23. Insônia.

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LORENZO.

Luzes piscantes e som alto eram uma constante em minha vida, mas eu nunca me acostumei. Enquanto Devon e Jhenifer pareciam super animados, embalados numa dança ridícula com Sadie, Daniel e Heaven, Liam e eu ficamos no canto mais afastado do salão, apenas observando a interação. Eu tinha certeza de que o garoto estava odiando a festa assim como eu, mas eu tinha outro motivo para ficar ali parado enquanto todos se divertiam: vigiar o perímetro. Mesmo depois do pedido de desculpas, Devon não iria parar de beber apenas porque eu havia pedido. Quando Devon pegou o quarto copo de cerveja em menos de vinte minutos, Liam suspirou pesadamente ao meu lado. 

— Já é o oitavo copo e nós chegamos há menos de uma hora. — Liam murmurou e eu me virei a tempo de vê-lo franzir os lábios. 

— Pelo menos ele parece ser resistente ao álcool. — Zombei com uma risada de escárnio. 

— Qualquer um que beba todos os dias em quantidades exorbitantes é resistente ao álcool. 

— Não, qualquer um que faça isso é alcoólatra. — Me aproximei mais de Liam até me apoiar na parede ao seu lado. — Devon bebe todos os dias? 

O garoto ergueu os olhos e me fitou de sobrancelhas arqueadas. Ele se daria muito bem na máfia com aquela expressão neutra que não demonstrava nenhum dos seus sentimentos. Até mesmo sua linguagem corporal era milimetricamente controlada para não transparecer nada. Controlada até demais. Mãos anormalmente paradas, respirações calmas em excesso, postura relaxada demais, principalmente para alguém que claramente não gostava do ambiente que estávamos. 

— Ele não é alcoólatra. — Liam disse calmamente, como se a idéia fosse ridícula. 

— Se fosse, você me contaria? — Provoquei. Liam sorriu e balançou a cabeça. Aquele era um sorriso estranho; simpático demais, carismático demais… Forçado demais. 

— Eu gostaria de saber sobre o que vocês estavam falando no carro. O porquê de você não beber e achar que isso te torna descuidado. — Seu sorriso se tornou mais pronunciado quando fechei minha expressão em uma máscara de frieza impenetrável. — Você me contaria? 

Esperto como um rato da máfia. As vezes eu me perguntava se não era coincidência demais Devon namorar alguém que conheceu na escola e parecia ser tão, tão inteligente. Seus cabelos longos, pele doentiamente pálida e rosto angelical lhe davam uma aparência inocente, mas ele estava longe disso. Os olhos pretos como a noite continham um brilho malicioso, assim como seus lábios que se torciam em um sorriso predatório enquanto me observava. 

— Se você machucar Devon, eu vou caçar você até o inferno. — As palavras frias e inóspitas causaram o efeito desejado. Liam franziu o cenho e me encarou como se não estivesse entendendo, um traço de medo nas íris de petróleo. — Eu espero mesmo que você seja apenas um idiota do colégio e não algo mais, entendeu?

— Algo mais? — Liam murmurou se fazendo de desentendido. Quando abri a boca para dizer que ele só podia estar me zoando, percebi algo que revirou meu estômago. 

O garoto não sabia de nada. 

Ele estava namorando Devon, o herdeiro da Cosa Nostra, vivendo em perigo absoluto e não fazia ideia disso. Devon não tinha contado a ele sobre a máfia, sobre quem era seu pai. 

— Ei! — Jhenifer cumprimentou se aproximando com um sorriso meio débil. Eu a vi beber dois copos de cerveja, então ela não deveria estar bêbada… Exceto que ela não bebia e qualquer dose de álcool já causava mudança. Respirei fundo. — Do que vocês estão falando? 

A apatia era uma merda. Mesmo amando a garota, a irritação por nenhum motivo aparente me fazia querer responder que não a interessava. 

— Nada. — Murmurei com um sorriso que esperava ser simpático. O celular no meu bolso começou a vibrar pela sexta vez na noite e quando o tirei do bolso, percebi que faltavam sessenta minutos para o ano novo. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now