Capítulo 22

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Ela sorriu, e o sol pareceu nascer naquele rosto. Se havia algo em Anahí que Alfonso gostava era que ela perdoava facilmente. A tensão da noite passada estava esquecida, e Anahí já tinha voltado à sua felicidade usual.

— Na verdade, deveria agradecer. Com esse tempo longe do trabalho, finalmente tenho a oportunidade de me envolver com uma das minhas paixões.

A palavra trouxe à memória quão perto esteve de beijá-la. E o desejo de terminar o que começara.

— Ah, é? Que paixão? — perguntou ele, esperando que ela mencionasse a coisa na qual estava pensando.

— Cozinhar. Adoro cozinhar. Nunca tenho tempo, porque, quando chego em casa, tenho que alimentar Sabrina, dar banho nela, prepará-la para dormir, e então já estou exausta. Ainda mais, para que cozinhar se... — Aquela voz falhou.

— Se...?

— Se vou cozinhar só para mim mesma?

— Bom, sempre que você desejar envolver-se com... — Queria dizer "qualquer uma das suas paixões", mas impediu-se. —... A cozinha sabe onde moro e sabe que provavelmente comi porcaria o dia todo. Meu estômago é seu, minha dama.

Ela sorriu novamente, e o coração dela acelerou. Por só um segundo, não conseguiu lembrar por que pensara que se envolver com Anahí Portilla era uma má ideia.

Então seu olhar encontrou o bebê e lembrou-se. A realidade dela, da qual não queria nem precisava participar.

Experimentou o chili.

— Está uma delícia. Você devia ser chef.

— Minha mãe me ensinou a cozinhar. Era nosso programa de sábado.

— Sua mãe está viva?

Ela fez que não com a cabeça.

— Meu pai mora na Flórida, mas mamãe morreu há alguns anos. Onde estão seus pais?

— Vivendo uma confortável e merecida aposentadoria no Arizona. Três das minhas irmãs estão lá, com suas ninhadas de filhos. Meus pais estão rodeados de netos.

Essa era uma conversa fácil, do tipo que podia controlar. Não que regularmente falasse de sua família ou de qualquer coisa com qualquer um. Era uma amostra de como virara um eremita. Desde que vendera o primeiro livro, 10 anos atrás, retraíra-se mais e mais naquela vida de escritor, recolhendo-se da vida social com o pretexto de prazos e para encontrar inspiração.

Mas agora, sentado com Anahí, discutindo a mais básica das coisas... De onde viera... Tudo era tão agradável quanto o chili.

— E o restante dos seus irmãos?

— Uma irmã é solteira e está viajando pelo mundo, fazendo mochilão pela África e espalhando a paz global pelos países. Um dos meus irmãos está terminando o doutorado, e deve se casar no fim do ano. Peter, o mais velho, que se acertou primeiro, mora aqui em Boston, com a esposa e três filhos. — Pensou um pouco, fazendo a conta para ver quem esquecera. — Tenho outro irmão que mora na Califórnia, com a mulher, e estão esperando o primeiro bebê para o mês que vem. Duas irmãs se casaram com dois melhores amigos, e todos moram numa rua sem saída em New Jersey. É como uma novela suburbana. E minhas duas irmãs mais novas trabalham com engenharia, eletricidade, alguma coisa técnica assim, e não se casaram ainda, mas minha mãe dá dicas todo dia e espalha a notícia pela comunidade dos aposentados, procurando algum neto elegível.

Anahí riu.

— É muito para acompanhar. Nunca fiquei tão feliz por ser filha única.

— Você devia ver o Natal. Quando todos estão juntos, é um zoológico. Literalmente.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now