O cheiro de orégano e manjericão encheu a casa, assim como o de queijo parmesão.
Anahí estava na cozinha gourmet de Alfonso, que não era muito utilizada, a julgar pela limpeza das bancadas de granito e do fogão. Ela cuidava da frigideira com as almôndegas, enquanto o molho de tomate cozinhava em fogo brando em outra panela.
À mesa, Sabrina estava sentada numa cadeira portátil alta, trazida por Anahí, e batia na mesa. O que eram tapas leves minutos atrás foram logo acompanhados de uma série de gritos estridentes e exigentes.
— Acho que ela quer almôndegas — disse Alfonso.
— Ela é um pouco pequena para isso. Fiz ervilhas e banana amassada para ela hoje. Pode dar para ela enquanto acabo aqui?
— Eu? — indagou, fitando-a.
— É fácil. Bem, mais ou menos. — Sorriu. Decidiu que não o avisaria sobre os cuspes de ervilha e regurgitação de banana ou ele nunca lhe daria de comer. — Só coloque o babador e use a colherinha para alimentá-la. Eu alternaria ervilhas e bananas.
Ele ajustou o babador nela.
— Por que alternar?
— Ela odeia ervilhas. A banana é um suborno.
Ele riu.
— Então era assim que minha mãe me fazia comer vegetais.
— É assim que toda mãe faz, suspeito. É uma dica que aprendi com a Sra. Bracho. — Deu um passo para longe do fogão e virou as almôndegas. — Eu tinha dificuldade de fazer Sabrina comer qualquer coisa que não fossem cereais. Ainda bem que a Sra. Bracho estava aqui para me ajudar com essas partes difíceis. Alguns dias, eu sinto... — Assoprou uma mecha de cabelo do rosto. — Bom, é difícil estar sozinha.
Um estouro ecoou pela sala: a tampa do pote do bebê abrindo. Alfonso e Anahí se olharam por um longo momento.
— Onde ele está?
— Quem?
— O pai de Bri.
Empurrou uma almôndega, observando a carne marrom virar e girar na panela.
— Ele morreu quando eu estava grávida.
Morreu.
A palavra atingiu Alfonso com violência. Ele esperava que Anahí dissesse outras mil coisas: que o homem fugiu, deixou-a ou que estavam separados por alguma outra razão egoísta. Mas ouvir aquele tom final na voz dela, a mágoa que se demorava na sílaba pesada, o fazia querer pular da cadeira e...
Abraçá-la. Confortá-la.
Mas não era do tipo de abraçar e confortar. Então ficou onde estava, por mais que o desejo crescesse em seu peito.
Abriu a boca para dizer algo quando Sabrina bateu na mesa, demandando comida.
Ele mergulhou a colher no pote e levou a massa verde ensopada até o bebê. Ela abriu a boca ansiosamente, fazendo uma careta quando provou as ervilhas.
— Melhor preparar as bananas ou ela vai cuspir — riu.
Fez o que ela sugeriu, dando-lhe uma colher cheia de bananas. Bri pulou feliz em resposta. Antes que pudesse ver o verde, deu ervilhas e mais bananas quando ela engoliu. Entre as colheres, falou:
— Eu... Sinto muito, Anahí.
— Você está se saindo bem.
— Quis dizer pelo pai de Sabrina.
— Ah, obrigada. Nunca pensei que minha história, ou a de Bri, terminaria assim. — Virou-se para o fogão, mexendo as almôndegas por um longo tempo. Novamente, foi tomado por um sentimento de simpatia por Anahí. Ela mal deve ter tido um segundo desde que o bebê nasceu um bebê que tomava muito tempo, na opinião de Alfonso, para lidar com a perda do marido.
— Quem disse que terminou?
Virou-se para ele.
— O que quer dizer?
— Só porque ele morreu não significa que sua história tenha terminado. — Ele sorriu. — Escute o autor de ficção. Você sempre pode criar um novo capítulo. — Deu mais ervilhas ao bebê, usando a colher para limpar o que não entrara em sua boca.
— Alfonso, você não entende. Quando Manoel morreu, foi... Devastador. Minha vida ficou de pernas para o ar. Cada plano que tinha para mim, para Sabrina, tudo mudou. Agora tento conciliar tudo, sozinha, e na maioria dos dias, sinto que faço um trabalho horrível. Ele me deixou sem seguro de vida, sem saída, me deixou para... — Jogou os braços para cima. — Ser tudo sozinha. Os dois pais, provedora, responsável. Não tenho tempo de escrever um novo capítulo, imagine achar alguém para começá-lo comigo.
— Você não está se saindo tão mal. Sua filha está bem. — Deu uma colher de ervilhas ao bebê.
Anahí estremeceu, então sorriu um pouco.
— Quer dizer que está gostando mais dela?
Então Sabrina percebeu que ele mudou a rotina e deu duas colheres seguidas de ervilha. Ela cuspiu a segunda colher no rosto dele. Alfonso fez uma careta e limpou-se, cuspindo o legume.
— Algo assim.
Anahí riu. Muito. Alfonso riu também, mesmo que a experiência tão tenha sido engraçada na hora. A vontade de rir era estranhamente leve e divertida. Ele balançou a cabeça e maravilhou-se com as duas mulheres que entraram em sua casa e viraram-na de ponta-cabeça de um jeito que não quisera nem esperara. Mas estava percebendo que não se importava tanto quanto pensara.
YOU ARE READING
PAPAI POR ENCOMENDA
FanfictionO escritor Alfonso Herrera precisa de paz e solidão para poder produzir seus textos, e não de uma, bebê desconhecida na porta de casa! Mas ele não poderia simplesmente ignorá-la na soleira... Apesar de não saber lidar com crianças, fica pasmo quando...