Capítulo 64

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Gizelly nunca pensou em como morreria, mas apanhando até deixar de sentir todas as partes de seu corpo parecia uma boa idéia. Não era. Mas parecia. Naquele momento, enquanto recebia um soco forte que fazia sua cabeça bater contra o chão e o sangue explodir em sua boca e seu nariz, ela pensou que morrer era o melhor que poderia fazer. A mulher que estava por cima de seu corpo parecia mais irritada por ela não estar reagindo do que por estar ganhando. As pessoas em sua volta gritavam seu nome, incluindo Eusébio e Caon, mas Gizelly não conseguia pensar em nada, só em como queria outro soco.

— Gizelly, vamos, reaja! — A voz de Caon soou em seus ouvidos no meio da multidão.

Outro soco.

De que adiantaria reagir afinal? Dinheiro? Ela não precisava. Reconhecimento? Menos ainda. Tampouco tinha a torcida que queria, por quem valia a pena ganhar alguma coisa. Não tinha nada. Enquanto outro soco a derrubava, ela pensou em como as duas últimas semanas de sua vida haviam sido como viver em um inferno; era um paradoxo interessante, sair do paraíso para o inferno. Como um anjo caído. Mas na verdade ela havia sido empurrada para o inferno, não se achava merecedora. Mas lá estava ela. Outro soco. Ela rolou para o lado e cuspiu sangue.

Sua oponente ficou de pé e ela também.

Seus ossos doíam. Estava indo contra todas as regras, ia a Nero todos os dias, apanhava até não poder mais, ganhava as lutas e voltava no dia seguinte, apenas pelo prazer da dor. Quando sentia aquela dor, não dava atenção à dor no coração. E não havia nada que poderia fazer com relação àquela dor em específico. De alguma forma ela havia escolhido aquele caminho.

Poderia ter lutado mais por Rafaella.

Feito—a acreditar nela.

Mas a mágoa de uma dúvida daquele tamanho, depois de tudo o que haviam vivido juntas, queimava seu coração como um incêndio florestal. Não pararia tão cedo. Rafaella não poderia, jamais, ter duvidado dela daquela forma, fossem quais fossem as provas que Marcela poderia ter. E falando em Marcela, apenas o pensamento na mulher ferveu seu sangue.

Ela era o real problema em seu relacionamento com Rafaella, ou ex—relacionamento, como era o caso. A morena precisava acertar as contas com aquela vagabunda. Era tudo o que conseguia pensar; ela sabia, óbvio, que Marcela havia inventado tudo aquilo por ainda amar Rafaella, mas como ela havia sido tão convincente? Era o que ela precisava saber. Tinha que ter alguma coisa. Ela já havia passado as duas últimas semanas pensando no que havia deixado passar, mas não conseguia encontrar nada. Marcela não podia ser uma gênia do mal, aquilo só acontecia em filmes. Alguma coisa ela estava deixando passar; e ela iria descobrir exatamente o que era. Foi com isso em mente que venceu a luta, de forma surpreendente; foi um chute que apagou sua oponente de uma vez.

— Não vamos mais deixar você lutar, morena. — Eusébio foi o primeiro a falar enquanto Gizelly trocava de roupa. — Chega. Você não está em condições.

— Não estou em condições?

— Não. Não está. Isso é inaceitável. Olhe o que você está fazendo consigo mesma.

— Não estou fazendo nada tão ruim quanto eu me sinto.

— Não desconte sua dor tentando se matar. Vá atrás da garota.

— Para quê? Ela não acredita em mim.

— Vá atrás da ex e faça a maldita admitir as coisas. 

— Rafaella deveria acreditar em mim, com ou sem a maldita ex namorada dos infernos.

— Você vai realmente desistir dela?

Gizelly suspirou longamente.

— Ela desistiu de mim primeiro.

— Ninguém desistiu de ninguém. Já faz duas semanas que você não se alimenta direito, que vem aqui todo dia e sai arrebentada, isso não é vida. Vocês precisam conversar.

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