Capítulo 72

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Na primeira semana com Rafaella em seu apartamento, Gizelly não poderia dizer que estava tendo a mais fácil das vidas. Nem a mais difícil, de fato. Ter Rafaella por perto era quase uma benção, e elas sempre se divertiam juntas. Mas tê—la por perto e não tê—la como queria, era torturante. Olhar para a boca dela por que ainda não conseguia ouvir o som daquela voz melodiosa e doce... Tudo. Tudo sobre Rafaella a enlouquecia. Ela não conseguia parar de pensar e sonhar. E quanto mais pensava, mais sonhava. E quanto mais sonhava... Mais queria.

Não voltaram a se beijar durante os dias que passaram, mas era inegável a atração e a vontade. Cada vez que deitavam no sofá, que cozinhavam juntas, que conversavam. Era quase rotineiro de novo, o que deixava Gizelly apavorada. Criar uma rotina com Rafaella era o primeiro passo para puxá—la de volta para sua vida. E ela não sabia até que ponto estava pronta pra isso.

Mas pensava todos os dias no que poderia estar faltando.

Talvez fosse coragem.

Chegou à sala de seu apartamento para encontrar Rafaella dormindo no sofá, a televisão estava ligada e ela podia jurar que estava ouvindo o zumbido um pouco mais intenso do que o normal. Era quase um chiado? Ela não saberia dizer. Mas queria ouvir a voz de Rafaella de novo.

A luta entre razão e emoção nunca fora tão intensa.

Se aproximou da dona do seu coração e acordou—a com toda a delicadeza possível, ignorando seus instintos e impulsos que queriam encher a mulher de beijos. Rafaella abriu os olhos com dificuldade e, como sempre, sorriu ao ver Gizelly; aquele maldito sorriso a desmontava por completo.

Oye.

Gizelly ouviu.

Bem baixinho, lá no fundo, como se fosse a televisão em volume baixo três quartos de distância; não dava para identificar por completo, mas tinha noção do som. Soou em seus ouvidos e pareceu mágica.

Como a morena arregalou os olhos, Rafaella sentou no sofá com velocidade impressionante.

— O que?

— Fale de novo, por favor.

— Qualquer coisa?

Gizelly quase ouviu com clareza.

— Eu estou... Ouvindo. Um pouco.

Rafaella puxou Gizelly para o sofá com ela, sentindo—se empolgada como se fosse noite de natal.

— Está me ouvindo mesmo?

— Bem baixo. Não sei explicar. Mas... Eu consigo um pouco.

— Ai mi amor que noticia excelente! — A empolgação era tão aparente que a mulher segurou Gizelly pelo rosto. — Se eu falar mais alto, facilita?

O brilho nos olhos de Gizelly fazia Rafaella querer chorar.

— Sim.

Rafaella tentou, de todas as formas, fazer Gizelly ouví—la nos minutos que se passaram. Falava o mais alto que podia, e mantendo certa distância para que a morena pudesse ler seus lábios. E conforme elas testavam, se aproximavam mais no sofá.

— Está me ouvindo? O que quer que eu fale?

— Qualquer coisa.

A ansiedade de Gizelly era completamente explicável.

Ela só precisava de um pouco mais.

E enquanto Rafaella começava a falar bobagens sobre a última sessão de fotos que havia feito, Gizelly suspirou. Estava muito baixo, mas era melhor do que não ouvir nada. Era baixo, mas ainda era melhor do que o maldito silêncio.

O mar do teu olharWhere stories live. Discover now