XXIX

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Giovanna acordou com o choro suave de Diana. Olhou para o lado e viu Alexandre sem camisa, em um sono profundo. Já estava escuro, muito provavelmente ela perdeu o jantar. Foi até o berço, pegou Diana e a acalmou antes de lhe mostrar o seio. A menina pegou o peito faminta, e Giovanna caminhou até a janela de seu quarto.

O palácio estava silencioso, escuro também, indicando que as pessoas já tinham ido dormir. Olhou para trás, vendo algumas velas acesas pelo quarto, o corpo do homem que amava esparramado na cama, alheio a tudo que se passava na cabeça dela.

Não fazia muito tempo que era ele a pessoa medrosa dessa relação, e agora ela se via no mesmo lugar que um dia julgou quando ele ocupava. O medo de tentar, o medo de perder. Ela sabia o que era viver sem ele. Sabia o que era chorar por ele noites e mais noites, não conseguir sair da cama, não conseguir comer.

E ela sabia o que era aceitar que nunca mais o veria na vida.

Pensava estar sendo injusta com ele. Sabia que o corpo do rei estava quebrado do cativeiro, que ele sofreu todos esses meses longe, que ele também perdeu muito, mas ele tinha uma certeza que ela nunca teve: o seu amor estava vivo em casa.

Olhou para a filha, via que ela já estava dormindo quase, por isso tocou sua bochecha para estimular que ela comesse mais um pouco. Quando a garotinha se deu por satisfeita, Giovanna a balançou um pouco mais antes de a deitar no berço e ir para a cama.

Deitou ao lado dele, analisando as marcas em seu corpo, as cicatrizes mais recentes e as mais antigas. O cabelo com corte ajeitado, a barba arrumada. Ele era o mesmo e ainda assim tão diferente.

Ela sentiu os olhos arderem, não havia nada que quisesse mais do que amar esse homem com todo seu ser, sua alma, seu corpo, sua divindade.

Não conseguia.

— Eu te amo. — ela sussurrou na escuridão como se cometesse um crime. — Te amo tanto que dói... céus, Nero, o que você me tornou?

Ele seguia dormindo profundo, a respiração calma, o peito subindo e descendo. Se cobriu ao lado dele, fechou os olhos e deixou a mente vagar pelos dias em que ela era a corajosa entre eles.

Nero acordou ouvindo o barulho pelo quarto. Giovanna saia da sala de banho, um vestido novo, uma tonalidade suave de azul e dourado. Tinha os cabelos penteados em uma trança, tinha ouro em sua pele. Ele se apoiou nos cotovelos ao vê-la se aproximar do berço.

— Bom dia, onde vai?

Giovanna o olhou surpresa, mas se aproximou dele. Deu um beijo em sua boca e desceu as mãos pelo braço nu.

— Comer alguma coisa antes de ir até a vila.

— O que precisa fazer lá? Por que não me acordou? — ele falou, se levantando da cama nu, andando pelo quarto.

Ela se distraiu um pouco por toda o físico delicioso de seu homem, mas tratou logo de voltar para a realidade.

— Precisa ver como está meu povo, se precisam de algo. — ela se aproximou dele de novo, o segurando nos braços, sendo forte em ignorar a nudez tentadora.

— Nosso povo. — ele falou com um sorriso de canto. — Por que não me chamou, Giovanna? Eu poderia ir com você...

— Você parecia tão cansado, também merece descansar, também esteve pelo inferno. — ela falou antes de se inclinar para beijar uma cicatriz o peito dele.

Nero olhou para baixo, acariciando os braços dela, mas sem entender essa atitude da esposa.

— Se me esperar...

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