu fria como a noite. – Eu não quero ter que machucar vocês, então larguem ela de uma vez.

- Machucar a gente? – Rico, que havia sido atingido, começou a levantar enquanto falava; sua voz parecida acida e risonha. – Você realmente se acha páreo para nós? Olhe o seu tamanho.

Gizelly reconheceu aquele tom de voz de algum lugar, mas não lembrava exatamente de onde. Com um rápido olhar para Rafaella, viu que a mulher estava encolhida no canto, onde não poderia ser vista. Certo, eram três contra uma. Ela precisava fazer alguma coisa... Tinha que salvar Rafaella.

- Não preciso de tamanho algum para acabar com você.

O homem riu, alto, e avançou em sua direção. Desprevenido que estava, não foi rápido o suficiente para se defender do chute giratório que ela acertou em sua cabeça. Foi direto para o chão, completamente apagado.

O mar do teu olharWhere stories live. Discover now