Capítulo 38

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Para ser mais dramático, faltava uma chuva, Rafaella pensou enquanto andava pelas ruas perto do apartamento que ela costumava dividir com Gizelly. A noiva, por quem ela era louca, a mulher que movia seu mundo, iluminava seus dias e que... Agora aparentemente a traíra da forma mais baixa possível. Ex noiva, ela se corrigiu mentalmente. O anel ainda estava em seu dedo, pesando como chumbo. Ela deveria tirar e jogar o mais longe o possível, numa rua qualquer, no primeiro lixo que encontrasse.

Mas manteve no dedo por que ainda amava a morena.

E no fundo, ainda havia algum tipo de esperança.

Mesmo que seu peito estivesse rasgado de dor, e ela se sentisse tão dilacerada quanto era possível... Ou impossível. Ela já não sabia mais o limite e a linha para a dor que estava sentindo; e a raiva por ter sido enganada. Mas ela reconhecia o olhar perdido de Gizelly; sabia que naquilo ela não estava mentindo: realmente não se lembrava de nada.

Mas se não lembrava, como poderia negar o óbvio?

Tudo indicava que havia acontecido algo e Ivy parecia a única sóbria e sensata ali. Mas ainda assim... Seu coração estava muito apertado. As coisas não encaixavam perfeitamente ali, não podia; Gizelly não faria aquilo. Não podia. Apesar de lembrar que não deveria colocar sua mão no fogo, hipoteticamente falando, por ninguém, ela sabia que queimaria o corpo inteiro por Gizelly se fosse necessário. E naquele momento a morena merecia um voto de confiança. Merecia, de fato. Mas como ela viveria com a dúvida?

E se elas nunca conseguissem descobrir o que havia acontecido? Ela conseguiria viver bem, casar com a morena e passar o resto da vida sem saber se ela havia dormido com a mulher dos infernos? Mas ela realmente precisava saber? Era um impasse maldito, e ela não queria pensar em mais nada; como era possível que seu coração implorasse por algo enquanto sua mente gritava o exato oposto? Ela não queria ouvir nenhum dos lados.

Queria fugir de novo.

Esconder-se e nunca mais aparecer.

Dentro de seu apartamento, Gizelly mordeu o lábio inferior algumas vezes, enquanto o ar saía quase denso por suas narinas. Nunca em toda a sua vida estivera tão enfurecida. Poderia esperar qualquer coisa, menos uma traição como aquela, não que ela e Ivy fossem melhores amigas ou coisa do tipo, mas esperava no mínimo um pouco de respeito.

Apesar disso, não sabia o que poderia ter acontecido, o que teria acontecido... Sabia o que se lembrava. E não lembrava de ter dormido com Ivy ou coisa do tipo.

- Eu não queria causar uma situação dessas.

- Senta.

A ordem saiu tão fria que Ivy estremeceu.

- Eu não vou falar de novo.

Ivy sentou no sofá. Gizelly se aproximou, tão ameaçadora que a mulher afundaria no sofá se pudesse.

- Eu quero que você me diga a verdade do que aconteceu ontem. E não vem com esse papo de que eu abri um vinho e transamos pela casa, porque não vai colar. Eu não faria isso.

- Você fez.

- Não é possível.

- Porque não? Você não ficaria comigo?

- Nem nos seus sonhos. - Ela respondeu, seca. Foi tão cortante e rude, e ela não estava se importando. - Só existe uma pessoa no mundo para mim e ela se chama Rafaella.

- Você não lembra do que aconteceu. Pode ter acontecido qualquer coisa.

- E pode ter acontecido nada.

Ivy suspirou.

- Estou te falando exatamente o que aconteceu. Você estava mal ontem depois da briga, eu te trouxe em casa. - Enquanto ela falava, Gizelly parecia concordar com a cabeça. Mas seus braços estavam cruzados e sua expressão tão fria e cortante como uma navalha. - Eu disse que ia embora, e voltei. Queria apenas conferir como você estava. E você me chamou para tomar um vinho.

O mar do teu olharWhere stories live. Discover now