Capítulo 66

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Sozinha na livraria, Gizelly começou a sentir os primeiros efeitos de estar tentando parar de beber depois de tantos dias bebendo o tempo quase inteiro. Ela estava um pouco trêmula, enjoada e com a garganta seca. Por isso, tomou bastante água. E depois uma dose de vodca pura e seca que desceu rasgando por sua goela até bater em seu estômago como ácido.

Tirou o avental apenas para ajeitar a blusa de botão que vestia, era uma branca que Rafaella costumava gostar. Gizelly não sabia bem o motivo, mas usaria tudo o que agradasse à mulher... Isso se os tempos fossem outros. Rafaella não era mais sua, portanto, ela não tinha motivos para querer agradá-la. Mas ainda estava pensando nela enquanto arrumava o botão que prendia seu decote na blusa.

Talles e Cláudia estavam almoçando, sendo românticos por qualquer lugar, e tinham todo o cuidado do mundo em não serem muito cheios de afeto na frente de Gizelly por achar que aquilo a afetava, era ridículo. Ela queria mais que os dois se amassem intensamente, se casassem de uma vez e parassem de enrolar. O primeiro passo havia sido dado, Cláudia pediu Talles em casamento após uma cena de ciúmes dele. Gizelly achou adorável.

Gostava de ver a felicidade de quem amava.

Mesmo que estivesse em uma constante espiral de infelicidade e saudade. Era ridículo. E ela simplesmente não conseguia parar. Sentia o cheiro de Rafaella em tudo, sentia a falta dela em cada instante, cada segundo. Era horrível querer tanto se entregar, mas sentir a barreira da mágoa erguida. Tomou outra dose de vodca só por precaução e então decidiu que aquela seria a última enquanto trabalhasse, foi em busca de um chiclete em sua bolsa apenas para mastigar alguma coisa e se distrair. Queria um cigarro.

Não que ela fumasse, mas sentiu vontade.

Foi o sino da entrada da livraria que chamou sua atenção. Ela ergueu os olhos castanhos para ver quem estaria entrando no meio de uma tarde de sexta feira, o dia menos movimentado de todos. Era como uma miragem, só poderia ser, Gizelly pensou. Era um sonho bom. A mulher trazia a luz do sol junto com os cabelos caramelados e os olhos cor de esmeraldas.

A morena ficou sem ar só de ver Rafaella se mover.

Caminhando até ela.

Sorrindo.

- Rafaella.

- Olá.

Gizelly esfregou as mãos na calça jeans, estava nervosa como uma adolescente estúpida. E Rafaella estava estonteante como nunca, ou como sempre e Gizelly estava apenas impulsionada pelo amor que sentia. Rafaella parou em sua frente e se apoiou no balcão, Gizelly não conseguia respirar. Talvez fosse a blusa de botão que ela usava, talvez fosse o jeito que ela sorria, talvez fosse a aliança delas que estava pendurada em um cordão que escorregava até o decote maravilhoso. Talvez fosse nada. Talvez fosse tudo.

Mas com certeza era Rafaella.

- Você está bem?

- Sim. - Era uma mentira, das grandes, mas ela quis parecer convincente. - E você?

- Não.

Os olhos de Gizelly suavizaram e então se intensificaram com a preocupação, Rafaella reconheceria de longe o brilho cor de chocolate. E sorriu para ela.

- O que há? Aconteceu alguma coisa?

Rafaella esticou a mão para alcançar a de Gizelly por cima do balcão, seus dedos se tocaram apenas por breves instantes.

- Eu sinto sua falta.

A morena ofegou.

- Rafaella...

- Nunca vou estar bem enquanto estivermos assim. - Ela pontuou como se fosse simples, como se estivesse falando sobre a lista de mercado. E então afastou sua mão de Gizelly e o corpo do balcão. - Mas vim aqui em busca de sua ajuda profissional.

O mar do teu olharWhere stories live. Discover now