Capítulo 35

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— Sua garrafa de Chardonnay. — A garçonete apresentou o vinho e duas taças. Ela serviu e esperou que Alfonso experimentasse e murmurasse algo em aceitação antes de sair novamente.

— O ravióli de lagosta daqui é ótimo. E a lasanha de cogumelos, também.

Ele abriu o cardápio.

— Alfonso, por que está fazendo isso?

— Achei que queria uma sugestão, como já vim aqui algumas vezes. Mas, se quiser, posso chamar Jordan. Ele já experimentou tudo.

— Não, quis dizer, por que está se dando ao trabalho de me conquistar se não tem intenções de me amar também?

As palavras ficaram entre eles, pesadas. Alfonso apoiou o cardápio sobre a mesa e empurrou-o para o lado.

— Não estou tentando fazer isso, Anahí.

— Uma noite fora agradável. Um jantar agradável.

Anahí tinha que parar de se enganar, parar de se envolver com esses detalhes e ser realista sobre o que esta noite significava.

— Um encontro por pena da mãe solteira.

— Não, claro que não.

— Vamos, Alfonso, não me trate com condescendência. Eu entendo. Não precisa sentar aqui e fingir que está a fim de mim e desta noite. Nós dois sabemos como vai terminar.

— Anahí...

— Você vai voltar para sua vida solitária. E eu, para minha. — Ela respirou e forçou as palavras pela garganta. — Não posso me apaixonar por você, Alfonso. Não posso fazer isso comigo e com minha filha, porque sei como é perder alguém. Então não desperdice isso comigo. — Gesticulou para o cenário romântico. — Pode usar essas artimanhas para uma mulher que não venha com tantas complicações. — Apanhou a bolsa, com o coração partido. — Obrigada mesmo assim.

— Por que está me agradecendo?

— Porque, por um minuto, você me fez lembrar como era ser mulher. E me fez perceber que há esperanças de que eu tenha uma vida algum dia. Com um homem que quer o que quero. — Seu olhar encontrou o dele, e todos aqueles beijos, as vezes que segurara sua mão e os sorrisos afundaram dentro dela. — Queria que fosse você e sinto muito que não tenha sido. Boa noite, Alfonso. Muita sorte com seu livro.

Então se virou e saiu antes que mudasse de ideia e cometesse um erro do qual se arrependeria não só esta noite.

Mas por anos.

Depois que pagou o taxista, tocou a campainha da Sra. Bracho e preparou-se para o sermão que viria. Como esperado, ela fez uma careta quando abriu a porta. Sabrina estava no chão da sala, balançando um chocalho.

— Onde está Alfonso? Por que voltou tão cedo?

— Senti saudade de Sabrina — disse, enquanto entrava na casa e sentava-se no chão, ao lado da filha. Bri fitou a mãe e sorriu, deixando o chocalho e segurando seu dedo com força, como se não quisesse que ela fosse embora novamente. — Não é razão o bastante para voltar mais cedo?

— Não quando você deveria estar fora se divertindo. E especialmente não quando saiu daqui numa limusine e voltou num táxi.

Ela xingou mentalmente em direção à grande janela da sala na frente da casa, pela qual a Sra. Bracho assistia ao movimento do bairro.

— Obrigada por cuidar de Sabrina hoje, mas Alfonso e eu... Não fomos feitos para namorar.

A Sra. Bracho apoiou a limonada numa mesa e sentou-se perto dela numa poltrona ornada.

— Por que, exatamente?

Suspirou.

— É complicado. Basta dizer que queremos coisas diferentes.

— Ou vocês acham isso.

— Falamos sobre isso. Ele não quer se casar ou ter filhos. Ele está muito certo disso.

— Homens. Nunca sabem o que querem. Você tem que dizer a ele o que ele quer.

Riu.

— Sinto que Alfonso não é o tipo de cara ao qual você pode dizer alguma coisa.

A senhora considerou aquelas palavras enquanto bebericava a limonada.

— Talvez. Mas, ainda assim, acho que ele vai mudar de ideia.

Sabrina começou a chutar e assoprar bolhas, então riu; sozinha. Anahí riu também e beijou a testa de sua filha.

— Não tenho tempo para isso. Sabrina é minha programação única.

A senhora se inclinou, com o rosto carrancudo.

— Se deixar a criança ser seu mundo todo, Anahí, um dia vai acordar, a criança vai ter crescido, e seu mundo estará vazio.

Fitou Sabrina, com oito meses, ainda tão dependente.

— Ainda estou longe disso.

— Esses anos passam mais rápido do que você pensa querida.

A campainha tocou. A Sra. Bracho se levantou, sorrindo.

— Ora, ora, imagino quem pode ser. — Foi até a porta, abriu e virou-se para Anahí. — Olha quem veio nos visitar, Anahí. É Alfonso. Procurando por você.

Que conveniente. A Sra. Bracho provavelmente mandara uma mensagem telepática para ele vir. Aquela vizinha parecia querer se certificar de que todas as pessoas do bairro tivessem um final feliz. Apanhou a bolsa de fraldas, pegou Sabrina e se levantou.

— Vou levá-la para casa agora — disse, ignorando Alfonso. — Obrigada por cuidar dela, Sra. Bracho. Foi bom sair um pouco.

— Disponha querida.

— Anahí, eu quero falar com você. — disse Alfonso.

— Vou para casa — enfatizou-a, então passou por ele e foi embora. Em seu ombro, Sabrina se mexia, tentando alcançá-lo.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now