Alfonso se levantou. Foi até a prateleira e passou a mão por dúzias de livros dele.
— Os críticos acabaram comigo por causa disso por anos. — Balançou a cabeça e se voltou para Anahí. — Se eu soubesse escrever sobre mulheres, seria um best-seller. Fiz um livro bom... E parece que perdi meu toque.
— Por quê?
Aqueles olhos estavam claros, sem malícia. Ela não tinha ideia, do que perguntara quais cicatrizes estava abrindo.
— Porque, naquele primeiro livro, estava escrevendo uma história completamente diferente. Não tinha tanta ficção, mas... — Expirou longamente e, em vez de falar, tocou-a no queixo. Ela entenderia? Saberia pelo que ele passara como arrancara o próprio coração do peito, jogara-o nas páginas e chamara de livro? E como, depois de fazer isso uma vez, nunca conseguira escrever outro livro como aquele?
Poderia Anahí, que também perdera seu amor, mas de uma maneira diferente, entender?
Ele a segurou, tocando-a com os dedos, procurando e desejando uma conexão.
— Você já se apaixonou antes, Anahí?
Ela ficou boquiaberta. A tentação de passar os dedos pelo lábio inferior dela, experimentar o que experimentara antes, rugia dentro dele.
— Sim — respondeu, sussurrando.
Nossa como ele queria beijá-la, experimentá-la, sentir aquele corpo contra o seu.
— E como você se sentia?
— Como... Se estivesse caindo de um penhasco, mas com uma nuvem esperando no fundo para me segurar.
Poesia. Era poesia quando ela falava.
— E ele também a amava?
Ela assentiu lentamente.
— Se conhecesse alguém que amasse novamente, depois de anos e anos separados, como seria? Se, digamos... — Os olhares se encontraram, e uma explosão de eletricidade faiscou no ar, como se um raio atingisse o chão. — Você e eu tivéssemos sido amantes e estivéssemos nos reencontrando?
— Mas não somos.
Cada pedaço dele assistia àqueles lábios movendo-se, notando como ela respirava.
Por um segundo, queria recapturar os dias nos quais escrevera o primeiro livro, quando acreditava no amor. Queria sentir o que Anahí sentia acreditar na poesia, nas nuvens.
— Finja que somos. Finja que costumava me amar. — O dedão acariciou a ponta daquele maxilar, e ela prendeu a respiração, assim como ele. — Como seria me ver novamente? Você ficaria triste? Ou... — Fez o que queria fazer desde que a conhecera, passeou o dedo por aqueles lábios delicados. — Animada?
— Hum... — Aquela respiração saiu num som sibilante. — Animada. Mas... Hum, assustada também.
— Por quê? — aproximou-se.
— Porque você me faz pensar em...
Alfonso esperou, mas ela não terminou a frase.
— Faço-a pensar em quê?
— Em tudo o que perdi. — Ela terminou as palavras sussurradas, com uma frase que não sabia se era sobre ele. Fechou os olhos por um longo momento, como se estivesse esperando, ansiando, desejando...
Que ele a beijasse.
O coração de ambos bateu. Novamente. Desejo pulsava pelas veias de Alfonso.
Quando Anahí o fitou novamente, quase não resistiu. Droga. O que estava fazendo?
Como chegou a esse ponto? Como foram do nada a uma explosão como essa em segundos?
— Obrigado — disse a Anahí, afastando-se, quebrando o clima, lembrando-se de quem era, por que ela estava aqui e, o mais importante, que ela era uma mãe solteira que não deveria se envolver com um escritor irascível com uma história pessoal duvidosa. — Era disso que eu precisava.
Aquele olhar verde-claro parecia confuso, e logo foi invadido por um ar de mágoa.
Um sorriso instável apareceu naqueles lábios.
— Fico... Fico feliz.
— É. Eu também. — Alfonso deixou-se cair na cadeira e começou a digitar, dizendo a si mesmo que era melhor assim. Envolver-se com uma mulher que trazia uma criança de brinde seria uma ideia muito ruim.
Monumentalmente ruim.
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PAPAI POR ENCOMENDA
ספרות חובביםO escritor Alfonso Herrera precisa de paz e solidão para poder produzir seus textos, e não de uma, bebê desconhecida na porta de casa! Mas ele não poderia simplesmente ignorá-la na soleira... Apesar de não saber lidar com crianças, fica pasmo quando...