Capítulo 4

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Anahí devia estar focada no convidado sentado à sua frente. Era um tricampeão de futebol, elogiado pelo mundo todo não por suas habilidades no jogo, mas pelas mulheres e pela aparência rude e bela que o projetara, junto com a bola de futebol, para o mundo das fantasias de todas as meninas com menos de 18 anos do país.

Mas Anahí não conseguia se concentrar no jovem atleta. Em vez disso, continuava pensando num certo escritor moreno irascível de olhos castanhos esverdeados. Não conseguia imaginá-lo mimando e acalmando Sabrina como a Sra. Bracho fazia, mas não achava que a abandonaria ou algo parecido. Seria eficiente. E por alguma razão, Sabrina parecia gostar dele.

Era fascinante.

Havia algo naqueles olhos.

O verde profundo, talvez. O jeito que se reviravam, como um oceano tempestuoso.

Sabrina certamente não reparou nesses detalhes.

Mas Anahí reparou.

Notou-os como não notava um homem há muito tempo.

Não desde Manoel. Fechou os olhos e massageou as têmporas. Prometera seguir em frente, colocar o passado onde deveria estar: no passado. Não se sentir culpada.

Manoel dissera para seguir em frente, viver sua vida.

Achar outro alguém. Um marido para ela. Um pai para Sabrina. Porque ele não estaria lá para fazer esse trabalho.

— Tem certeza de que a luz vai bater em meu lado bom? — perguntou Berry Perkings. Ele tirou um pente do bolso, aperfeiçoou o cabelo loiro já perfeito e então sorriu. — Porque meus fãs esperam isso, claro.

— Claro. — Vaidade, vosso nome é Berry Perkings. Fitou seu bloco de anotações para escrever um lembrete sobre o "lado bom" e ruborizou. Em vez de anotações sobre o jogador, seu bloco estava cheio de letras "A" rabiscadas.

Tinha Alfonso em mente. Isso não era bom. Especialmente porque o homem a incomodava extremamente. Não entendia como alguém podia ser tão ranzinza.

Certamente explicava por que nunca o vira antes. Ele era a definição de "eremita".

Olhou de relance para a foto de Sabrina em sua mesa. Será que ele estava segurando-a agora? Sua filha estaria rindo? Ou chorando? Ou dormindo tranquilamente? Seu olhar voltou-se para o telefone e teve de segurar a caneta com força para resistir à vontade de ligar para Alfonso.

— Vocês vão colocar água filtrada em meu camarim, não? E chocolate amargo, recheado de framboesa? Certifique-se de que não seja de morango ou, Deus me livre... — Pressionou a mão na testa. — Nem de coco. Só de framboesa.

Forçou um sorriso paciente.

— Certamente.

Programar água filtrada e chocolates personalizados para grandes astros não era a vida que imaginara quando ficou grávida. Acostumar-se a isso estava sendo muito mais difícil do que esperava. Não esperava, realmente, trabalhar por um ano ou dois depois que Sabrina nascesse. Era para Manoel ser o provedor da família. Assim poderia ficar em casa com Bri, afastar-se da carreira temporariamente e depois voltar ao trabalho.

Então Manoel morreu, e ela fora jogada no papel de provedora, mãe, pai, dona de casa, tudo de uma vez. O plano havia dado terrivelmente errado e, quando estava no escritório, simplesmente não conseguia pensar em Sabrina, porque, quando pensava em tudo o que estava perdendo, ficava maluca.

Mais para frente, só de pensar em não ver os primeiros dentes, passos, palavras...

Esquece. Ou teria de instalar câmeras de vigilância ou encontrar um trabalho que pudesse fazer de casa. A separação a mataria se não fosse assim.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now