Capítulo 18

91 7 0
                                    


Alfonso se levantou. Foi até a prateleira e passou a mão por dúzias de livros dele.

— Os críticos acabaram comigo por causa disso por anos. — Balançou a cabeça e se voltou para Anahí. — Se eu soubesse escrever sobre mulheres, seria um best-seller. Fiz um livro bom... E parece que perdi meu toque.

— Por quê?

Aqueles olhos estavam claros, sem malícia. Ela não tinha ideia, do que perguntara quais cicatrizes estava abrindo.

— Porque, naquele primeiro livro, estava escrevendo uma história completamente diferente. Não tinha tanta ficção, mas... — Expirou longamente e, em vez de falar, tocou-a no queixo. Ela entenderia? Saberia pelo que ele passara como arrancara o próprio coração do peito, jogara-o nas páginas e chamara de livro? E como, depois de fazer isso uma vez, nunca conseguira escrever outro livro como aquele?

Poderia Anahí, que também perdera seu amor, mas de uma maneira diferente, entender?

Ele a segurou, tocando-a com os dedos, procurando e desejando uma conexão.

— Você já se apaixonou antes, Anahí?

Ela ficou boquiaberta. A tentação de passar os dedos pelo lábio inferior dela, experimentar o que experimentara antes, rugia dentro dele.

— Sim — respondeu, sussurrando.

Nossa como ele queria beijá-la, experimentá-la, sentir aquele corpo contra o seu.

— E como você se sentia?

— Como... Se estivesse caindo de um penhasco, mas com uma nuvem esperando no fundo para me segurar.

Poesia. Era poesia quando ela falava.

— E ele também a amava?

Ela assentiu lentamente.

— Se conhecesse alguém que amasse novamente, depois de anos e anos separados, como seria? Se, digamos... — Os olhares se encontraram, e uma explosão de eletricidade faiscou no ar, como se um raio atingisse o chão. — Você e eu tivéssemos sido amantes e estivéssemos nos reencontrando?

— Mas não somos.

Cada pedaço dele assistia àqueles lábios movendo-se, notando como ela respirava.

Por um segundo, queria recapturar os dias nos quais escrevera o primeiro livro, quando acreditava no amor. Queria sentir o que Anahí sentia acreditar na poesia, nas nuvens.

— Finja que somos. Finja que costumava me amar. — O dedão acariciou a ponta daquele maxilar, e ela prendeu a respiração, assim como ele. — Como seria me ver novamente? Você ficaria triste? Ou... — Fez o que queria fazer desde que a conhecera, passeou o dedo por aqueles lábios delicados. — Animada?

— Hum... — Aquela respiração saiu num som sibilante. — Animada. Mas... Hum, assustada também.

— Por quê? — aproximou-se.

— Porque você me faz pensar em...

Alfonso esperou, mas ela não terminou a frase.

— Faço-a pensar em quê?

— Em tudo o que perdi. — Ela terminou as palavras sussurradas, com uma frase que não sabia se era sobre ele. Fechou os olhos por um longo momento, como se estivesse esperando, ansiando, desejando...

Que ele a beijasse.

O coração de ambos bateu. Novamente. Desejo pulsava pelas veias de Alfonso.

Quando Anahí o fitou novamente, quase não resistiu. Droga. O que estava fazendo?

Como chegou a esse ponto? Como foram do nada a uma explosão como essa em segundos?

— Obrigado — disse a Anahí, afastando-se, quebrando o clima, lembrando-se de quem era, por que ela estava aqui e, o mais importante, que ela era uma mãe solteira que não deveria se envolver com um escritor irascível com uma história pessoal duvidosa. — Era disso que eu precisava.

Aquele olhar verde-claro parecia confuso, e logo foi invadido por um ar de mágoa.

Um sorriso instável apareceu naqueles lábios.

— Fico... Fico feliz.

— É. Eu também. — Alfonso deixou-se cair na cadeira e começou a digitar, dizendo a si mesmo que era melhor assim. Envolver-se com uma mulher que trazia uma criança de brinde seria uma ideia muito ruim.

Monumentalmente ruim.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now