16. Broken Wings.

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JHENIFER.



Fight the fight alone
When the world is full of victims
Dims a fading light
In our souls.





Eu estava eufórica. A felicidade era tamanha que me deixava trêmula e sem sono, tanto que me virei na cama por horas depois de me despedir de Lorenzo. No entanto, a felicidade era como uma luz forte que estava sendo rapidamente suplantada pelas garrafas ferozes da escuridão. A escuridão era o medo. Algo havia feito Lorenzo mudar de ideia, eu tinha certeza. Ele nunca havia agido daquela forma antes; febril e desesperado, quase como se tivesse sido surrado por algo. Será que ele sabia também? Sobre Luca e Cristina serem filhos de seu pai? Eu sabia que nada o faria fazer qualquer coisa que desapontasse seu pai, exceto se seu pai o tivesse desapontado primeiro. 

Me levantei da cama depois de uma noite insone quando as vozes anunciaram que minha família já estava acordada e tomei um banho longo, colocando meu biquíne rosa com sutiã em formato de conchas de sereia e uma calcinha fio dental. Olhei orgulhosa para o espelho. Nenhuma gordura na barriga ou nas coxas, pernas perfeitamente torneadas. Os anos de dieta ferrenha e exercícios exaustivos surtiam efeito cada vez mais, mas eu ainda não estava satisfeita. Minhas coxas precisavam perder um pouco mais de medidas e meus braços não estavam tão finos quanto eu queria. Talvez um pouco de jejum intermitente e adição de mais folhas em minha alimentação ajudassem nisso. Vesti um camisetão semi transparente sobre o biquíne e calcei um par de chinelos brancos antes de voltar ao banheiro e finalizar meu cabelo com um Leave-In de keratina. Quando o resultado me agradou, deixando meus cabelos em perfeitas ondas da raiz até as pontas, peguei meu celular e saí da cabine. 

— Bom dia. — Devon murmurou saindo do quarto dele ao mesmo tempo que eu. Eu me lembrava do antigo iate ter poucas cabines, luxuosas, porém ainda assim poucas, mas no novo, havia quartos para todos, sem ninguém precisar dormir junto. 

— Bom dia. — Bocejei. A noite insone estava começando a cobrar seu preço e eu nem tinha começado o dia. 

— Dormiu bem? — Meu irmão perguntou conforme caminhavamos em direção a copa coberta, ao lado da cozinha. Balancei a cabeça em negativa. 

— Não. Nem dormi, na verdade. — Murmurei com uma risada seca. — E você? 

Devon me lançou um sorriso tão sombrio que quase tropecei. 

— Não sei se algum dia vou voltar a dormir. — Devon exprimiu fitando o vazio. — Porque não dormiu? 

— Sei lá. — Dei de ombros com um suspiro profundo. — Dias conturbados.

Quando entramos na copa, ninguém parecia ter dormido bem. Meu pai tinha olheiras sob os olhos azuis, assim como minha mãe que estava fumando um cigarro longe da mesa. Tio Nico parecia estar morto, os olhos cinzas quase fechados enquanto ele mexia no celular, deslizando os dedos rapidamente pela tela, provavelmente jogando seu jogo de doces. Tia Cinzia estava cozinhando, o cheiro de panquecas e mel impregnado no ar; Samael estava ao lado dela, cortando algumas frutas com uma habilidade invejável. Pelo visto, fatiar pessoas lhe dava pontos na cozinha. Não vi Lorenzo ele lugar algum, talvez ele estivesse dormindo, assim como meus primos mais novos. 

— Bom dia, crianças. — Tia Cinzia desejou com um sorriso brilhante. Ela era a única que parecia animada. 

— Onde está o resto? — Perguntei me aproximando dela e passando os braços ao redor de seus ombros. Ela me se afastou de mim num rompante para bater em Devon que tentara roubar uma tira de bacon. 

— Lorenzo foi cedo para o mar. Os outros ainda estão dormindo. — Tia Cinzia redarguiu dando um beijo no meu rosto. — Você também não dormiu bem, querida? 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora