Capítulo 15

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Porque trabalhara duro para se proteger dessas coisas. Auto-preservação. Fechar a veia antes que sangre outra vez. Já conhecia aquela dor e não desejava experimentá-la novamente.

— Por que você iria querer minha ajuda?

— Você entende da única coisa na qual não sou bom.

— A única coisa que eu entendo bem são programas de televisão. E bebês. E nessa área, ainda sou bem nova. — Sorriu para o bebê e beijou-o na bochecha. A criança, contente e alimentada, aconchegou-se no ombro da mãe.

— Você é boa com, bem... — Hesitou, então forçou a palavra. — Amor.

Anahí tossiu.

— Você disse amor?

— É uma coisa na qual eu... Bom, meio que falhei. E não consigo passar essas emoções, na verdade, nenhuma emoção, para o papel, nem para salvar minha vida.

— E você acha que eu consigo escrever sobre uma emoção como o amor? Por quê?

— Por que... — Ele aproximou-se como se, pudesse penetrar os mistérios dos sentimentos daqueles olhos ao ver a maneira como ela segurava a filha e passá-los para o computador. — Porque vejo amor toda vez que você olha para sua filha. No jeito como a beija, a segura.

Anahí sorriu.

— Bom; Sabrina faz sua parte. Mesmo quando está resmungona, ela faz com que seja muito fácil gostar dela.

— Aí. Bem isso aí — disse ele, diminuindo ainda mais a distância entre eles. — Se você pudesse descrever o que está sentindo, então talvez eu pudesse colocar em meu trabalho. E isso faria meu editor e, eventualmente, meus leitores, felizes.

— Ainda não entendo. Há um bebê em sua história?

Ele riu.

— Não mesmo. Criança nunca aparece em meus livros.

— Por que não?

— Não trabalho bem com elas. No papel ou fora. — Então percebeu como aquilo soou, considerando que era babá temporariamente. — Exceto com sua filha, claro.

— Claro. — Com um sorriso sarcástico, mostrou o quanto o desacreditava. — De qualquer jeito, é uma boa ideia, mas ainda não vejo como posso ajudar. E tenho que ir trabalhar. O que significa que é sua vez de cuidar de Sabrina.

— E se... — Hesitou um segundo, formulando a ideia. — Se você dissesse que está doente por alguns dias e trabalhasse para mim?

— Dizer que estou doente. Trabalhar para você. — Ela repetiu as palavras, automaticamente, sem acreditar. — Como eu poderia arcar com isso?

— Eu te pago.

— Você não pode arcar com isso. E o que exatamente você me pagaria para fazer?

— Me ajudar com o livro, como eu disse antes! Escuta, tenho duas semanas para terminar esse livro. Para transformá-lo em algo incrível. Algo que venda. Meus últimos livros foram... Bom, eles...

— Afundaram. — Ela sorriu, desculpando-se. — Sei usar o Google.

Ela pesquisara sobre ele. Ora, ora. Talvez estivesse mais atraída por ele do que pensara. Ou talvez estivesse interpretando mal uma pesquisa no computador.

— Afundaram é um elogio provavelmente.

— E se eu não ajudar?

— Meu novo livro vai tão mal quanto os outros e, eu perco o contrato, o que significa que terei eventualmente que arranjar um emprego de verdade. E você sabe quão bem me dou com pessoas, particularmente adultos. — Ela sorriu, o que interpretou como um sinal de que a estava convencendo. — Você só é bom de acordo com sua última venda. E não vendo bem há muito tempo. E como...

Ele parou, e Anahí se aproximou, equilibrando o bebê.

— Como o quê?

Balançou a cabeça.

— Nada. Só preciso de ajuda. É isso.

Virou-se e começou a dar voltas, acariciando as costas da criança.

— Se eu disser que estou doente, meu chefe vai ter um ataque. Estamos no meio da produção do programa da semana que vem e...

— Ele pode viver sem você?

Ela riu.

— Ele acha que não.

Pensou por um minuto.

— Quanto mais você tem que trabalhar para arrumar esse programa?

— Por mim? Na verdade, eu estou pronta. Tenho todos os convidados prontos. O restante é só detalhe. Certificar-me de que tenham suas garrafas de água importada e jarras de M&M's azuis apenas, essas coisas.

— Então ele pode viver sem você.

— Talvez possa.

— Agora eu não posso. Então isso decide por nós. — Apesar de as palavras terem saído como uma piada, e essa era a intenção, diminuíra a distância entre eles e, repentinamente, o que quis dizer soou muito mais sério. Como se tivesse parado de falar sobre sua carreira e entrasse num outro assunto, mais profundo: relacionamentos.

O que definitivamente não havia feito. Estava falando sobre livros. Nada mais.

— Acho que posso tirar alguns dias de folga.

— Aceito o que posso ter. — Sorriu. — E se você prometer fazer outro jantar caseiro, nós ficamos quites.

Anahí estendeu a mão. Segurou-a, notando os ossos delicados, o jeito como aquela pele parecia seda contra sua mão mais áspera.

— Combinado, Sr. Herrera.

Quando encarou aqueles olhos azuis profundos, algo se revirou no peito dele. E Alfonso imaginou que tipo de acordo havia feito.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now