24. Penhasco.

2.6K 267 69
                                    

JHENIFER.

Os fogos surgiram no céu, os gritos preencheram as ruas e a sacada, o barulho ensurdecedor retumbou em meio peito. Abracei Devon, abracei Liam, abracei Sadie, Daniel e Heaven. Gritei feliz ano novo, ri e bebi mais, mas no final, quando meu irmão e eu voltamos para casa quase três da manhã, eu me sentia vazia. 

Extremamente vazia. 

Infelizmente o carro de mamãe havia voltado sem nenhum arranhão. Quem sabe na próxima vez? Pensei resignada.

Devon foi direto para o quarto, alegando que não podia ver ninguém no estado que estava, mas eu continuei para a cozinha, buscando algo para comer, já que parecia haver um buraco no meu estômago. Quando cheguei na porta e meu irmão começou a subir as escadas do outro lado do cômodo, ouvi a voz de papai e me virei de imediato. Vestido com uma camisa branca de mangas enroladas até os pulsos, calça de moletom cinzas e pés descalços, ele passou por Devon e apertou seu ombro. 

— Feliz ano novo. — Papai disse em seu habitual tom formal que sempre usava com Devon. 

— Feliz ano novo, pai. — Devon disse endireitando a postura, tentando parecer menos do que totalmente bêbado. Meu pai se virou para ele, ambos alheios a minha presença encolhida no canto da sala, próxima a porta da cozinha. 

— Como foi a festa? — Papai perguntou de costas para mim. 

— Boa, eu acho. — A voz de Devon estava levemente falha, um sinal do álcool. Se papai percebeu, ele não disse. — Sei lá. Foi estranho passar o ano novo sem… Vocês. 

— Também foi estranho por aqui. — Papai deu de ombros. — Vá deitar, você parece bêbado. 

Devon assentiu, mas não se mexeu. 

— Devon? — Papai chamou dando um passo em direção a escada, ao meu irmão. — O quanto você bebeu? Você precisa de ajuda para subir? 

Meu irmão desceu o último degrau da escada e passou os braços ao redor do pescoço de papai, um abraço tão forte e genuíno que eu me senti horrível por presenciar. Meu pai não era muito de contato físico, nem comigo ou mamãe nos últimos anos, então foi uma grande surpresa quando ele passou seus braços ao redor do corpo de Devon e o abraçou apertado, apertando os olhos com força quando enterrou o nariz no cabelo do meu irmão. 

— O abraço de ano novo é o único que você me dá no ano todo. — Meu irmão murmurou fracamente, fazendo meu coração doer. Papai apertou ainda mais os olhos e suspirou visivelmente. 

— Um dia… Quando você estiver em meu lugar, você vai entender. — Nosso pai garantiu, mas pela expressão de dor em seu rosto, nem ele mesmo entendia.

Eu deslizei para a cozinha, tentando fazer o mínimo de barulho possível para que não me notassem. Eu não queria quebrar aquele momento tão raro e vulnerável. Porra. Tudo que eu mais queria no mundo era que papai mostrasse a Devon o quanto ele era amado, afinal, eu tinha certeza de que ele amava meu irmão. Ele só não sabia demonstrar. As vezes, ele não sabia demonstrar até para mim, que todos diziam ser sua preferida. Eu não achava que papai tinha filhos favoritos, apenas filhos que ele sabia lidar melhor. Enquanto eu não me metesse em confusões como Devon ou me afastasse dele como Gabriel o fez, eu continuaria sendo amada e querida por ele, afinal, em alguns momentos, eu achava que meu pai só amava aqueles que não o magoavam. Em alguns momentos eu achava que ele havia sido muito ferido e não conseguia lidar com isso. 

A porta da cozinha se abriu num rompante e Lorenzo entrou com um braço sobre os ombros de tio Nico, ambos rindo. Meu tio estava vestido como sempre, todo de preto exceto pela camisa branca que todo mundo parecia usar no ano novo e seu rosto estava vermelho. Lorenzo colocou os olhos sobre mim e uma sombra de tristeza cruzou sua expressão antes que ele forçasse um sorriso. Será que ele pensava que me enganava? 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang