Capítulo 6

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Quando Anahí chegou, ele já havia se rendido. A criança, que originalmente acalmava-se com um olhar, agora queria que fizesse a única coisa que não faria.

Segurá-la.

Poderia dar comida, trocar a fralda, fazê-la deitar para um cochilo, pegá-la momentaneamente, só o bastante para colocá-la novamente no chão ou na cadeirinha.

Mas caminhar com ela no ombro? Não fazia parte da descrição do trabalho. E não era algo que ele, entre todas as pessoas, deveria estar fazendo. Primeiro, tinha um histórico de ser estabanado com crianças. Sua mãe não o apelidou de "Alfonso Derrubão" à toa. Além disso, ele e bebês não... Criavam laços.

Mas era mais que isso. Muito mais. Uma história na qual não gostava de pensar...

E não pensaria.

Era um trabalho temporário que aceitou num momento de clara fraqueza emocional, o que significava que não estava prestes a tentar mudar seus costumes. E não precisava.

Antes que percebesse, a coisa toda teria terminado.

Estava sentado na poltrona, embalando a cadeirinha de Sabrina com o pé. Bri tinha a chupeta na boca, mas ainda conseguia choramingar. Mentalmente, ele rezava para que Sabrina desistisse e voltasse a dormir.

Então a campainha tocou e, ele ouviu batidas.

— Alfonso? É Anahí.

Sua salvação chegara.

Abriu a porta e deixou-a entrar.

— Finalmente. Ela sentiu saudade. — Na verdade, ele provavelmente sentira mais saudade, estritamente no sentido de "pegue essa criança de volta", claro.

Anahí sorriu. Um sorriso que atingia suas entranhas e quase o deixava com inveja. Será que alguém já o olhara assim? Já ficara tão feliz ao vê-lo no fim do dia?

Ela passou por ele, foi direto á cadeirinha, desafivelou o cinto da criança e pegou-a no colo. Um segundo depois, estava com Sabrina contra o peito, caminhando em círculos novamente, acalmando-há. Um pouco.

— Você está pronta? Se estiver, vou voltar ao trabalho. — Deu a bolsa com as fraldas para Anahí, praticamente jogando-a em seu ombro.

— Espere. Você nem ouviu minha ideia. Lembra? Eu mencionei ao telefone?

— Conte-me depois. — Começou a andar em direção ao escritório. — Você está aqui. Meu turno acabou. — Certo, eram só três da tarde, provavelmente muito cedo para seu turno ter acabado, mas Anahí estava ali, e isso era o bastante.

Havia terminado. No que esteve pensando? Tentando cuidar de um bebê, dentre todas as coisas? Não podia fazer isso. Não devia.

Durante o dia todo, tentou se convencer de que podia manter distância. Não ser enfeitiçado por aqueles olhos azuis e aquele sorriso desdentado. Que estar com essa criança não abriria aquelas, portas que se esforçara tanto para fechar.

Estava errado.

Agora queria desistir. Ficar longe. O mais rápido possível.

Caminhou para o andar de cima, mas Anahí o seguiu como se morasse ali. Direto para seu escritório. Novamente.

— Tecnicamente, você não terminou ainda. Ainda preciso de uma babá porque ainda estou trabalhando. Só troquei... De lugar.

Pela primeira vez desde que ela chegou, notou a bolsa de couro pendurada em seu ombro. Papéis saindo de todos os bolsos.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now