43. Queda.

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LORENZO.

Respeitável público, um show tão maluco
Essa noite vai acontecer,
aqui a gente vai armar
Um circo, um drama com perigo
E nessa corda bamba quem
vai caminhar sou eu
E venha ver os deslizes que eu vou cometer
E venha ver os amigos que eu vou perder
Não 'to cobrando entrada,
vem ver o show na faixa
Hoje tem open bar pra ver
minha desgraça.”

Quando o universo explodir, todas as vidas irão morrer. Provavelmente isso só acontecerá quando eu e toda minha descendência já estiver morta, mas ainda assim, é engraçado pensar que estamos a mercê de algo maior, como um meteoro, que poderia nos dizimar sem que pudéssemos fazer nada. Impotência. Odiava pensar em como o ser humano era impotente quando se tratava da natureza. 

Quando Jhenifer retornou do psiquiatra, duas semanas depois do baile de formatura, ela apenas suspirou e me deu um beijo rápido antes de ir para o seu quarto. Eu sabia que não conseguiria nenhuma informação com ela, por isso, atravessei os jardins e entrei na casa de tio Nino. Diferente de minha casa, a dele não era feita na arquitetura grega, com branco e azul por todos os lados, não, era um lugar amplo, com as janelas de vidro do chão ao teto, paredes e pisos claros. Não havia uma parte da casa que não fosse o mais aberta possível. Encontrei Nino no terraço que era coberto por vidro fumê, não deixava o sol entrar, mas não perdiamos a vista do céu. 

— Tio? — Chamei ao me aproximar de sua enorme mesa de estudos repletas de livros e cadernos. Ele estava em uma nova graduação de medicina, sua maior paixão depois da família e máfia. Desde sua cirurgia, ele estava tendo mais tempo para os estudos, já que para deixar tia Alessa tranquila, não estava tão envolvido com a parte física dos negócios. Ele levantou os olhos, tirando os óculos de leitura e se ajeitou em seu banco de madeira. Me sentei de frente para ele. 

— Precisa de algo, Lorenzo? — Sua voz calma e suave, como sempre fora, não me trouxe paz naquele dia. 

— Como foi? O que o médico disse? — Perguntei por fim. Minha voz soou desesperada, mas eu estava longe de me importar. 

— Eu não entrei com ela. — Ele deu de ombros. — Mas os remédios que ele passou me deu uma ideia do que está acontecendo. 

— E qual sua ideia? 

— Lorenzo… — Meu tio suspirou. — Isso é sobre ela. Você deveria perguntar a ela. 

— Ela não vai me contar. Ela não quer que eu saiba, que me preocupe, mas eu me preocupo! Eu preciso saber para poder ajudar! 

— Quando descobri sobre isso naquele hotel… Eu fiquei desesperado. Quando eu vi as marcas no seu pescoço e me lembrei de você dizendo que só transava com quem gostava, meu coração afundou. Só podia ser Jhenifer. — Tio Nino soltou uma risada desanimada. — Mas… Você a ama, não ama? De todas as mulheres do mundo, você ama a única que não deveria. 

— Eu tentei, Nino. Tentei fingir que não, tentei me afastar, tentei de tudo. E então… Eu não consegui mais. — Soltei uma respiração dura, apoiando minha cabeça nas mãos. — Ela é tudo para mim. Então, por favor, me ajude a ajudá-la. 

— Quando a medicação começar, ela precisa tomar quando acorda e quando vai dormir. Não me sinto confortável dando a ela os remédios, ela pode usar demais e acabar tendo uma overdose. Você pode dar os medicamentos a ela? 

— Claro. 

— Então, quando os exames dela ficarem prontos e eu comprar os remédios, eu te entrego as caixas. — Tio Nino examinou as folhas em sua frente, mas não parecia prestar atenção. O loiro respirou fundo. — O que você pode fazer por ela é mostrar o quanto ela é amada, o quanto todos nós precisamos dela. A depressão distorce a imagem que ela tem dos outros. Ela pensa que as pessoas não a amam, não a querem por perto ou as vezes, ao se punir com os cortes, que ela é culpada por situações que não são culpa dela. E em alguns momentos ela vai tentar afastar você, como se não merecesse nenhuma felicidade, como se ela não fosse digna de ter algo bom na vida dela. 

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now