O bebê não cooperava.
Tentou niná-lo. Alimentá-lo. Trocar as fraldas. Ainda assim, Sabrina não parava de chorar. Continuava estendendo os braços, como se tentasse apanhar algo invisível.
Então percebeu que o que Bri queria era a mesma coisa que ela queria e não devia ter.
— Você sabe que ele não vai gostar Bri. Não devo interrompê-lo antes das 10h. Não é o turno dele.
Sabrina só continuou chorando. Conhecia esse temperamento. Ela não ficaria calma, não até ter o que queria. E o que queria agora, mesmo que fossem 9h45 ou 10h, era Alfonso.
Foi até o escritório e bateu na porta.
— Alfonso? Posso entrar?
— Se for urgente.
Assim que abriu a porta, Sabrina inclinou-se para frente.
— Alguém queria vê-lo. Tentei tudo para fazê-la parar de chorar, mas, aparentemente, é você que ela quer agora.
— Eu. — Nenhum ponto de interrogação.
— É. Pode segurá-la só por um minuto? Então livrarei você dela. Prometo.
— Pegar a criança de você. — Outra não pergunta.
— Só por um minuto — reafirmou-a.
— Acho que poderia. — Levantou-se e foi até Anahí, com uma careta profunda.
Estranho. Alfonso não tinha problemas para cuidar de Sabrina. Empurrar o carrinho. Dar-lhe a chupeta, colocá-la no cobertor, até segurar a mamadeira. Mas segurá-la fisicamente...
Era como puxar os dentes dele toda vez que tentava colocar Sabrina naquele colo.
Não acreditava no que ele tinha dito sobre a questão do cheiro e dos gritos. E ele parecia gostar de Sabrina, só não gostava de segurá-la.
Talvez tivesse medo de derrubá-la. Muitas pessoas se sentiam assim quando começavam a lidar com bebês.
— Ela não vai quebrar, sabe — disse ela, entregando Sabrina.
— Imaginei — respondeu ele. — Senão, teria um daqueles avisos de frágil.
Bri parou de chorar assim que Alfonso a segurou e se remexeu, tentando caber no espaço entre os braços e o peito dele. Alfonso, apesar disso, manteve distância, conseguindo evitar que ela escorregasse para muito perto.
— Ela gosta muito de se aconchegar.
— É, percebi.
Tudo bem, talvez não fosse um cara chegado a bebês. Mas... Suspeitava que fosse sim, no fundo. Pegara-o sorrindo para Sabrina algumas vezes, até brincando com ela.
Afastou-se, propositalmente, aumentando a distância entre eles.
— Hum... — Ele fez uma careta. — Acho que ela...
Sorriu.
— Você que está segurando. Regras de bebê.
— Você fez de propósito.
— Não fiz verdade — riu. Mas essa é a regra do bebê. Quem está segurando a criança quando a fralda fica suja tem que trocá-la.
— Nada justo. — Ele estendeu o bebê para ela. — Ela é sua. Você troca.
Cruzou os braços, sorrindo enquanto se afastava mais.
— Não.
— Minhas irmãs costumavam tentar me encurralar assim — disse ele, cruzando a sala até Anahí rapidamente. Antes que pudesse se afastar, segurou seu braço. — Fiz um adendo às regras do bebê.
— Adendo?
— É. Se eu pegar você, tem que me ajudar. — Aqueles olhos azuis encontraram os dela. — Peguei.
Riu.
— Está bem, vou ajudar.
Cinco minutos depois, Sabrina estava no chão, num tapete de plástico. Um pacote de lenços e uma nova fralda ao lado dela. Alfonso estava de joelhos, fazendo careta.
— Nunca faria isso por mais ninguém.
Preparou um lenço.
— Confie em mim, se ela não fosse minha filha, também não faria.
— Prenda a respiração. Vou entrar. — Ele descolou as abas dos lados, abaixou a frente da fralda e sua careta aprofundou-se.
Teve que rir ainda mais. Alfonso fitou-a e soltou uma risada. Ofereceu um lenço, então outro e outro. Em alguns minutos, tinham trocado a fralda e limpado as mãos.
— Foi tão ruim assim?
— Foi tão bom assim?
— Foi por Bri.
Ele fitou o bebê.
— Bom, desde que tenha sido bom para ela.
— Depois de crescer numa família tão grande... Você já quis ter filhos?
A questão pareceu atingi-lo como uma parede de tijolos. Alfonso estendeu Sabrina de volta para ela, aquela geleira do parque instaurando-se novamente.
— Acho que ela quer você agora. Tenho que trabalhar. — Ele levantou e desapareceu escada acima.
Fim de papo.
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PAPAI POR ENCOMENDA
FanfictionO escritor Alfonso Herrera precisa de paz e solidão para poder produzir seus textos, e não de uma, bebê desconhecida na porta de casa! Mas ele não poderia simplesmente ignorá-la na soleira... Apesar de não saber lidar com crianças, fica pasmo quando...