Capítulo 7

111 8 1
                                    


A situação era muito embaraçosa. Ele, um autor de best-sellers do The New York Times, perdido e afundando cada vez mais num poço de má escrita, tão ruim que nem seu agente, que recebia 15% para opinar em tudo o que escrevia, podia engolir.

— Por quê?

Desabou numa poltrona, o peso da carreira, ou da atual falta dela, recaindo sobre seus ombros.

— Porque pareço ter uma incrível habilidade para escrever livros "sem emoção, superficiais", parafraseando um dos críticos que avaliou meu primeiro livro. E essa foi à melhor coisa que disse.

— Bom, se há algo que tenho em abundância são sentimentos. — Anahí riu. — Pena que você não pode ler minha mente. Daria muito que escrever.

— É pena. — Seu editor mencionara especificamente que seus personagens femininos eram os menos desenvolvidos.

Tinha que admitir evitava escrever profundamente sobre eles. Sobre um detetive esquentado, um policial exausto e um vilão sarcástico; escreveria até não poder mais. Mas uma mulher?

Passaria rápido por essas páginas, preferindo qualquer outro tipo de cena.

E sabia por quê. Não era muito bom com mulheres. Provara isso anos atrás com Julia, ao perdê-la.

Perdera tudo. Porque, quando a situação apertou, deixou-a ir. Talvez não tivesse realmente escolha, mas talvez tivesse.

De qualquer modo, não repetiria aquilo. Não desejava se aproximar de uma mulher novamente, nem para "ler sua mente", como Anahí dissera.

Acharia outro modo de terminar o livro, envolvendo-se menos.

— Sabe do que você precisa? — indagou Anahí, interrompendo os pensamentos dele. — Do mesmo que eu.

O pensamento mais maluco passou pela cabeça dele naquele momento, quando olhou para aqueles olhos azuis. O olhar de Alfonso recaiu sobre aquelas curvas, e o desejo apoderou-se dele. Poderia não querer ler aquela mente ou envolver-se, mas fazia muito tempo desde que estivera com uma mulher, e cada fração de testosterona em seu corpo lembrava-o disso, insistentemente.

Do que precisava agora?

Um beijo. Quem sabe um pouco mais.

— Do que você está falando? — perguntou, afastando aqueles pensamentos.

— Uma pausa. — Ela sorriu. — Acho que nós dois gostaríamos de tomar um ar. Você está muito pálido.

— Obrigado. Bom saber que me acha tão atraente. Talvez devesse sair por aí com a foto do livro grudada no rosto.

Ela pausou, ruborizada.

— Eu não disse... Não quis dizer...

Anahí estava confusa. Desejo corria pelas veias de Alfonso, tão rápido, tomando-o completamente de surpresa. Ele não tinha uma mulher em casa há muito tempo. De repente, aparecia essa e desequilibrava seu perfeito equilíbrio.

— Claro que não.

Então ela se recuperou, trazendo de volta o brilho em seus olhos.

— Quis dizer que devemos ficar um pouco à toa. — Estendeu a mão. — Você topa Alfonso Herrera?

Hesitou por um segundo, então segurou a mão dela, imaginando se estava fazendo a coisa certa. Quando a tocou, um choque elétrico percorreu seu braço. Algo que quase podia chamar de atração, se quisesse se sentir atraído por uma mulher. Uma mulher com uma filha, nada menos.

E isso significava que estava recebendo muito mais do que buscava. Algo que não estava preparado para receber, um bônus que não sabia se queria.

Anahí era aparentemente uma profissional em piqueniques. Observou, maravilhado, enquanto ela andava pela cozinha, colocando o bebê no carrinho, junto com o que pareciam suprimentos para um ano numa bolsa. Vasculhara sua geladeira procurando ingredientes para um jantar tardio e guardou-os num cooler que resgatara da garagem.

No último minuto, apesar do mantra sobre precisar de uma pausa, ela resolveu levar sua agenda, o bloco de anotações e o celular que nunca parava. Mesmo enquanto saíam da casa e viravam a esquina em direção ao parque, ela discutia com alguém sobre realçar os traços faciais ou algo assim, fazendo-o empurrar a criança.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now