26. Monster.

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JHENIFER.

Era estranho retornar à Las Vegas e sentir como se aquela cidade fosse meu lar. Era estranho entrar na casa de tio Nico e respirar aliviada porque ali eu me sentia… Em casa. No entanto, o mais estranho, era Lorenzo. Até mesmo tio Nico havia perguntado a ele se ele estava bem. Meu primo respondeu com um aceno conciso de cabeça e se retirou da sala assim que chegamos; sem nenhuma palavra. Durante a viagem para casa, ele não deu uma palavra, mal prestou atenção em seu filme preferido que passou nas telas arrumadas frente aos assentos; toda hora conferiu seu celular, mesmo que a internet do vôo nem estivesse funcionando. Eu me sentia preocupada sem ao menos saber o porquê. De fato, ele não parecia bem. O olhar distante que ele sempre usava, escondendo seus sentimentos através de uma máscara, nunca havia parecido tão forçado. 

— Pode me ajudar na tarefa de matemática? — Gabriel perguntou estendendo seu caderno em minha direção. Diferente dos meninos de sua idade, seu caderno não era de algum desenho ou super herói; a capa era preta e lustrosa. 

— Eu sou péssima em matemática. — Murmurei meio desatenta. Meu irmão mordeu o lábio inferior. 

— Então… Você pode me ajudar na tarefa de história? — Gabriel perguntou desviando o olhar. Parei de andar de um lado para o outro, coisa que nem percebi estar fazendo, e me fiquei no garoto. Ele já estava quase com minha altura, seus cabelos pretos e olhos azuis acinzentados a cada dia se tornavam mais bonitos, mais adultos. No entanto, ele parecia quase vulnerável. Senti um aperto no peito quando percebi que Gabriel era educado em casa por tio Nino e na escola; ele não precisava de minha ajuda com nenhum exercício, provavelmente o garoto era mais inteligente que eu. Ele só queria… Minha companhia. 

— Claro. — Sorri. — E depois a gente pode tomar sorvete, o que acha?

— Eu sou diabético. — Gabriel disse franzindo os lábios. — Mas podemos comer frutas congeladas que Lessia deixa na geladeira para mim. 

Meu queixo bateu no chão. Diabético? Como uma criança poderia ser diabética? Porra, como eu não sabia que meu próprio irmão era diabético? 

— Você está bem? — Gabriel perguntou confuso. — Parece pálida. 

— Desde quando você é diabético? 

— Desde que eu nasci? — Gabriel meio que respondeu, meio que perguntou. — O diabete tipo 1 é uma doença autoimune que vem desde o nascimento, sem possibilidade de tratamento ou cura. Tio Nino me ajudava com a insulina diariamente, mas agora aprendi a aplicar sozinho. 

— Como eu não sabia disso?! — Exclamei aturdida. Gabriel me olhou como se eu fosse um alien. 

— Porque você só liga para Devon. — Meu irmão colocou as mãos sobre a boca quando arregalei os olhos. — Me desculpe, isso foi rude. 

Meu coração realmente doeu naquele momento. Fisicamente e emocionalmente. Você só liga para Devon. Era isso que meu irmão pensava? Ou melhor, era isso que eu demonstrava? 

— Desculpe por minha falta de atenção, Gab. Eu… É difícil, sabe? Você meio que nunca está perto e até eu vir morar aqui, nunca convivemos de verdade… — Suspirei. — Serei mais atenta. Eu realmente me preocupo muito com você, e te amo muito. Pode me perdoar? 

— Claro. — Gabriel sorriu. — Gostei da nossa conversa. Meu pai sempre diz que eu devo expressar meus sentimentos, mas eu nunca tinha feito até agora. Foi legal. 

Eu o encarei confusa. 

— Papai disse isso? Papai nunca demonstra sentimentos. 

Dei de ombros; talvez Thomaz Rizzi tivesse um lado que ninguém conhecia. Meu irmão desviou os olhos e seu rosto corou. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora