Capítulo 24

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Sabrina parecia aterrorizada. Devia ser o cabelo roxo espetado e os brincos no nariz.

Três exatamente.

Estava na sala de sua casa, numa quarta-feira à noite, entrevistando a quarta babá, todas recomendadas pela universidade local, e pensando que o futuro nunca pareceu tão sombrio.

Não podia mais trabalhar com Alfonso. Era muito complicado. A Sra. Bracho ficaria fora por tempo indefinido. Se as últimas babás que entrevistara eram algum parâmetro, não havia uma única babá barata disponível na área de Boston num futuro imediato.

Podia tentar contratar serviços profissionais, mas restariam apenas 75 centavos de seu salário. Ou tentar trabalhar de casa e arriscar perder o emprego, depois que Lincoln percebera que ela não havia aparecido no escritório por dias.

Fechou a porta depois que a menina do cabelo espetado saiu e se sentou no chão, ao lado de Sabrina, que estava deitada de costas no cobertor.

— Bom; filha, nós temos um problema. Não posso levá-la para o trabalho nem ficar em casa ou deixá-la mais com Alfonso. É muito... Difícil ficar perto dele e não... Não beijá-lo. Não que eu não queira beijá-lo, eu quero. O tempo todo. Esse é o problema.

— Uhn, uhn. — Sabrina virou-se de lado, os pequenos punhos gorduchos tentando alcançar a mãe.

Pegou-a e colocou-a contra o peito. Sabrina não reclamou só se ajeitou. Claramente, o tempo que passara com a filha ultimamente teve um efeito positivo.

— O problema é que sinto saudade. Mesmo sabendo que ele é o homem errado para mim. — Fitou sua pequena menina. — E sei que você também sente falta dele.

Aqueles grandes olhos azuis pareciam concordar.

O problema era bem maior do que pensara. Porque agora era duas meninas Portilla apaixonando-se por Alfonso Herrera, e ele já deixara claro que não era o homem certo para nenhuma delas.

Alfonso caminhava pelo escritório. Pela sala. Pela cozinha.

Ainda assim, não conseguia dissipar a energia nervosa que fervilhava dentro dele.

Sentia falta de Anahí, droga. Sabia que ela estava logo ali, do outro lado da rua, e podia tê-la em seus braços novamente se...

Se pudesse lhe dar a única coisa que queria. E merecia.

Uma família. Um marido.

Impossível. Era mestre em escrever sobre situações impossíveis, do tipo que os leitores pensariam que o herói jamais conseguiria resolver, até que, na última hora, alguma solução milagrosa apareceria. Mas aquilo era ficção, e isso era vida real. No seu mundo não ficcional, suas respostas não apareceriam milagrosamente nem uma solução para estar com Anahí sem se comprometer.

Mas precisava encontrar uma maneira de tê-la aqui, que funcionasse para ambos.

Não só porque Anahí o ajudara tanto com seu livro, mas porque ela trouxera uma calmaria para seus dias que ele não tinha há anos.

Calmaria e caos ao mesmo tempo. Nos piqueniques e jantares, nas trocas de fralda e com á bebê chorona, Alfonso achara algo novo e inesperado, que deixou um vazio em sua casa no minuto em que ela saiu.

— Você vai sobreviver? — Peter sentava em sua poltrona favorita, tomando cerveja e observando o irmão mais novo, entretido.

— Estou bem.

— É, parece muito bem. Tão bem quanto um tigre numa jaula de gato. E aposto que sua vizinha é a razão disso tudo.

— Estou preocupado com minha carreira. O livro não vai bem.

— Os livros não andam bem pelos últimos anos, e nunca vi você preocupado assim com nenhum deles antes.

— É, bem, dessa vez, minha carreira está em jogo.

Peter ficou preocupado.

— Mesmo? Como?

Sentou-se, apoiando os braços nos joelhos.

— Meu editor disse que esse é o livro definitivo. Ou ele será muito bom ou é melhor que eu encontre um emprego de verdade.

— Você vai conseguir Alfonso. Sempre consegue.

— Não, Peter. Não desde o primeiro livro. — O sucesso que fizera dele um nome familiar. E colocara um parâmetro impossível, que nunca mais conseguira alcançar.

— O que ele diz que está faltando? Quem sabe posso ajudar.

— Acho que não — riu. — Reuben disse que são as mulheres nos meus livros. Não coloco... Emoção nelas.

Peter tomou um longo gole da cerveja e arqueou uma sobrancelha.

— O quê? Sei que você tem algo a dizer.

— Sabe exatamente porque não coloca emoção nelas.

— Se soubesse Peter, teria resolvido o problema há muito tempo.

Peter apoiou a garrafa na mesa de centro e cruzou os braços.

— Aprendi uma coisa ou outra, nos sete anos em que estou casado, Alfonso. E o mais importante é que você não pode se fechar para uma mulher. Faça isso e nunca vai chegar a lugar nenhum num relacionamento.

— Não quero ir a lugar nenhum num relacionamento. Só quero terminar meu livro e entregar o que meu editor quer.

— E ele quer emoção, certo?

Assentiu.

PAPAI POR ENCOMENDAWhere stories live. Discover now