Capítulo 20

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O bebê não cooperava.

Tentou niná-lo. Alimentá-lo. Trocar as fraldas. Ainda assim, Sabrina não parava de chorar. Continuava estendendo os braços, como se tentasse apanhar algo invisível.

Então percebeu que o que Bri queria era a mesma coisa que ela queria e não devia ter.

— Você sabe que ele não vai gostar Bri. Não devo interrompê-lo antes das 10h. Não é o turno dele.

Sabrina só continuou chorando. Conhecia esse temperamento. Ela não ficaria calma, não até ter o que queria. E o que queria agora, mesmo que fossem 9h45 ou 10h, era Alfonso.

Foi até o escritório e bateu na porta.

— Alfonso? Posso entrar?

— Se for urgente.

Assim que abriu a porta, Sabrina inclinou-se para frente.

— Alguém queria vê-lo. Tentei tudo para fazê-la parar de chorar, mas, aparentemente, é você que ela quer agora.

— Eu. — Nenhum ponto de interrogação.

— É. Pode segurá-la só por um minuto? Então livrarei você dela. Prometo.

— Pegar a criança de você. — Outra não pergunta.

— Só por um minuto — reafirmou-a.

— Acho que poderia. — Levantou-se e foi até Anahí, com uma careta profunda.

Estranho. Alfonso não tinha problemas para cuidar de Sabrina. Empurrar o carrinho. Dar-lhe a chupeta, colocá-la no cobertor, até segurar a mamadeira. Mas segurá-la fisicamente...

Era como puxar os dentes dele toda vez que tentava colocar Sabrina naquele colo.

Não acreditava no que ele tinha dito sobre a questão do cheiro e dos gritos. E ele parecia gostar de Sabrina, só não gostava de segurá-la.

Talvez tivesse medo de derrubá-la. Muitas pessoas se sentiam assim quando começavam a lidar com bebês.

— Ela não vai quebrar, sabe — disse ela, entregando Sabrina.

— Imaginei — respondeu ele. — Senão, teria um daqueles avisos de frágil.

Bri parou de chorar assim que Alfonso a segurou e se remexeu, tentando caber no espaço entre os braços e o peito dele. Alfonso, apesar disso, manteve distância, conseguindo evitar que ela escorregasse para muito perto.

— Ela gosta muito de se aconchegar.

— É, percebi.

Tudo bem, talvez não fosse um cara chegado a bebês. Mas... Suspeitava que fosse sim, no fundo. Pegara-o sorrindo para Sabrina algumas vezes, até brincando com ela.

Afastou-se, propositalmente, aumentando a distância entre eles.

— Hum... — Ele fez uma careta. — Acho que ela...

Sorriu.

— Você que está segurando. Regras de bebê.

— Você fez de propósito.

— Não fiz verdade — riu. Mas essa é a regra do bebê. Quem está segurando a criança quando a fralda fica suja tem que trocá-la.

— Nada justo. — Ele estendeu o bebê para ela. — Ela é sua. Você troca.

Cruzou os braços, sorrindo enquanto se afastava mais.

— Não.

— Minhas irmãs costumavam tentar me encurralar assim — disse ele, cruzando a sala até Anahí rapidamente. Antes que pudesse se afastar, segurou seu braço. — Fiz um adendo às regras do bebê.

— Adendo?

— É. Se eu pegar você, tem que me ajudar. — Aqueles olhos azuis encontraram os dela. — Peguei.

Riu.

— Está bem, vou ajudar.

Cinco minutos depois, Sabrina estava no chão, num tapete de plástico. Um pacote de lenços e uma nova fralda ao lado dela. Alfonso estava de joelhos, fazendo careta.

— Nunca faria isso por mais ninguém.

Preparou um lenço.

— Confie em mim, se ela não fosse minha filha, também não faria.

— Prenda a respiração. Vou entrar. — Ele descolou as abas dos lados, abaixou a frente da fralda e sua careta aprofundou-se.

Teve que rir ainda mais. Alfonso fitou-a e soltou uma risada. Ofereceu um lenço, então outro e outro. Em alguns minutos, tinham trocado a fralda e limpado as mãos.

— Foi tão ruim assim?

— Foi tão bom assim?

— Foi por Bri.

Ele fitou o bebê.

— Bom, desde que tenha sido bom para ela.

— Depois de crescer numa família tão grande... Você já quis ter filhos?

A questão pareceu atingi-lo como uma parede de tijolos. Alfonso estendeu Sabrina de volta para ela, aquela geleira do parque instaurando-se novamente.

— Acho que ela quer você agora. Tenho que trabalhar. — Ele levantou e desapareceu escada acima.

Fim de papo.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now