Quinquagésimo primeiro capítulo!

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A campainha tocou e eu atendi, era uma menina loira, parecia ter uns 16 anos. Eu nunca tinha visto ela antes, ela sorriu e me perguntou se o som do apartamento dela incomodava.
- Não, nem tô escutando direito - eu disse
- Me desculpa a curiosidade, mas você tava chorando? - ela fez uma cara de confusa
- É. Eu tava vendo um filme romântico, sabe como é né.. - eu ri
- Sei. Só se o filme que te fez chorar assim se chama aquele seu namorado que sempre vem aqui. - ela riu
- Você conhece o Pedro? - eu perguntei, admito ter tido um pouco de ciúmes
- Na verdade não. Só vejo ele com você. Via, já tem um tempo que não vejo ele com você. Via quando ele batia interfone, minha janela é de frente pra portaria - ela riu
- Ah.. - eu ri
- Tá fazendo o que aí? - ela perguntou
- Nada, acabei de chegar da aula. - eu disse
- Tá rolando uma festinha no meu apê, vamos lá - ela sorriu
- Ah, deixa pra próxima, tô cansada hoje. - eu disse
- Ok, pra próxima então! - ela sorriu e desceu as escadas.
Depois que ela desceu, eu terminei de comer e desliguei a TV, tentei dormir só que o barulho da música começou a me incomodar muito. Quando não tinha mais jeito e eu já estava ficando nervosa me levantei, calcei um chinelo e segui o som. Bati na porta várias vezes, e a campainha também. Parecia que ninguém tava escutando, e então abri a porta e entrei.
Não lembro ao certo qual musica era, mas era uma musica eletrônica. A casa estava lotada de jovens, eles pareciam ter uns 19 anos. Tinham muitas mulheres e homens, eles bebiam e se divertiam, algumas dançavam. Não sei se alguém notou minha entrada, mas um cara me puxou pelo braço.
- Oi Lu, você por aqui? - eu escutei e me virei
- Oi Felipe! Ufa, até que enfim alguém que eu conheço! - eu ri
- Não sabia que você conhecia a Maria! - ele disse
- Ela chama Maria? Na verdade eu não conheço. Eu moro aqui em cima e o barulho tá me incomodando muito! Quero falar com ela - eu disse
- Fica e curte um pouco. Eu fiquei sabendo o que aconteceu com o Pedro. Você deve tá mal - ele me olhou
- Cadê ela? - tentei mudar de assunto
- Vem que eu te ajudo a procurar - ele pegou na minha mão
Passamos por várias pessoas que eu nunca vi na vida, algumas sorriram pra mim. Da sala da casa dela, fui pro quarto e ela estava beijando um cara desconhecido também.
- Maria - Felipe chamou
- Sabia que você viria - ela sorriu pra mim
- Na verdade, eu vim pra... - eu disse
- Pra curtir. - Felipe me interrompeu
- Que ótimo! Sinta-se a vontade, já já eu vou conversar com você! - ela sorriu
Felipe me puxou.
- Ei! Eu não quero ficar! - eu disse nervosa
- Ah, qual é Luiza! Aposto que você não tava fazendo nada de bom lá na sua casa - ele disse
- Errou. - eu disse
- Me diz então o que que você tava fazendo. - ele riu
- Eu tava tentando dormir. Porque to cansada. Estudei a manhã toda, sabia? - eu disse
- Sabia que não era nada de interessante. Fica só um pouco! - ele fez uma cara de dó
- Tá. Mas é só um pouco mesmo. Até ela se desocupar e vir falar comigo. - eu disse
- Então espera aí que vou pegar uma bebida pra você - ele foi num balcão
Felipe trouxe um Ice pra mim e um copo de cerveja pra ele. No começo bebi calada, mas depois de umas garrafas comecei a falar e a contar sobre o Pedro. Tudo. Era incrível como ele se interessava e estava concentrado no assunto, como se ele quisesse mesmo saber da nossa história. Contei desde o primeiro beijo até o ultimo, cada detalhe passava pela minha cabeça como um filme, e sempre acompanhados de um gole de Ice.
Quando o assunto já não era mais o Pedro, saí de perto dele e fui dançar com umas mulheres que estavam dançando no centro da sala.
- Já vi que você tá gostando hein - Maria chegou e começou a dançar
- Tá bom demais - eu ri
- Então vai, quero ver você descer até o chão! - ela gritou
Dançamos juntas e depois batemos um papo, eu já estava bem alegrinha por causa dos Ices e quando era quase cinco da tarde, voltei pra casa. Não me lembro de ter despedido Felipe, acho que ele ficou bem chapado que nem me viu indo embora.
Cheguei em casa e, antes de dormir, deitei no sofá e desabei a chorar. Chorar de saudade, chorar de raiva, chorar de tristeza, simplesmente chorar. Chorei muito. Quando minha barriga começou a doer de tanto eu contorcê-la, tentei parar e acabei dormindo. Quando já era noite, tarde da noite, e eu estava jogada no sofá, com a roupa encharcada de lágrimas, me lembro do meu pai ter chegado e me carregado até o quarto.
- O que houve com você? - era só o que eu lembro dele ter dito.
Acordei com o despertador e eu sentia uma dor de cabeça terrível. Me arrumei pro colégio e saí mais cedo pra passar na farmácia e comprar um remédio pra dor. Quando cheguei lá, uma das ajudantes pegou um comprimido pra mim e fui pro caixa.
- Oi - Felipe se virou do outro caixa
- Não acredito que você também tá aqui - eu ri
- E eu acho que pelo mesmo motivo que você - ele sorriu
- Ressaca? - eu disse
- E muita dor de cabeça. - ele riu
- Nossa! - eu disse
- Vou te esperar lá fora - ele disse e saiu
Terminei de pagar e tomei o comprimido com a água de um bebedouro de lá mesmo e saí. Fui junto com o Felipe pro colégio, ele me contou algumas coisas sobre a Maria, e pelo visto ela era uma pessoa bem legal. Ela tinha 19 anos, estava no 2° período de engenharia civil, numa faculdade super concorrida da cidade. Isso me deixou de boca aberta, nunca iria imaginar isso dela. Pra mim, ela era mais uma dessas mulheres que não querem nada com a dureza... É, as aparências enganam.
Fui pra sala e antes do professor chegar, contei pra Ana da festa de ontem e da Maria. Depois, só estudei. Passei o recreio na biblioteca, lendo um livro que a professora de português tinha passado. Quando fui pra casa e abri a porta, me assustei com meu pai sentado no sofá.
- Oi - ele disse
- Oi pai! Aconteceu alguma coisa? - eu perguntei
- Não. Eu não vou trabalhar hoje, tô sem vontade. - ele disse
- Ah - eu ri
- Vamos almoçar, tava só esperando você - ele se levantou
Fomos pra cozinha e almoçamos juntos, ele me contou sobre o fim de semana que passou com minha madrasta.
- O Pedro ligou pra ela ontem. Pediu para que ela te pedisse que atendesse os telefonemas dele. - ele me olhou
- Ah. - fiquei sem reação
- Ele tá sofrendo tanto quanto você Luiza. - ele disse
- Eu não tô sofrendo. - menti
- Ok. Você é quem sabe. Um dia você vai perceber que está errada de ficar desse jeito com ele, ele só está correndo atrás do sonho dele. Você faria a mesma coisa. Se coloque no lugar dele. - ele disse
- Já terminei de comer. - eu disse e me levantei
Fui para o quarto e dormi um pouco, depois eu e meu pai vimos um filme. Meu celular tocou enquanto víamos o filme, peguei logo e olhei quem me ligava: Amor chamando. Respirei, tomei coragem e atendi.
- Alô. - eu disse
- Alô? Amor? Luiza? É você? - ele disse, fiquei calada
- Amor, me desculpa amor, estou sentindo muito a sua falta - a voz dele era de choro, continuei calada
- Fala alguma coisa, conversa comigo, não faz isso amor - ele disse
- Oi - meus olhos se encheram de lágrimas
- Oi meu amor, que saudade de escutar sua voz - ele chorava
- Também estava - foi só o que eu consegui dizer quando as lágrimas tomaram conta do meu rosto
- Vou voltar e vou buscar você pra ficar aqui comigo, você aceita? - ele soluçava de tanto chorar
- Aceito - eu chorava
- Eu te amo - ele disse
- Preciso desligar - eu disse
- Me perdoa por ter te deixado, por favor - ele pediu
- Fica com Deus. - eu desliguei
Antes de voltar pra sala, me recuperei, limpei meu rosto e respirei um pouco. Que saudade de escutar a voz dele, que saudade de escutar ele falando que me ama... Foi mais doloroso do que pensei que seria atender a um telefonema dele. Meu coração doía, parecia que eu tinha levado um soco nele, que até sentir ele latejar eu sentia.
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