Capítulo 71

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Não havia nada de novo em beijar Rafaella, e mesmo assim Gizelly sentia como se cada toque fosse novo, cada vez que seus lábios se entregavam e suas línguas se encontravam. Não havia nada de novo, mas seu coração batia forte como nunca. Como sempre. Como Rafaella deixava. E quanto mais se beijavam, mais se buscavam e seguravam.

Os beijos lhe tiraram o fôlego e ambas sabiam que não haveria problema algum em nunca mais encontrar o fôlego de volta; poderiam viver aos beijos, que a plenitude seria eterna e satisfatória. Apertavam—se, buscavam—se o tempo inteiro. Como se fosse o primeiro beijo, como se fosse o último. Parecia uma batalha que nenhuma das duas queria ver o fim.

O cheiro de garoa e chuva fresca de Gizelly entorpeceu Rafaella inexplicavelmente, ela nunca mais queria sentir outro cheiro em sua vida; e, sabendo que Gizelly também estava louca em seu cheiro, afundou os dedos nos cabelos escuros. Os lábios se moviam no mesmo ritmo, em harmonia. Cada vez pensavam que o beijo iria terminar, começava tudo de novo com um simples pressionar de dedos na pele.

Elas apartaram os lábios com toda a dificuldade do mundo, e então se olharam. Gizelly pensou em como precisava falar alguma coisa, parar aquela situação como um todo; mas entreabriu os lábios para começar a falar e Rafaella prendeu os olhos naquela boca marcada por seus beijos. E não resistiu.

Beijou a mulher mais uma vez. E outra e outra.

Quando o ar se fez escasso, as duas se encararam novamente. Com o ar faltando nos pulmões. Rafaella sorriu. Levou apenas alguns segundos para que Gizelly sentisse o choque da realidade que vivia, estragando completamente a fantasia e os desejos que vieram juntos daqueles beijos maravilhosos. Elas não estavam prontas.

— Rafaella... Isso não pode continuar acontecendo.

— O que?

— Você não pode me beijar dessa forma.

A dona dos olhos de esmeraldas suspirou e deu um passo para trás. A raiva, a rejeição e até um pouco de mágoa ameaçaram enevoar seus sentidos. Gizelly se apoiou na bancada por que sentiu as pernas fraquejarem absurdamente.

Lá estava ela tendo que olhar para a boca de Rafaella, agora inchada e marcada por seus beijos. A tensão lhe corroía como um choque elétrico potente.

— Eu te beijei sozinha?

Gizelly não ouviu, mas sentiu o tom seco de Rafaella como um tapa em seu rosto. Deu um passo em direção à mulher, que pareceu recuar, como se estivesse acuada. Não era aquela conversa que queria ter com ela.

— Não.

Os olhos de Rafaella queimaram como brasas.

Gizelly só aceitou que o inferno parecia delicioso.

— Então não diga que eu não posso te beijar dessa forma. Eu te dei a chance de dizer que não. Nós nos beijamos. Nós. Nós estamos sempre nos beijando. Eu não faço nada sozinha.

A morena sentiu os ombros caírem um pouco.

— Eu sei que não.

— É injusto você dizer que eu te beijei.

— É mais fácil, na verdade. — Gizelly começou a justificar, mas foi prontamente interrompida por Rafaella.

— Você não queria me beijar?

Gizelly suspirou.

— Não é uma pergunta justa.

— Você que está sendo injusta comigo. — Ela rebateu.

— Não é proposital.

— Que você queira fugir, eu entendo meu amor. Agora, quem está sempre lhe dando chances de sair de perto sou eu, você não sai por que não quer.

O mar do teu olharTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang