PRÓLOGO.

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LORENZO.

Minhas mãos estavam cobertas de sangue, minhas roupas também. Sangue vermelho, vívido e belo como os cabelos dela. O corpo jazia no chão, manchando o piso branco e os tapetes caros. Os olhos azuis como o céu da manhã fixaram-se em mim, arregalados e assustados. Ela me encarou e eu a encarei de volta. Eu sabia o que deveria fazer, mas simplesmente não conseguia. Seus olhos me imploravam por ajuda, mas não era ela que estava ferida. Não era ela que eu deveria ajudar. No entanto, quando vi as marcas em seus pulsos e pescoço, quando vi seu vestido rasgado, as marcas de uma agressão... Eu não pude recusar seu pedido silencioso.

- Ele me atacou. - Jhenifer disse num sussurro quebrado. - Eu não queria... Eu...

Ela não queria, mas ela precisou. Devon deveria cuidar dela durante aquela festa, mas ele estava ocupado fodendo três prostitutas. Eu não deveria estar tão irritado com ele quando eu tinha notado o sumiço de Jhenifer por outras razões. Mas eu estava. Eu estava fodidamente irritado porque era isso que acontecia quando homens como nós não cumpriam sua responsabilidade; pessoas se feriam, pessoas morriam. Rafaele respirou fundo, dando sinal de que a faca que Jhenifer enfiou em seu peito não havia sido fatal. A garota saltou para longe do corpo, saindo do chão onde estivera desde que eu entrei no quarto e a encontrei cheia de sangue. Eu deveria ajudá-lo. Foi a primeira coisa que tentei fazer quando vi a cena; me ajoelhei ao lado dele, manchando minhas roupas com seu sangue imundo, até perceber o estado de Jhenifer. Sua juba de cabelos vermelhos estavam bagunçados, seu batom borrado como se alguém a tivesse beijado, mas o pior eram as contusões roxas em sua pele e o maldito vestido rasgado. Eu deveria ajudar Rafaele, principalmente porque Jhenifer mata-lo significava guerra. O filho de Manoel Giordano, o próximo Capo da Outift. Eu deveria ajudá-lo... Segurei a o cabo da faca enfiada em seu peito, mas ao invés de puxa-la para fora, eu girei a lâmina e a enterrei em sua carne ainda mais profundamente. Ela não o havia matado, eu tinha.

- Ele está morto? - Jen perguntou cuidadosamente, se mantendo longe do cadáver. Eu me coloquei de pé.

- Ele te estuprou? - Eu deveria ter perguntado isso antes de acabar com a vida dele, mas mesmo que não tivesse conseguido completar o ato, ele havia começado. Ele havia tocado-a.

- Não... Quando ele foi abrir as calças, eu puxei a faca dele e o apunhalei. - Jen disse tranquilamente; ela não parecia arrependida, nem mesmo assustada. Talvez ela estivesse em choque. - Como você me ensinou.

Quando Jhenifer pediu que eu a ensinasse defesa pessoal, eu prometi a mim mesmo que nunca deixaria ela precisar usar minhas aulas, mas lá estava ela, rasgada e suja depois de ter matado um homem que ousou toca-la. Eu nunca me senti tão orgulhoso.

- Vamos sair. É uma maldita festa de Halloween, ninguém vai pensar que nosso sangue não é falso. - Eu disse olhando ao redor. A mansão alugada estava cheia de sangue falso e abóboras, uma homenagem ao meu tio Luca. Tio Nino e tia Alessa fizeram a mesma festa por quinze anos desde sua morte, mas um assassinato a diferenciaria das outras que vieram antes. Puxei Jhenifer pelo braço quando ela não respondeu e a ruiva cambaleou até atingir meu peito. Quando ela passou os braços ao redor do meu corpo e olhou para cima, seus olhos azuis e o rosto perfeito cheio de sardas, eu me perdi em sua beleza. Mesmo com a boca manchada de batom, mesmo com a maquiagem preta borrada escorrendo sobre as maçãs do rosto, ela era incrivelmente linda. Sua boca carnuda me trazia lembranças que eu lutava para esquecer, mas nunca conseguia. Talvez eu sempre fosse lembrar do dia que ela pressionou os lábios suavemente sobre os meus quando tínhamos quinze anos. Mesmo dois anos depois, eu ainda podia sentir a maciez de sua boca se fechasse os olhos.

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now