36. Play With Fire.

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LORENZO.

(Todas as falas
em itálico
estão sendo ditas
em ITALIANO.

Insane, inside the danger gets me high
Can't help myself got secrets I can't tell
I love the smell of gasoline
I light the match to taste the heat
I've always liked to play with fire
Play with fire, play with fire
Fire, fire
I've always liked to play with fire.”

Todos os pensamentos, conflitos internos e surtos se calaram quando passei pelas portas de madeira. A grandiosidade daquele momento me impactou. Uma centena de homens estavam espalhados pela enorme sala antiga cheia de cadeiras e mesas de madeira escura. Todos os homens se levantaram quando meu pai e eu atravessamos o caminho entre as mesas, pisando no chão de pedras cinzentas. O lema da Camorra estava pintado na parede central, uma rosa ensanguentada, ambos vermelhos, brilhando na luz tênue das lamparinas. Não havia sequer energia naquele local, o único objeto tecnológico eram os bloqueadores de frequência que desligavam qualquer aparelho em um raio de um quilômetro. Tudo que acontecia ali era secreto, único, e só seria lembrado pelos presentes. Homens comuns não entravam naquela enorme sala feita totalmente de pedras antigas, com um teto tão alto quanto um prédio de três andares. Homens comuns não se sentavam nas cadeiras e mesas de carvalho, não bebiam do caro vinho italiano fabricado no final do século dezenove. Não. Apenas o mais alto escalão da Camorra estava ali, nenhuma mulher, nenhum aliado ou inimigo. Apenas aqueles que juravam pela Camorra e era considerados importantes poderiam presenciar a cerimônia. Meu pai teve sua cerimônia dois meses antes da morte do meu avô, foi coroado e honrado como o próximo Capo. Ninguém imaginava que ele assumiria seu lugar de direito tão rápido. Papai indicou com a cabeça a única mesa quadrada do local, de frente para o palco de madeira, onde apenas tio Nico e Luca estavam sentados. Me sentei ao lado direito do meu tio e o pai seguiu para o palanque, ajeitando seu terno preto ao subir os degraus. Quando ele se virou para nós, os homens se sentaram outra vez e ele sorriu e tirou cada uma das armas em seu corpo, colocando-as sobre o pequeno pedestal ao seu lado. Ele era o único homem que poderia entrar armado; um sinal de seu poder e importância. Todos nós havíamos nos desarmado na entrada. 

Um sinal de confiança. — Meu pai disse dando início a cerimônia. Não, não meu pai. Meu Capo. Meu corpo todo se arrepiou quando, novamente, a magnitude daquela ocasião me impressionou. O italiano de papai era impressionante, como se fosse sua língua nativa. Naquela noite, não pronunciariamos nenhuma palavra em inglês. Aquele dia era italiano, como o solo que pisavamos, como o sangue da Camorra em nossas veias. — Caros irmãos, é de uma honra imensurável ter vocês aqui.

Il nostro onore! — A multidão ecoou em italiano. Poderia parecer uma fala ensaiada, mas havia extremo respeito na expressão de cada homem presente. Eles realmente, realmente, se sentiam honrados por simplesmente estarem na presença do Capo. 

— Lembro-me até hoje do dia em que pisei nesse local pela primeira vez. Muitos estão aqui pela primeira vez. Meu filho, meu sobrinho, os filhos e sobrinhos dos meus irmãos. É, de fato, impressionante, não é? — Papai soltou uma risada baixa, olhando ao redor com reconhecimento.  — Há duzentos e cinquenta anos atrás, nessa mesma sala, nossos antepassados davam vida a um projeto, uma sociedade. Quando nos desvinculamos das outras organizações e trilhamos nosso próprio caminho, haviam muitas dúvidas, muitos questionamentos.

“Giuseppe Parisi, disse, nesta mesma sala: quem sabe um dia conquistamos o mundo? E olha onde estamos. Século vinte e um, com filhos e netos trilhando o mesmo caminho que começaram duzentos anos atrás. Sendo nós uma das maiores organizações do mundo, sendo nós fonte de dinheiro e poder indefinido, sendo nós… Uma família. Não, não ligados por sangue, alguns de nós perderam o parentesco décadas atrás, mas sim ligados pela honra, pelo que significa ser um Camorrista. Uma unidade que precisa de cada membro, de cada soldado, para que prospere cada dia mais. A rosa ensanguentada perpetuou, como cada família italiana presente nessa sala. Cada família que fundou a Camorra, duzentos e cinquenta e sete anos atrás. Cada família que merece ser lembrada. Honremos nossos antepassados.”

CINZAS - Saga Inevitável: Segunda Geração. Where stories live. Discover now