II

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Não é como se Giovanna nunca tivesse pensado no matrimônio. A questão não era essa. Como toda pessoa que acredita no amor, principalmente no amor que viu seus pais viverem, sempre sonhou em ter algo igual. Olhando para Alexandre do outro lado da mesa se perguntava como isso seria possível. Ele ria e conversava com a corte como se fosse dele, comia como se todos os alimentos fosse de sua terra, se esbaldava no vinho como se ele tivesse feito.

Ele estava tomando tudo que era seu. Ele seria o Rei de Ariccia e Ártemis.

— Está ansiosa? — ela ouviu a voz de Rodrigo ao seu lado.

O homem jantava muito em silêncio, esse parecia ser seu padrão, um tipo mais observador, que dava risadas muito pontuais e não estendia bem o assunto.

— Como assim?

— Com o casamento, com a mudança.

— Você deve imaginar que eu sou completamente contra essa união. Para você deve ser muito conveniente, não é?

— A única coisa que vou ganhar é mais trabalho e pouca diversão. — ele sorriu para ela.

— Pelo menos não vai perder sua terra e casar com alguém que não conhece.

Rodrigo olhou para Alexandre e percebeu que o amigo já os observava.

— Nero é um bom homem, Giovanna. Com isso não deve se preocupar.

— Por que ele quer casar, afinal? Ele já tem um herdeiro, ele já está estabelecido, o que ele quer de mim? — Rodrigo percebeu o desespero beirando em sua voz.

— Ele prometeu ao seu pai que te protegeria. Que protegeria o reino.

— Casando comigo.

— Eu consigo ver que seu chefe de exército estava ocupado demais admirando sua beleza para explicar como as coisas funcionam de verdade. — viu o olhar de Giovanna nublar. — Mas eu sou seu servo agora também, e posso realmente sentar com você e explicar cada peculiaridade de cada reino. E cada perigo também.

— Você está sendo muito bom comigo. — ela falou, levemente desconfiada.

— Pode se tranquilizar, minha bondade não vem com um preço. — Rodrigo olhou para o amigo, que tinha uma feição mais seria agora. — Eu só realmente acredito nessa união, vai ser boa para os dois.

Giovanna olhou na direção de Alexandre e se surpreendeu ao encontrá-lo já com os olhos sobre ela. Ficou vermelha, por irritação e por ter sido pega em flagrante. Nero gesticulou um brinde, e Giovanna retribuiu o gesto. Olhou para baixo, o tecido vermelho reluzente parecendo mais interessante do que tudo aquilo.

Quando ela percebeu os convidados ficando mais alterados pelo vinho, entendeu que era sua hora de fugir. Tomar um ar. A noite estava estrelada, as tochas iluminavam a grande varanda descoberta. Escutava a música abafada vindo do lado de dentro. Se apoiou no parapeito, observando a vila lá embaixo. Por um minuto pensou como seria ter nascido ali, no meio dos comuns, sem obrigações de nada, sem ninguém esperar nada dela.

— Então decidiu se vender para o Rei? — ela ouviu a voz grossa em seu ombro.

Seu corpo se afastou pelo susto. Deu um passo para o lado. Encontrou o olhar de Léo sobre ela, nervoso, e a feição dele claramente alterada. Ela deu mais um passo para trás.

— Não me vendi, obedeci um ordem da rainha.

— Não sustentou sua posição, como uma criança.

— Está me ofendendo. Sabe que eu não tinha escolha.

Léo rapidamente a segurou pelos braços, apertando com força, fincando seus dedos na pele clara. A balançou, assustando ainda mais.

Ouro de Ártemis Where stories live. Discover now