Quinquagésimo sexto capítulo!

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A frase que ele me disse foi a certeza de que aquela noite maravilhosa tinha sido real. E também foi a frase que fez minha ficha cair, querendo ou não, esse dia ia acabar.
- Quando você volta? - eu perguntei, ainda estávamos deitados.
- Hoje, meu voo é as 18:00 - ele disse
Ficamos calados e abraçados por um tempo.A gente precisava aproveitar cada minuto desse dia, porque depois só Deus saberia o dia que a gente ia se encontrar de novo. Eu ainda tinha esperança dele falar que não iria voltar, que tudo isso tinha sido um pesadelo, que eu tinha acabado de acordar.
Tomamos um banho, e comemos uma fruta antes de ir pra minha casa. Minha madrasta já tinha ligado e chamado a gente pra almoçar lá..
Nem ônibus, nem moto, nem táxi. Pedro preferiu ir apé, ele disse que assim a gente não desperdiçaria nem um minuto do dia que a gente tinha pra ficar junto. Depois disso, não tocamos nesse assunto mais. Eu precisava esquecer que ele partiria hoje, pra conseguir aproveitar mais o dia.
No caminho, Pedro ligou pro Matheus e marcou de encontrar eles numa pracinha lá perto de casa, que eu tomava sorvete com a Ana as vezes.
Quando chegamos la em casa, o almoço já estava pronto. Meu pai tinha feito a comida preferida do Pedro: lasanha e macarrão. Ele se entupiu de tanto comer, e na mesa só se falava dele, da Espanha, do clube... Eu já tava de saco cheio desses assuntos quando Ana bateu interfone e disse que ela e o Matheus já estavam indo esperar a gente na pracinha. Não fizemos eles esperarem e descemos logo, eles ainda estavam na minha rua.
Foi lindo o jeito que o Pedro abraçou o Matheus e a Ana, deu pra ver que ele realmente sentia muita falta daqui.
Eu e Ana tomamos dois sorvetes cada uma, enquanto Pedro e Matheus matavam a saudade e conversavam sobre futebol e etc.
Eu senti um aperto no coração quando olhei no relógio e já era três horas da tarde.
Ana percebeu o que estava acontecendo.
- Amiga, calma...- ela disse
- Tô bem. - menti
- Uma hora ele vai ter que ir amiga - ela me abraçou
- Eu sei, ta chegando.. Foi tão rápido, voou amiga - eu disse
- Quem sabe da próxima vez, a gente não vai lá ver ele? - ela sorriu
- Tomara.. - eu tentei sorrir também.
- Amor - eu o chamei
- Oi amor - ele me olhou
- Tá, quase na hora. A gente tem que ir pra casa - eu tentei parecer normal
- Ah... Ok. - ele me olhou
Tentei desviar o olhar dele o mais rápido possível, me despedi de Ana e depois de Matheus. Pedro fez o mesmo, só que mais demorado. E ele falou algumas coisas no ouvido do Matheus, que concordou com a cabeça.
- Amo vocês! - ele disse
- A gente também meu parça! - Matheus sorriu
Fomos nos beijando o tempo todo no caminho pra minha casa. Era aquilo, a hora da despedida a cada beijo ficava mais perto, e só eu sabia o quanto meu coração já doía.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo muito amor! - ele sussurrou no meu ouvido
- Eu também amor, promete que você vai voltar. - eu disse
- Prometo. - ele disse.
Quando reparei, estávamos no meio da rua, nos beijando e nos abraçando. Fiz o possível e o impossível pra não deixar nenhuma lágrima cair, mas não consegui. Ele também não. Tentou até disfarçar, mas nosso coração foi mais forte que nossa mente. Com os olhos vermelhos, ele me olhou e prometeu voltar pra me buscar.
Era engraçado a gente andando. Muito devagar, literalmente um passo de cada vez. Tudo pra não desperdiçar nenhum minuto do nosso único dia... Que acabaria em algumas horas.
Quando chegamos lá em casa, meu pai e minha madrasta estavam no sofá.
- Pedro, já podemos ir para o aeroporto. - meu pai disse
- É... Eu sei. Já estou pronto, só preciso pegar minhas coisas na casa da minha mãe. - ele disse
- Tá bom meu filho, a gente vai passar lá antes. - ela disse
- Ok. - ele disse
Pedro pegou minha mão e fomos em direção ao meu quarto. Ele me abraçou, e por um longo minuto ficamos calados...
- Quando você vem de novo? - eu perguntei
- Não sei. Sinceramente, eu não sei amor. - a voz dele tava diferente
- E a gente? - eu perguntei, meus olhos se encheram de lágrimas
- Também não sei amor. Você não merece isso. - ele me olhou, com os olhos encharcados.
Nos abraçamos, e deixamos a emoção tomar conta da gente. Não sei por uanto tempo, pois fomos interrompidos pelo meu pai, que acabou vendo toda aquela cena.
- Vocês precisam resolver isso. - meu pai falou
- Vamos amor. - Pedro segurou minha mão
- Não, a Luiza não vai com a gente no aeroporto. - meu pai me olhou
- Porque? - eu e Pedro falamos juntos.
- Não vai ser bem pra ela. Vamos, vocês já se despediram. - meu pai disse
Pedro me olhou, tentou sorrir e falou: ''vou tentar te ligar''. E saiu.
Meu pai não tinha o direito de ter feito aquilo, ele não podia me proibir de ir junto com ele. Mas ele não deixou eu ir, não importou o quanto eu implorei e chorei pra ele me deixar ir, ele disse que nada adiantaria, eu não iria de jeito nenhum.
- Vai ser melhor pra você. Eu prometo. - ele fechou a porta.
Nunca vou me esquecer da expressão que o Pedro fez, da ultima vez que eu o vi. Ele chorava, e tinha uma cara de quem tava sentindo alguma dor física. Cheguei até a achar que meu pai tinha o machucado, mas era besteira. Eu sabia bem a dor que ele tava sentindo, era a mesma da minha.

Era só meu irmão...Onde histórias criam vida. Descubra agora