Capítulo 13

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Pouco depois, o bebê estava alimentado, o jantar, pronto, e Alfonso, limpo. O clima mudara da conversa sobre o passado para algo mais jovial, como se o cuspe de Sabrina tivesse mudado tudo. Anahí encheu um prato com macarrão pelando, cobrindo-o com uma porção generosa de almôndegas. Então se virou para ele.

— Queijo parmesão fresco?

— Está falando minha língua, querida.

— Acho que não preciso perguntar sobre o pão de alho — disse ela, rindo.

— Você não sabia que tem que alimentar os autores? É um jeito de apoiar as artes.

Ela sorriu e adicionou mais uma fatia de pão ao prato dele, entregando-lhe o jantar.

Ao lado da mesa, Sabrina brincava feliz no cercadinho, que também trouxera de casa.

Isso lhe dava tempo para se servir e sentar ao lado oposto de Alfonso na mesa redonda de vidro.

Assim que o fez, percebeu a estranheza da situação. Não tinha uma refeição com um homem há um ano. Desde Manoel. Falar sobre ele a fez lembrar-se da perda, como se uma onda estivesse esperando um momento como este para varrê-la.

Dissera a si mesma todos esses meses, que haveria tempo para lidar com o buraco em seu coração, em sua vida. Mas, desde que Manoel morrera, havia muitas coisas no caminho para encontrar esse tempo. A gravidez, o trabalho, as contas e agora Sabrina.

Estar aqui com Alfonso e falar de Manoel forçaram Anahí a lidar com a perda. Com a mágoa. Com o fato de que achara que não faria mais isso: sentar-se a uma mesa, como uma família.

Mas eles não eram uma família, eram? Era uma relação profissional. Embora não fosse convencional. Ainda assim, não podia deixar de notar como parecia fácil, especialmente quando riam juntos. Por um instante, podia esquecer por que estava ali.

E podia fantasiar que chegara, em casa depois de um longo dia de trabalho, assim como Alfonso, para formar essa família perfeita de três. Exatamente como sempre sonhara dar a Sabrina. Exatamente como queria.

— Você não está comendo — disse Alfonso.

— Desculpe. Eu... Ah... Distraí-me. — Brincou com o garfo. — Talvez essa seja uma boa hora para estabelecermos algumas regras.

— Regras? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Essa não é minha casa? Portanto, minhas regras?

— Se vamos trabalhar juntos, mesmo que por algumas horas, tenho regras também.

Ele se recostou.

— Deixe-me adivinhar. Você é uma daquelas mulheres tipo "use um apoio quando beber algo" e "nada de sapatos na casa". Você tem um infarto se eu deixar migalhas na mesa. Estou certo?

— Não. Está errado — respondeu ela, rindo.

— Então qual é o seu tipo? — perguntou ele, inclinando-se para frente.

Disse a si mesma que não importava que ele encurtasse a distância entre eles. Seu coração não acelerou nem um pouco. Eram os hormônios. Nada mais.

Porque não tinha um homem em sua vida há mais de um ano. Mesmo que Alfonso tenha dito que ela poderia escrever um novo capítulo em sua própria vida, não começaria agora. Apesar daqueles olhos azuis e de como as tempestades que se formavam neles á faziam questionar, pela primeira vez, se havia realmente algo faltando em sua vida.

— Sou do tipo que não precisa de mais complicações do que já tenho — disse ela.

— Isso — respondeu ele, encurtando a distância, depois se afastando novamente, colocando uma cerveja entre eles. — É exatamente o tipo de mulher que estou procurando.

— Que bom — disse ela, ainda pensando nele, apesar de tudo o que dissera, ainda pensando em como isso parecia não um encontro, mas...

Normal. Como se estivessem juntos, e tivessem feito isso umas cem vezes antes dessa. E como uma parte dela estava realmente adorando esse sentimento.

— Estou feliz que concordamos.

Nenhum deles disse nada durante algum tempo, o silêncio enfatizado pelos grunhidos felizes de Sabrina e um barulho de brinquedos ocasionais.

— Nenhuma mulher nunca cozinhou para mim antes. Só minha mãe. — Enrolou macarrão no garfo. — Ou eu escolho as mulheres erradas ou nunca conquistei nenhuma com minha personalidade exemplar.

— Podem ser as mulheres — respondeu, com um sorriso.

— Ou não.

— Só não sou um daqueles caras sensíveis. E não gosto de me aproximar.

— Por quê?

— Sou um homem. Não é o bastante?

— Até os homens abrem o coração... — Apanhou um pedaço de pão e encharcou-o no molho antes de mordê-lo. Mesmo que estivessem embarcando em assuntos muito pessoais, Anahí decidiu que valia a pena, já que tinha um adulto de verdade com quem conversar. — Se querem ter um relacionamento ou, pelo menos, um que progrida além do jantar.

— Talvez eu não queira.

— Está feliz sozinho? Para sempre?

— Talvez. No futuro próximo, pelo menos.

— Por quê? — O roto falando do esfarrapado. Ela não pensara exatamente a mesma coisa hoje?

Então por que se sentia desapontada? Por que esperava que ele dissesse o contrário?

Precisava controlar seus hormônios.

Ele fez a careta habitual.

— Você parece uma criança perguntando "por que" sem parar.

— É uma questão válida.

— Eu poderia perguntar a mesma coisa facilmente. Há quanto tempo seu marido faleceu?

— Há pouco mais de 15 meses. — Nossa, fazia tanto tempo? De algum modo, parecia mais. Especialmente quando estava sozinha na casa, com Sabrina adormecida, e percebia como sua vida era vazia.

Na pequena folga que tivera hoje, aquela meia hora no parque, fizera duas coisas.

Fizera com que desejasse mais ainda o que não podia ter.

E a fizera imaginar, de algum modo, se era possível conciliar uma vida com tudo o que seu mundo já englobava.

— Então o que você está esperando? — perguntou ele. — Sua filha ir para a faculdade antes de namorar?

— Já disse, mal tenho tempo para lavar roupas, imagine namorar. — Levantou-se e afastou-se da mesa, indo até a pia, e disfarçou as emoções lavando a louça.

Esperava secretamente que Alfonso a seguisse. Pressionasse-a para mais respostas.

Mas ele não o fez, e o silêncio parecia questioná-la ainda mais. Por que estava esperando? Por que ela estava colocando sua vida, e a de Sabrina, ainda mais na espera?

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now