Viu-a inspirar e sabia que oferecera o trunfo que ela não poderia recusar. Anahí olhou através dele para o quarto onde sua filha dormia, e naqueles olhos, viu-a dividida entre a vida que tinha e a que poderia ter...
Se apostasse em Alfonso.
Uma aposta que até ele não tinha tanta certeza de que faria.
Acabara de receber tudo o que sempre quis numa bandeja de prata.
O problema?
Estava tudo ligado a Alfonso Herrera, o homem que virara seu mundo de cabeça para baixo.
Conseguiria trabalhar em casa, agüentaria uma mudança de emprego, tinha certeza.
E ele estava certo, sabia que escrever livros era o tipo de trabalho que tocava as pessoas, como queria quando estava na faculdade, diferente de seu trabalho atual. Mas uma mudança da estação de TV, cheia de pessoas, para a calma casa do quieto e solitário escritor...
Era uma mudança completa.
Sem mencionar que, toda vez que se aproximava dele, não pensava em trabalho, salário ou pagar contas, mas em beijá-lo. Não era exatamente uma boa maneira de manter o pagamento da hipoteca no banco ou comida na geladeira.
Pela primeira vez em semanas, estava grata pela reunião obrigatória das terças, à qual não podia faltar, a menos que "estivesse morta ou num processo de desmembramento", segundo as palavras de Lincoln. O tempo no trabalho lhe daria uma boa desculpa para deixar a casa de Alfonso por algumas horas, evitando uma resposta aquela proposta de trabalho. Sabrina ficara para trás com ele, que assegurara que conseguiria fazer o bebê brincar e deitar para a soneca matutina.
— Aí está você! — disse Alice ao sair do elevador. — A mulher invisível.
— Desculpe. Pelo menos, cheguei a tempo para a reunião de produção das quintas.
— Ah, esqueci de ligar! Lincoln cancelou. O que você disse para ele? Ele tem estado... Decidido. Nada parecido com ele.
Riu.
— Cansei de ir a reuniões a cada cinco minutos e, quando não estava à disposição dele, sugeri que tomasse decisões, sozinho.
Alice levantou a mão num gesto de "bate aqui".
— Que bom para você. Já era hora de alguém fazê-lo crescer.
Riu e bateu na mão de Alice.
— Só estou fazendo meu trabalho e aparentemente conseguindo um pequeno milagre no processo.
— Bom, ainda bem. Você é inestimável por aqui, El. Não sei o que faríamos sem você.
— Ouvi isso várias vezes hoje.
Alice apoiou-se na borda da mesa e sorriu.
— Pela expressão no seu rosto, eu diria que a outra pessoa te dizendo isso é um H-O-M-E-M.
Ruborizou. Por acaso, estava na sexta série?
— É um cara, mas é só meu vizinho.
— Só um vizinho, é? — Alice sorriu. — Ele é fofo?
— Acho que sim. É alto. Moreno. Olhos azuis. Se você gosta desse tipo de coisa.
— Alô, se você respira você gosta. E como você conheceu o Senhor Maravilhoso?
— Ele está cuidando da Sabrina enquanto a Sra. Bracho cuida da irmã. Ele faz a Bri rir. E gosta de piqueniques. Outro dia, fizemos um, só nós três. — Tentou esconder o sorriso formando-se em seus lábios, mas não conseguiu. — Ele é escritor.
— E é sexy e ama bebês? Case agora, Anahí, antes que o restante da população feminina de Boston o agarre. E se ele tiver um irmão, passe para cá, porque eu faria bom uso de um bom homem ou até um meio decente.
Não ia discutir sobre namorar Alfonso Herrera e muito menos se casar com ele. Puxou a agenda da bolsa e começou a folheá-la.
— Amanhã de manhã filmaremos o primeiro segmento do programa da próxima semana. Estamos prontos para receber o convidado? Você confirmou a aparição dele?
— Checado duas vezes. Pedi o refrigerante que ele gosta e teremos aqueles biscoitos que ele pediu meia hora antes.
— Bom. Vou passar no estúdio e repassar as luzes e os ângulos da câmera com o diretor. E ter certeza de que o set está pronto.
Alice apoiou a mão em seu ombro.
— Vai dar tudo certo, como o programa da semana passada. Pode relaxar.
— Sei que vai, mas é meu trabalho me preocupar.
— Eu sei, mas... — Alice mordeu o lábio inferior.
— O quê?
— Deixa para lá. Não vou nem perguntar.
— Alice, faz dois anos e meio que você me conhece, desde que trabalho aqui. Pode me perguntar qualquer coisa.
Alice expirou profundamente, então apertou sua mão.
— Você parece tão estressada toda vez que entra aqui. Sei que você concilia muitas coisas, e Deus sabe que eu não trocaria minha vida pela sua por todo o milho em Indiana, mas fico imaginando se... Você está se divertindo? Quero dizer, qualquer trabalho vale à pena se você se diverte.
— Diversão? — Riu um pouco. Fechou a agenda. — O que é isso?
— Exatamente, El. Acho que você parou de se divertir duas promoções atrás. E não estou dizendo isso para convencê-la a se demitir, mas odiaria ver sua vida girar em torno do salário. Quando vi você falar de seu vizinho e do piquenique, vi diversão em seu rosto, e eu não via isso há muito tempo. Fiquei com um pouco de inveja.
— Ah, Alice, foi só um piquenique, não significou nada.
— Não, mas percebi que odeio trabalhar aqui. É como ser uma lagosta numa panela fervente, e toda vez que você tenta escapar Lincoln fecha a tampa novamente. — Alice estapeou a mesa para enfatizar sua fala. — Você me convenceu. Vou pegar os classificados na hora do almoço. — Inclinou-se para frente. — Sabe no que me formei? Artes. Estarei feliz pintando, não pegando café para Lincoln e agüentando mais uma daquelas broncas.
— Que bom para você — disse. — Ei, se há uma cidade que é boa para achar um emprego com artes, essa cidade é Boston.
Alice assentiu feliz pela decisão.
— Isso resolve minha vida. Agora qual é sua desculpa para ficar aqui por tanto tempo?
Estremeceu, percebendo que realmente estava na televisão por tempo demais, trabalhando para um chefe exigente é teimoso. Um chefe de quem nem gostava mesmo.
— Vim quando Manoel veio e fiquei depois que ele morreu, porque era mais fácil do que encarar mais uma mudança radical. E ficava pensando que eventualmente encontraria meu nicho, acharia um jeito de criar aquelas histórias que sempre sonhei em criar.
— Em vez disso, você está servindo comida para jogadores de futebol com egos maiores que um arranha-céu. E ficando aqui em vez de lidar com... Bom, tudo.
Riu tanto que seu abdome doeu.
— É, e não estou mais feliz por estar aqui do que você. Talvez você devesse pegar duas cópias dos classificados na hora do almoço.
Alice sorriu.
— Pode deixar Anahí. Pode deixar.
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PAPAI POR ENCOMENDA
FanfictionO escritor Alfonso Herrera precisa de paz e solidão para poder produzir seus textos, e não de uma, bebê desconhecida na porta de casa! Mas ele não poderia simplesmente ignorá-la na soleira... Apesar de não saber lidar com crianças, fica pasmo quando...