Capítulo 8

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Alfonso se sentia como o pai desse trio, nada parecido com o que pretendia quando concordou com a expedição. O carrinho rosa seguia pela calçada, com a criança arrulhando feliz, enquanto os vizinhos sorriam e acenavam para eles, como se fossem só outra família indo ao parque.

Assim que Anahí terminou a ligação, deu o carrinho para ela.

— Você empurra. É sua filha, afinal.

— Você é a babá. — Ela sorriu sarcástica. Raios de sol refletiam naquele corpo delicado. Abaixo dele, a criança cantava ba-ba-ba interminavelmente. — Só estou aqui para ter certeza de que você não vai trapacear e dar meia-volta em cinco minutos.

— Olha quem fala.

— Do que você está falando?

Alfonso apontou na direção do telefone celular dela.

— Você deve ter grudado esse celular na mão. Achei que havíamos combinado que íamos ficar à toa.

— Nós vamos, quando chegarmos ao parque. É logo ali.

— Você apelou para um detalhe técnico, Srta. Portilla — bufou.

— Não é um detalhe técnico, é a realidade. Ainda tenho alguns detalhes para resolver até o fim do dia. Se não trabalhar, não pago o aluguel. Se não pago o aluguel, Sabrina e eu ficamos sem teto...

— Pensei que eu era o escritor de ficção. Você pode tomar meia hora de seu tempo para ir ao parque. E você sabe.

Ela abriu a boca para protestar. Fechou novamente. Fitou-o, finalmente desligou o telefone e guardou-o no fundo da bolsa.

— Trinta minutos. Mais do que isso e a empresa vai mandar uma patrulha.

Riu.

— Não estou brincando.

— Sou feliz por não ter um trabalho de verdade. Não acho que aguentaria um chefe em meu pescoço assim.

— Eu daria tudo para trabalhar em casa todo dia, como você. Mas, em minha área, é impossível. — Suspirou.

— Então por que trabalha nessa área?

Ela estremeceu.

— Eu meio que... Caí nela. Conheci Manoel, ele precisava de uma assistente e me contratou. Fiquei, fui promovida e aqui estou trabalhando milhões de horas por semana.

Manoel. O nome chamou sua atenção. Será que era o pai desaparecido do bebê? Ou outro alguém? Queria perguntar, mas resolveu que não era de sua conta. Estava aqui por alguns dias no máximo, para ajudá-la, depois voltaria para sua vida privada, anti-social. Era só isso.

Quando entraram no parque, havia crianças por todo lado, escalando os brinquedos, nos balanços, correndo pelo gramado, fugindo uns dos outros pelas árvores. Brincando no banco de areia gigante. Espalhadas pela área estavam às mães, conversando e dando abraços e lanches quando necessário.

Parecia ser o único homem. Não poderia ter se sentido mais fora do lugar se estivesse numa loja de lingerie.

— Vamos ficar ali — disse Anahí, apontando para um pequeno banco embaixo de um carvalho. — Há sombra.

O bebê dormia no carrinho, e Anahí sentou. Alfonso sentou-se ao lado dela, sem conseguir parar de pensar que parecia uma família passeando.

— Vai colocá-la no balanço ou algo assim? — Perguntou ele. Qualquer desculpa para levantar, mover-se.

— Ela é muito pequena para os balanços daqui, não há nenhum para bebês. Talvez eu a leve no escorregador depois, se as crianças grandes saírem. De qualquer jeito, Bri gosta de passear. Eu também. — Anahí olhou para cima. Os raios que passavam por entre as folhas tocavam sua pele como jóias douradas. — Vamos aproveitar um pouco antes de comer. Você pode aproveitar para relaxar também.

— Sí. Hum... É, relaxar. — Fácil falar, mas difícil fazer quando percebeu o quanto reparava nela.

Era linda. Quase... Luminescente.

Repreendeu-se. O que estava fazendo? Utilizando vocabulário requintado? Precisava sair mais mesmo.

Apoiou um braço no banco, trocou de posição. Apoiou o calcanhar no joelho oposto.

Soltou o pé novamente. Girou o quadril. Percebeu que estar confortável ao lado de uma mulher bonita como Anahí não era possível.

— Não sou um cara muito de sentar em bancos de parque.

Ela fechou os olhos, apoiou a cabeça nas costas do banco, a expressão facial serena como um lago no verão.

— Então que tipo de cara é você? — perguntou, com a voz preguiçosa, baixa.

O tipo que queria beijá-la agora. Que queria absorver só um pouco do que quer que fosse que ela encontrara aquela paz, aquela doçura.

Definitivamente, estava trabalhando demais. Ficando, como ela dissera; aprisionado por muito tempo.

Inclinou-se, observando aquele rosto. Levantou a mão, a uns centímetros daquela pele de marfim, tão perto que podia sentir o calor emanando dela, o perfume de framboesa, mas não perto o bastante para tocá-la.

Aqueles olhos abriram-se, e ela se levantou num salto, diminuindo a distância entre eles.

— O que está fazendo?

— Hum... — O que diria? Como explicaria? — Nada.

Então se apoiou no banco novamente, antes que sucumbisse às suas loucas ideias, causadas por muito sol.

E pouco bom senso.

PAPAI POR ENCOMENDAحيث تعيش القصص. اكتشف الآن