Capítulo 12

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O cheiro de orégano e manjericão encheu a casa, assim como o de queijo parmesão.

Anahí estava na cozinha gourmet de Alfonso, que não era muito utilizada, a julgar pela limpeza das bancadas de granito e do fogão. Ela cuidava da frigideira com as almôndegas, enquanto o molho de tomate cozinhava em fogo brando em outra panela.

À mesa, Sabrina estava sentada numa cadeira portátil alta, trazida por Anahí, e batia na mesa. O que eram tapas leves minutos atrás foram logo acompanhados de uma série de gritos estridentes e exigentes.

— Acho que ela quer almôndegas — disse Alfonso.

— Ela é um pouco pequena para isso. Fiz ervilhas e banana amassada para ela hoje. Pode dar para ela enquanto acabo aqui?

— Eu? — indagou, fitando-a.

— É fácil. Bem, mais ou menos. — Sorriu. Decidiu que não o avisaria sobre os cuspes de ervilha e regurgitação de banana ou ele nunca lhe daria de comer. — Só coloque o babador e use a colherinha para alimentá-la. Eu alternaria ervilhas e bananas.

Ele ajustou o babador nela.

— Por que alternar?

— Ela odeia ervilhas. A banana é um suborno.

Ele riu.

— Então era assim que minha mãe me fazia comer vegetais.

— É assim que toda mãe faz, suspeito. É uma dica que aprendi com a Sra. Bracho. — Deu um passo para longe do fogão e virou as almôndegas. — Eu tinha dificuldade de fazer Sabrina comer qualquer coisa que não fossem cereais. Ainda bem que a Sra. Bracho estava aqui para me ajudar com essas partes difíceis. Alguns dias, eu sinto... — Assoprou uma mecha de cabelo do rosto. — Bom, é difícil estar sozinha.

Um estouro ecoou pela sala: a tampa do pote do bebê abrindo. Alfonso e Anahí se olharam por um longo momento.

— Onde ele está?

— Quem?

— O pai de Bri.

Empurrou uma almôndega, observando a carne marrom virar e girar na panela.

— Ele morreu quando eu estava grávida.

Morreu.

A palavra atingiu Alfonso com violência. Ele esperava que Anahí dissesse outras mil coisas: que o homem fugiu, deixou-a ou que estavam separados por alguma outra razão egoísta. Mas ouvir aquele tom final na voz dela, a mágoa que se demorava na sílaba pesada, o fazia querer pular da cadeira e...

Abraçá-la. Confortá-la.

Mas não era do tipo de abraçar e confortar. Então ficou onde estava, por mais que o desejo crescesse em seu peito.

Abriu a boca para dizer algo quando Sabrina bateu na mesa, demandando comida.

Ele mergulhou a colher no pote e levou a massa verde ensopada até o bebê. Ela abriu a boca ansiosamente, fazendo uma careta quando provou as ervilhas.

— Melhor preparar as bananas ou ela vai cuspir — riu.

Fez o que ela sugeriu, dando-lhe uma colher cheia de bananas. Bri pulou feliz em resposta. Antes que pudesse ver o verde, deu ervilhas e mais bananas quando ela engoliu. Entre as colheres, falou:

— Eu... Sinto muito, Anahí.

— Você está se saindo bem.

— Quis dizer pelo pai de Sabrina.

— Ah, obrigada. Nunca pensei que minha história, ou a de Bri, terminaria assim. — Virou-se para o fogão, mexendo as almôndegas por um longo tempo. Novamente, foi tomado por um sentimento de simpatia por Anahí. Ela mal deve ter tido um segundo desde que o bebê nasceu um bebê que tomava muito tempo, na opinião de Alfonso, para lidar com a perda do marido.

— Quem disse que terminou?

Virou-se para ele.

— O que quer dizer?

— Só porque ele morreu não significa que sua história tenha terminado. — Ele sorriu. — Escute o autor de ficção. Você sempre pode criar um novo capítulo. — Deu mais ervilhas ao bebê, usando a colher para limpar o que não entrara em sua boca.

— Alfonso, você não entende. Quando Manoel morreu, foi... Devastador. Minha vida ficou de pernas para o ar. Cada plano que tinha para mim, para Sabrina, tudo mudou. Agora tento conciliar tudo, sozinha, e na maioria dos dias, sinto que faço um trabalho horrível. Ele me deixou sem seguro de vida, sem saída, me deixou para... — Jogou os braços para cima. — Ser tudo sozinha. Os dois pais, provedora, responsável. Não tenho tempo de escrever um novo capítulo, imagine achar alguém para começá-lo comigo.

— Você não está se saindo tão mal. Sua filha está bem. — Deu uma colher de ervilhas ao bebê.

Anahí estremeceu, então sorriu um pouco.

— Quer dizer que está gostando mais dela?

Então Sabrina percebeu que ele mudou a rotina e deu duas colheres seguidas de ervilha. Ela cuspiu a segunda colher no rosto dele. Alfonso fez uma careta e limpou-se, cuspindo o legume.

— Algo assim.

Anahí riu. Muito. Alfonso riu também, mesmo que a experiência tão tenha sido engraçada na hora. A vontade de rir era estranhamente leve e divertida. Ele balançou a cabeça e maravilhou-se com as duas mulheres que entraram em sua casa e viraram-na de ponta-cabeça de um jeito que não quisera nem esperara. Mas estava percebendo que não se importava tanto quanto pensara.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now