Quinquagésimo capítulo!

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Carta do Pedro: "Amor... Você não imagina o quanto tá sendo difícil pra mim essa mudança, e eu imagino como você deve estar se sentindo. Mas pior que eu, você não está, eu te garanto. Você é a pessoa que eu mais vou sentir falta, obrigada pelos momentos maravilhosos que eu vivi ao seu lado, obrigado pelo seu amor. Eu te amo muito, e principalmente me perdoe. Eu sei que um dia você vai entender que eu só segui meu sonho, isso não é o fim. É o começo das nossas vidas. Vou te ver novamente, te ter novamente... Estou partindo hoje, mas estou deixando uma coisa muito preciosa com você: meu coração. Fique com ele, é seu. Mas cuide bem dele, porque é o único que eu tenho. Eu te juro, que um dia volto pra buscar, e levo você comigo. PS: eu te amo, pra sempre."
Não sei ao certo qual foi minha reação depois que li o bilhete. E nem sei se meu pai ainda estava no quarto. Só me lembro de ter ouvido três palavras: isso vai passar. Também não me lembro quanto tempo eu dormi nesse dia, e nem até quantas horas. Haviam ligações da Ana, do Matheus, da minha madrasta... Eu não tinha vontade, nem coragem de atender a nenhuma. Eu queria ficar sozinha, ali, eu e minha dor. Quem já passou por isso sabe o que eu senti.
- Luiza...- meu pai bateu na porta do quarto
- Oi - eu disse
- A janta tá pronta. - ele disse
- Tô sem fome pai - eu segurei o choro
- Quando quiser comer é só me avisar. - ele disse
Me virei e dei de cara com o porta retrato que Pedro me deu com uma foto nossa, e fiquei imaginando como ele teve coragem de fazer isso. De me deixar aqui, e ir jogar bola em outro país. Minha ficha ainda não tinha caído o suficiente, mas de uma coisa eu sabia: ele não estava aqui mais. Nem ele, nem nada dele. Eu fechava os olhos e me lembrava dele, da ultima frase que ele falou, dos nossos beijos, de quando a gente se amava e pensava comigo: Luiza, isso é um pesadelo, você vai acordar.
Mas não era um pesadelo, esse era o problema.
O resto das minhas férias se resumiram em mim triste, chorando sempre, sentindo saudades do Pedro e ao mesmo tempo com raiva, ódio. Até tirar o porta retrato com a nossa foto do meu quarto eu tirei. Ana ia lá em casa sempre que dava, me deu apoio, me consolava, as vezes até chorava junto comigo... Minha madrasta me ligava as vezes, ela falava que sentia saudades dele, que ele era o único filho dela e que agora ela estava sozinha. Ela não mencionou em momento nenhum que ele ligou pra ela, que ele tinha mandado notícias. Mas eu sabia que tinha. Porque ele também me ligava, me ligava toda semana mas eu não atendia. Eu ainda não tinha estômago pra escutar a voz dele, mesmo que eu quisesse muito conversar com ele, a dor que ainda estava no meu coração era muito forte e eu tinha uma coisa que me ajudou muito nesse tempo: força de vontade. Pedro, eu vou te esquecer. Essa era a frase que eu repetia sempre que as lembranças invadiam minha mente e transbordavam pelos meus olhos.
Com o tempo, parei de chorar toda hora e voltei a comer como antes. Até saí com a Ana e com o Matheus num sábado, fomos no cinema e passeamos um pouco no shopping.
Quando as aulas voltaram, meu foco era os estudos. Eu coloquei na minha cabeça que iria estudar como nunca e tocar minha vida a diante. Mas estudar não era o problema, o problema mesmo era aguentar praticamente a escola inteira vir me perguntar do Pedro. E depois de contar onde ele estava, ouvir as pessoas dizerem: ''Nossa, tadinha de você.. Deve estar com muita saudade, né?''. Perdi a conta de quantas vezes ouvi isso.
No recreio do primeiro dia de aula depois das férias, a Paula, aquela que se matava pelo Pedro e que eu cheguei a brigar uma vez, veio falar comigo.
- Oi - ela se sentou do meu lado
- Oi - eu disse
- Fiquei sabendo que o Pedro se mudou. - ela disse
- É. - eu disse
- Agora você deve entender como eu fiquei quando ele sumiu da minha vida. - ela disse
- Pelo menos você via ele. Eu não vejo mais. - eu a olhei
- Melhor assim. Te garanto que comigo foi pior. Porque eu tinha que olhar na cara dele todos os dias, ver ele com você. Mas eu aprendi. Só queria te falar que tudo passa. - ela sorriu
- Tá. - eu disse
- E, aquele lance que rolou com a gente...- ela disse
- Esquece aquilo, ja passou. - eu disse
- É. Já passou. - ela sorriu e se levantou
Fiquei pensando nisso que ela me falou o recreio todo. Será que um dia vai passar? Será que um dia, eu vou parar de pensar nele como eu penso? Vou parar de desejar ele como eu desejo? Vou parar de amar ele, como eu amo? Nesse momento eu fraquejei, duvidei de mim mesma. Duvidei que um dia conseguiria esquecer o Pedro. Quando as lágrimas começaram a se formar, me levantei, respirei fundo e comprei um lanche.
Uma coisa que me deixou com a pulga atrás da orelha foi o Felipe não ter falado nada comigo. Ele só me cumprimentou e mais nada... Quando fui pra casa, passei numa banca de revistas e estava procurando alguma coisa diferente pra ler, alguma revista de moda, talvez. Passei o olho nos jornais e a foto me chamou atenção. '' Opa, eu conheço esse garoto '' foi o que eu disse quando peguei o jornal, e era ele, Pedro.
- Moço, vou levar esse aqui - peguei o jornal
- Vinte e cinco centavos. - ele disse
- Obrigada - paguei
''O NOVO FENÔMENO BRASILEIRO BRILHA NA ESPANHA'' era a manchete. A foto era o Pedro sentado, com uma parede cheia de adesivos de patrocínios atrás e com muitos microfones em volta dele. Ele não estava sorrindo, estava falando e usava a blusa do novo time. A manchete toda falava bem dele, até tinha um pedacinho de uma entrevista da mãe dele falando: '' Meu filho nasceu pra brilhar, sempre soubemos disso... '' e bla, bla, bla.
Ler aquilo me deixava mal, mas ao mesmo tempo era uma forma de ter notícias dele. Saber que ele estava bem, que estava fazendo sucesso, me deixava com uma sensação de alívio e ao mesmo tempo de raiva. Eu não entendia.
Quando terminei de ler a reportagem dele, me segurei e respirei fundo pra não derramar mais nenhuma lágrima. Eu não tinha mais força pra ficar mal por causa dele, eu não tinha mais condições de ficar triste. Já tinha chegado no meu limite. Meu celular tocou enquanto eu andava, era ele. Deixei chamar e quando já não tinha jeito, chorei. Eu secava as lágrimas o mais rápido que eu conseguia, não queria que ninguém me visse chorar mais do que eu já chorei. Entrei rápido em casa e peguei alguma coisa pra comer na geladeira, liguei a TV e me deitei no sofá. Estava passando um jogo de futebol. Troquei o canal o mais rápido possível e tentei conter as lágrimas. Tudo me lembrava ele, cada canto da minha casa, cada roupa que eu usava, cada lugar que eu ia, cada música que eu escutava... Me lembro como se fosse ontem, de uma vez que ele disse: ''você pode até tentar amor, mas você não vai conseguir se esquecer de mim, tá?'' mas agora, eu desejava do fundo do meu coração que isso fosse mentira, que ele tivesse errado. Eu precisava que ele estivesse errado.

Era só meu irmão...Onde histórias criam vida. Descubra agora