Capítulo 23

101 8 0
                                    


Anahí tinha o gosto que sempre imaginara que a bondade teria. Doce, quase como biscoito caseiro. Tão maravilhosa suave e perfeita. O desejo o varria rapidamente, fazendo-o ansiar por dar o próximo passo, levar isso além da cozinha e do beijo. Então o bebê se moveu, trazendo Alfonso de volta à realidade, para longe dela.

— Devíamos arrumar aquilo para o bebê dormir.

— Hum... É. — Anahí virou-se e apanhou o bebê. Pegou o cercado. Enquanto arrumava, sentiu o perfume dela demorando-se no ar da casa dele, como se tivesse marcado cada parede.

Um ou dois dias atrás, estaria incomodado. Mas hoje, não se chateava com esse pensamento.

O problema?

Só o fato de que estava se acostumando com a ideia de uma mulher em sua casa, e um bebê, era um sinal de que estava se envolvendo demais. Precisava se lembrar de suas prioridades. Lembrar-se de que não era o tipo de cara que queria se acomodar e formar uma família.

Se alguém estava procurando um pai para completar a imagem da família perfeita, essa era Anahí Portilla.

Assim que Sabrina adormeceu, Anahí voltou para a cozinha, certa de que Alfonso teria saído. Esperava que ele se escondesse novamente no escritório, mesmo tendo prometido lavar a louça.

Mas não, ele estava esperando. Tinha guardado o chili e estava embrulhando o pão em um plástico. A tensão sexual de antes se dissipara. Disse a si mesma que estava feliz, mas uma parte dela desejava que pudessem voltar no tempo e terminar o que começaram com aquele beijo, assim poderia finalmente acalmar o anseio constante.

— Já era tempo — disse Alfonso, sorrindo. — Pensei que tinha me abandonado.

— Demorou em Sabrina se acalmar. Ela acordou quando a deitei, então tive que acariciar as costas dela até que dormisse novamente. Não ia deixá-la perder a soneca da tarde. — Tirou a louça da mesa e colocou-a na pia.

— Pode se sentar. Eu arrumo tudo. Entre o trabalho e a criança, parece que seu dia está difícil o bastante. E você fez a comida. — Apontou para a máquina embaixo do balcão. — Sem mencionar que tenho uma, lava-louças que fará o trabalho.

— Não me incomodo em lavar a louça. É relaxante.

— Tem alguma coisa errada nessa frase. Especialmente quando a tecnologia ajuda a reduzir o fardo.

Sorriu.

— Mas achei que você tinha dito que lavava a louça.

— Eu lavo. — Ele abriu á lava-louças. — Aqui.

— Fracote. Um homem de verdade lavaria a louça, comigo.

— Um homem de verdade, hein? Isso é um desafio?

— Você está aceitando?

Ele colocou o chili e o pão na geladeira, fechou a porta e voltou-se para ela. Alfonso considerou, sorrindo, com os olhos brilhando. O desejo acordou novamente dentro dela.

Droga, a quem estava tentando enganar, nunca tinha adormecido desde aquele beijo.

— Uma mulher bonita me desafiando a lavar louça — disse ele, juntando-se a ela na frente da pia. — Que homem, em sã, consciência não aceitaria?

Entregou-lhe o pano de prato, imaginando se realmente queria ajudá-lo com a louça ou se só queria ficar com ele.

— Não um que queira outra refeição, certamente.

Ele riu.

— Tenho que fazer valer o jantar, é isso?

— Certamente vai ajudar a me fazer simpatizar com você. Especialmente com o jantar daqui a só algumas horas.

— E o que teremos para o jantar?

— Depende da qualidade de seu trabalho.

— Ah, vou trabalhar bem, Anahí. Acredite. — Tentação e ansiedade fervilhavam dentro dela enquanto Alfonso escorregava para sua esquerda. Estava brincando com fogo, e correndo o risco de provocar um incêndio. No que estava pensando?

Encheu a pia de água e sabão enquanto Alfonso se apoiava na bancada, parecendo projetar apelo sexual. Tinha que se lembrar de respirar. Focar-se no trabalho para não quebrar um copo ou uma tigela. Passou a esponja pela borda de uma tigela e enxaguou-a, antes de dá-la a Alfonso.

— Faça-se útil — provocou ela.

— Sim, senhora. — Ele secou a tigela e passou por trás dela, tão perto que quase se tocaram. — Com licença, mas isso vai aqui nesse armário. Bem aqui.

O fogo tentador saiu de controle. E não iria fazer nada para dominá-lo. Continuou lavando a louça e passando para ele, aproveitando cada segundo desse jogo.

Como seria se morassem juntos? Se fizessem isso toda noite? Se ele...

Se a tocasse? Se a pegasse nos braços e fizesse mais do que só beijá-la? Se, depois disso tudo, a levasse para cima e fizesse amor com ela?

Ela ficara sozinha por tanto tempo, e agora isso parecia muito com estar casada. A tensão que crescia entre eles era insuportável, mas doce ao mesmo tempo. Tinha começado naquele primeiro dia e se quadruplicado toda vez que estavam sozinhos.

Ele secou um copo e guardou no armário à direita, com o mesmo movimento, fazendo suas terminações nervosas zunirem.

— Talvez devêssemos sujar mais louça.

— Que tal um jantar de sete pratos?

— Esperava oito.

Anahí riu. Nossa, era muito bom rir. Flertar com um homem que flertasse com ela também. Entregou outra tigela, outro copo. O calor se acumulava entre eles, aumentando a cada minuto.

Logo depois, estendeu-lhe o último pote e fechou a torneira.

— Acabou.

Virou-se, apoiando-se no balcão. Alfonso moveu-se para frente dela, colocando as mãos em sua cintura. Inspirou e segurou a respiração, perdendo-se no azul daqueles olhos.

— O que estamos fazendo?

— Posso dizer o que não estamos fazendo. Lavando a louça.

— Sabe o que quero dizer, Alfonso. — Como queria esquecer suas responsabilidades. Sua vida. Mas era mãe solteira e poderia fingir por um minuto ou dois que não havia um bebê dormindo no andar de cima...

Mas era o máximo de tempo que poderia fingir. Um minuto. Porque Sabrina estava lá, esperando que a mãe fosse responsável, a cada minuto de cada dia.

E ser responsável significava não se envolver com um homem que não tinha intenções de tomar nenhum daqueles beijos permanentes.

— Não posso brincar de relacionamento. Tenho que pensar em Sabrina.

— Você quer tudo.

— Tenho uma filha, Alfonso. Somos um pacote. — Sorriu, sabendo que sua vida mudara de muitas maneiras depois que Sabrina nasceu.

— Se está procurando um homem que possa ser um namorado para você e pai para Sabrina, sinto muito, não sou eu. Apesar do que estivemos fazendo aqui pelos últimos dias, não sou bom para ser pai. — Ele se afastou, impondo uma distância que se tornou fria, como ventos árticos. — E acho que nunca serei.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now