Capítulo 74

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Gizelly tinha fogo em seus olhos, isso era óbvio para qualquer um que visse; seus punhos estavam cerrados como se de alguma forma ela conseguisse controlar o que estava sentindo apenas por apertar os dedos contra a própria palma.

Sua respiração saiu devagar, densa, como se fosse chumbo e aço, uma combinação extremamente perigosa enquanto seu coração martelava tão forte que ela ouvia em sua própria cabeça. Muito além dos gritos dos que estavam para assistir sua luta, ela conseguia sentir o sangue escorrer por suas veias como se estivesse em câmera lenta. Tudo pareceu para em sua volta.

- Isso não pode ser sério.

Havia uma música alta tocando no galpão, diferente das outras vezes, era um rock pesado e conhecido. Os homens gritavam para que Gizelly avançasse em sua oponente e que Deus a ajudasse, mas era tudo o que ela queria fazer.

- Mas é.

- Enlouqueceu?

Aquele sorrisinho irônico fez Gizelly respirar fundo, era a sensação de ter insetos corroendo sua pele, tudo estava pinicando por dentro e por fora. Encarava sua desafiante com um misto de raiva, confusão e desespero.

- Claramente.

Gizelly desviou do primeiro soco.

- Eu não vou lutar com você.

- Porque não?

- Eu não vou te machucar, Rafaella. Esqueça. Você só pode ter enlouquecido. Que diabos está passando em sua cabeça?

Rafaella sorriu enquanto se aproximava de Gizelly; e ela realmente parecia pronta para uma briga. Até suas mãos estavam enfaixadas, Gizelly recuou.

- Se é o jeito de atrair sua atenção, vamos lutar sim.

- Não vamos lutar, Rafaella.

Mas Rafaella parecia irredutível, continuava a avançar em sua direção, tentando acertar-lhe com golpes frouxos, Gizelly desviava de todos, tomando todo o cuidado do mundo para não machucar a mulher. Afastava-se dela como se ela fosse um incêndio que a tocava o tempo inteiro - e ela era, ou pelo menos era como Gizelly sentia. Rafaella a incendiava.

- Então você vai perder o posto de invicta assim?

A doce provocação fez Gizelly deixar os ombros caírem.

- Eu não vou lutar com você. Não vou te machucar.

- Porque não?

- Porque não.

Rafaella se aproximou e, como se estivessem dançando, Gizelly se afastou. A roda em volta delas ainda gritava, incentivando Rafaella a fazer algo a mais; mais forte, mais firme. Não só por seu objetivo final, mas também pela diversão da coisa.

- Isso não é resposta.

Gizelly segurou a perna de Rafaella quando ela tentou lhe acertar um chute, mas ao invés de empurrá-la para longe como faria com qualquer oponente, puxou a mulher em direção ao seu corpo apenas para que ela pudesse ter apoio ao ficar de pé. E então se afastou de novo.

- Porque você está fazendo isso Rafaella?

- Porque eu te amo. E vou fazer o que for para ter você de volta. Vou ao inferno se preciso. Mesmo que eu tenha que lutar com você, ao invés de só lutar por você.

Gizelly se afastou dela e desviou de um soco que poderia ter recebido; era engraçado que Rafaella realmente parecia estar se esforçando, apesar de saber que uma nunca machucaria a outra. Bom, não fisicamente daquela forma

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