Capítulo 9

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Por um segundo, pensara que Alfonso iria beijá-la, mas, no último momento, ele se afastou. Duas emoções preencheram-na: alívio e decepção.

Não precisava de um homem em sua vida, uma complicação como essa. Mas, ah... A solidão que a envolvia toda noite na cama pareceu quadriplicar naquele momento. Queria muito que ele a beijasse.

Mas ele sentara-se novamente e decidiu que interpretara o movimento erroneamente.

Fazia um bom tempo desde a última vez que um homem a cantara, então era fácil cometer um erro assim.

Havia vezes, como esta, nas quais ser viúva a atingia fortemente. Ela se lembrava de tudo o que perdera e o quanto isso doía. Era forçada a lidar com a perda do marido e com não fazer mais parte de um casal.

Estava sozinha.

Segurou as lágrimas e disse a si mesma que pensaria nisso depois. Aquela palavra tomara-se seu mantra nos últimos meses: depois.

É, como quando Sabrina tivesse 18 anos.

Ficaram sentados por um momento, fingindo observar as crianças escalando os brinquedos. Sabrina continuava adormecida. Nenhuma distração viria do bebê, não agora.

— A Sra. Bracho me disse que você tem 12 irmãos — disse ela, mudando de assunto para quebrar o gelo.

— A Sra. Bracho fala demais.

— Ela disse que é daí que você conseguiu sua... Experiência com bebês. — Arqueou a sobrancelha. — Como se você tivesse alguma.

— Está dizendo que não acha que sou bom com crianças? Ou, nesse caso, uma criança?

— Bom; você não é exatamente o Sr. Calor e Aconchego.

— Ninguém disse que você tem de ser quente e aconchegante para cuidar de uma criança. Não me lembro de ler isso no manual das babás.

— Você já leu um manual de babás?

Ele ruborizou e percebeu que expusera um lado vulnerável. Ora, ora. Esperou, observando, deixando o silêncio pressioná-lo a contar. Demorou muitos segundos, mas ele finalmente falou:

— Minha irmã deixou um manual jogado uma vez. Um cara pode ficar desesperado por algo pára ler às vezes. — Fitou-a de relance. — Essa é minha versão e vou mantê-la.

— E o Olho Mal que silencia criancinhas é herdado ou uma dica do livro também? — riu.

— Desenvolvi isso sozinho — disse ele, apontando para ela.

— Chamo de... Tática de sobrevivência.

— Tática de sobrevivência? Sobreviver a quê?

— Por que importa?

— Só estou curiosa.

Ele fez uma careta.

— Vamos mudar de assunto. Estou te ajudando por alguns dias, não vou me mudar e virar pai, certo?

Uma geleira crescera entre eles e, claramente, não sairia dali. Conversa terminada.

— É claro — disse ela.

Ele se levantou e se afastou do banco, distanciando-se dela. Claramente, a conversa o havia atingido de alguma maneira. Estranho.

Não precisava se importar. Ou se envolver. A vida dele era dele. Tinha a sua com que se preocupar. E isso era o bastante. Ainda assim, a preocupação continuou ali, e pegou-se o observando continuamente, aquela figura alta e solitária contra a luz do sol.

O que acontecera com ele? O que o fez tão... Insensível?

Tinha de ser mais do que o típico eremita escritor. Mas não sabia o que era. De qualquer jeito, Alfonso não falaria, e ela não perguntaria.

Afastou os pensamentos, apanhou um cobertor no carrinho e pegou o cooler que trouxeram.

— Eu diria que é hora de comer, não?

Ele se virou, com a mesma careta de sempre no rosto.

— Não estou com fome ágora.

— Bom, eu estou. Na verdade, estou faminta. E você também deve estar considerando que não almoçou quando estive lá mais cedo. — Apoiou as mãos no quadril, determinada a mudar de assunto e recomeçar. — Agora, se você já se cansou de ser ranzinza, pode se juntar a nós. Preferimos companheiros de almoço agradáveis. — Então se virou, conduzindo o carrinho até a sombra do carvalho.

Assim que parou, o bebê acordou, estendendo os braços, clamando por colo. Sorriu e apanhou-a. Essa era sua prioridade. Não um relacionamento. Não poderia conciliar os dois, além do trabalho, as contas a pagar e o estresse de tudo o que passara. Devia se concentrar em Bri, no trabalho e só. Seria o bastante por agora.

Tinha de ser.

Segurou sua filha por alguns minutos, depois a colocou novamente no carrinho para arrumar o piquenique. Mas, assim que a colocou, Bri começou a chorar.

Equilibrando Bri em um quadril, agachou-se, pegou o cobertor e desenrolou-o, à mercê da brisa leve. Mas, enquanto tentava colocá-lo no chão, o vento a atrapalhou, emaranhando as pontas. O bebê choramingou em seus braços, querendo ser colocada no chão, só complicando as coisas.

— Bri, eu tenho que colocá-la no carrinho, querida. — Moveu-se em direção ao carrinho, mas Sabrina adivinhou o que estava por vir e agarrou o ombro da mãe: Não. Não vou lá. Nada feito, não agora.

Tentou arrumar o cobertor com apenas uma das mãos novamente e não conseguiu.

Bufou, desejando ter três braços. Como outras mães faziam esses trabalhos tão facilmente?

— Aqui. Deixe que eu faça isso. Você vai deslocar um ombro ou sei lá. — Alfonso pegou o cobertor e, com um movimento, arrumou-o no chão, liso.

Sorriu grata.

— Vai se juntar a nós?

— São vocês ou as hordas de pequenos e perigosos humanos ali. — Apontou para o parquinho. — Prefiro arriscar a chorona fedida.

— Sabrina não é uma chorona fedida. É um bebê. Todos os bebês têm cheiro. E choram.

— Conheço bebês. O seu cheira mal. Sem mencionar que chora alto. Na verdade, já marquei uma consulta no otorrino semana que vem.

PAPAI POR ENCOMENDADonde viven las historias. Descúbrelo ahora